A CBF anunciou na segunda-feira a adoção do Fair Play Financeiro no Brasileirão. A decisão foi aprovada por unanimidade pelos 20 clubes participantes e passa a valer já na edição de 2015, que começa no dia 9 de maio. O “passa a valer”, infelizmente, é só um modo de dizer. A CBF tenta passar a imagem de uma entidade séria, que exige um comportamento correto e profissional dos clubes que disputam suas competições. Na verdade, o Fair Play Financeiro, nos moldes em que foi anunciado, é uma arma inútil no combate ao gravíssimo problema dos salários atrasados. Não estou fazendo uma previsão pessimista sobre a eficácia da ideia. Trata-se de uma simples constatação. Uma legislação semelhante já está em vigor no Paulistão 2015, onde atletas e treinadores de pelo menos dois clubes (Portuguesa e Marília) estão competindo com salários atrasados. Outros devem estar na lista, inclusive o Santos. E alguns desses clubes foi punido pela nova lei? Claro que não. Um clube só perderá pontos por atraso de salários se a denúncia for feita por algum atleta. É muito difícil que isso aconteça porque o profissional que tomar essa atitude ficará queimado no mercado. Atrasar salários, não recolher o FGTS e não pagar impostos é uma prática comum no futebol brasileiro. O jogador que provocar a perda de pontos de um time será mal visto por todos os outros, ainda que esteja apenas lutando pelo mais básico de seus direitos. Não sou o único que pensa assim. O senador Romário disse com todas as letras que ninguém deve acreditar na boa vontade da CBF. Esse é um trecho de um post que ele postou nesta terça-feira em sua página no Facebook: “O que a CBF está fazendo não passa de um deboche. Há mais de um ano, debatemos no Congresso Nacional uma medida para resolver o endividamento dos clubes brasileiros. (...) A CBF sempre foi contra e trabalhou enquanto pôde, por debaixo dos panos, para que no texto da Câmara não constasse este item. (...) Mas o Governo está para enviar uma Medida Provisória para o Congresso Nacional sobre o assunto e o fair play financeiro já consta no texto da MP. Aí é que está o pulo do gato. Sem saída, a CBF dá sua cartada final para evitar que o texto vire lei. Ao se antecipar, eles podem alegar que já implementaram as medidas e por isso elas não precisariam ser aprovadas no Congresso.” É assim que as coisas fucionam na CBF. Uma medida que aparentemente é excelente e tem o poder de melhorar o futebol brasileiro não passa de uma manobra da cartolagem para deixar tudo como está.