MEMÓRIA

Movimento quer filho ilustre de volta a Campinas

Associação lança campanha para trazer restos de Campos Salles à cidade

Rogério Verzignasse
rogerio@rac.com.br
26/06/2013 às 10:22.
Atualizado em 25/04/2022 às 10:44

Uma associação de incentivo à cultura formada há um ano por representantes da sociedade civil lança nesta sexta-feira (28) uma campanha que pretende trazer para Campinas os restos mortais de Campos Salles. O objetivo é que os despojos sejam sepultados no monumento em homenagem ao ex-presidente, na avenida que leva seu nome, no Centro. A imponente obra de arte passaria a ser um monumento-túmulo, como o do maestro Carlos Gomes.

O projeto será oficialmente lançado no dia do centenário da morte do mais ilustre político campineiro, quando os associados viajam até São Paulo e visitam o mausoléu da família, no Cemitério da Consolação.

Quem teve a ideia do traslado foi o comerciante Giovanni Galvão, de 58 anos, presidente da Associação Reconvivência, criada para difundir a arte e cobrar do poder público investimentos em cultura. A ideia já ganhou a adesão de agentes culturais e empresários da cidade.

Mas a missão não será das mais fáceis. O Cemitério da Consolação, fundado em 1858 e mais antiga necrópole paulistana, tem um dos maiores acervos brasileiros de arte tumular. Lá foram sepultados restos mortais dos representantes da aristocracia cafeeira do século 19. E aquelas famílias contrataram artistas de renome internacional para a construção de túmulos requintados.

O de Campos Salles foi projetado pelo escultor Rodolfo Bernardelli.

As ambições do grupo campineiro poderão esbarrar nos interesses da administração do cemitério, que promove até visitação monitorada dos jazigos exuberantes, e dos conselhos paulistanos de preservação histórica. “Eu sei que este é um processo lento, pode durar anos.

Mas é perfeitamente possível. Tenho certeza que o próprio Campos Salles, se pudesse, teria optado pelo sepultamento em sua terra natal”, afirma Giovanni Galvão.

A vinda dos despojos à cidade, avalia o empresário, seria uma forma de Campinas prestar reverência, ainda que tardia, ao político mais importante da sua história. “Campos Salles fez muito mais por Campinas do que Campinas fez por ele. E a gente quer que a sociedade abrace esse movimento”, diz.

Degradação

O monumento de Campos Salles foi inaugurado em 1934. É uma obra grandiosa, de granito picotado, com a estátua do ex-presidente rodeado por imagens e alegorias em bronze que simbolizam a República. O autor foi o escultor Yolando Malozzi. Na inauguração, as esculturas ficavam no Largo do Rosário, mas elas deixaram a praça em 1950, quando a Prefeitura executava intervenções para o alargamento das avenidas centrais.

Na época, o monumento foi instalado nas imediações da estação ferroviária e, apesar de belíssimo, sempre sofreu agressões. Os vândalos arrancaram pedaços da obra e roubaram peças. Moradores de rua se espalham pela base. Há restos de comida e roupas, e o cheiro é insuportável. E o centenário da morte do ex-presidente é o momento ideal para que um grupo de arquitetos campineiros se ofereça para a recuperação do acervo.

Exposição

Uma rica exposição de documentos e objetos pessoais de Campos Salles foi especialmente montada para lembrar o centenário de morte do ex-presidente da República. O acervo, desconhecido da maior parte do público, foi todo doado ao longo de décadas ao Centro de Ciências Letras e Artes (CCLA), que se encarregou de fundar um museu em homenagem ao campineiro ilustre. Acontece que nunca houve espaço para todos os objetos.

E, hoje, para deleite de historiadores e estudantes, o material é resgatado de baús e prateleiras e se transforma em uma mostra inédita, que toma dois andares do centro cultural.

De acordo com Marino Ziggiatti, presidente do CCLA, o material resgatado reúne tanto o acervo doado em vida pelo ex-presidente como documentos raros conseguidos junto a descendentes. Há cartas escritas por czares, livros raros, quadros, bustos e importantes documentos do governo federal da época, como os que trataram da questão das fronteiras brasileiras.

“O campineiro tem a oportunidade de conhecer um material precioso, sobre um campineiro que contribuiu demais com a consolidação da República”, afirma Ziggiatti.

História

O campineiro Manuel Ferraz de Campos Salles nasceu em 15 de fevereiro de 1841. Governou São Paulo de 1896 a 1897 e foi o quarto presidente da República, de 1898 a 1902. Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo na turma de 1863, o advogado ingressou no antigo Partido Liberal logo depois da formatura. Dez anos depois, foi um dos fundadores do Partido Republicano Paulista (PRP). Liderança destacada, foi eleito deputado provincial e deputado geral pela legenda, mesmo durante o Império.

Com a proclamação da República, foi ministro da Justiça e teve uma atuação muito importante: instituiu o casamento civil, iniciou a elaboração de um Código Civil e reformulou o Código Criminal. Na presidência, sucedendo Prudente de Morais, o campineiro fez um governo desligado dos partidos políticos, com a escolha de técnicos para os ministérios.

Campos Salles também implementou a Política dos Estados, que afastou os militares da política e fortaleceu a República Velha (quando o interesse dos proprietários rurais influenciava todas as decisões do governo). No campo econômico, o presidente adotou uma agressiva política de saneamento, suspendendo a emissão de dinheiro. Fez cortes no orçamento federal, elevou impostos e criou novos. Uma política extremamente recessiva, que provocou protestos por todo o País.

O campineiro, no entanto, garantiu estabilidade política e conseguiu fazer o seu sucessor, Rodrigues Alves. O nome de Campos Salles chegou a ser lembrado pelos republicanos para a disputa presidencial em 1914, mas ele morreu um ano antes, vítima de mal súbito.

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