ATROPELAMENTOS

Mortes de pedestres aumentam com fones

Música desliga a pessoa do ambiente onde está, causando risco

Luciana Félix
luciana.felix@rac.com.br
20/04/2015 às 09:09.
Atualizado em 23/04/2022 às 16:12

De acordo com o estudo norte-americano mais recente publicado na revista especializada Injury Prevention, a quantidade de acidentes graves com pedestres que andam com fones de ouvido triplicou em seis anos ( Leandro Ferreira/ AAN)

A morte de uma jovem de 23 anos no distrito de Barão Geraldo, no começo deste mês, traz de volta o debate sobre os riscos de pedestres que caminham pela cidade usando fones de ouvido para ouvir música. A mulher foi atropelada quando atravessava uma das vias mais movimentadas do distrito, Avenida Santa Izabel, e usava fones de ouvido. Segundo relato do motorista que atropelou a jovem, ela entrou na via sem olhar para os lados. O número de acidentes graves com pedestres que andam com fones de ouvido é mais comum do que parece. Apesar de não haver uma estatística para medir os casos, outros acidentes do tipo já ocorreram em Campinas. Em dezembro de 2013, um adolescente de 17 anos morreu na Avenida Princesa d’Oeste, no Jardim Proença. O rapaz atravessou a faixa de pedestres quando o semáforo estava verde para os veículos. Testemunhas relataram que o garoto usava fones de ouvido e não ouviu o carro se aproximar. O acidente foi próximo à casa do garoto, que seguia a pé para a festa de um amigo. O motorista que atropelou o jovem não trafegava em alta velocidade e parou para prestar socorro à vítima.Mais recentemente, uma mulher de 26 anos foi atropelada por um ônibus na Avenida João Jorge, na Vila Industrial. Ela teve ferimentos nas costas. A mulher estava com fone de ouvido e desatenta ao semáforo. Segundo especialistas, os equipamentos (celulares, iPod, MP3) tiram a concentração, deixam o pedestre alheio à movimentação do trânsito e com isso o risco de um acidente aumenta. Estudo internacionalDe acordo com o estudo americano mais recente sobre o assunto, publicado na revista especializada Injury Prevention, a quantidade de acidentes graves com pedestres que andam com fones de ouvido triplicou em seis anos. As vítimas são principalmente adolescentes e jovens adultos. A maioria dos incidentes acontece em zonas urbanas e apenas um caso em cada dez ocorre em área rural. A idade média das vítimas é de 21 anos. Entre elas, um pouco mais da metade (55%) foi atingida por trens. Dois terços (68%) são do sexo masculino e 67% tinham menos de 30 anos. O estudo foi realizado nos EUA. Durante o período, 116 casos foram registrados no total. Das 116 colisões, 81 (70%) foram mortais. Em três quartos dos casos, testemunhas relataram que a vítima usava fones de ouvido no momento do acidente. Em 29% dos casos, fizeram menção de buzinas ou sirenes de alarmes acionadas antes do pedestre ser atingido. O estudo foi concluído em 2012. Para os pesquisadores, a distração do pedestre absorvido pela música, além da incapacidade de ouvir os sons exteriores, são provavelmente as origens dos acidentes. O estudo alerta que escutar música também reduz as fontes cerebrais que captam os estímulos externos, reduzindo a atenção visual a tal ponto que as pessoas ficam cegas ao que se passa no entorno. No Brasil, não há uma pesquisa do tipo, mas especialistas em segurança no trânsito afirmam que a proporção é similar a dos EUA. Um dos nossos melhores equipamentos é a audição. Funciona para nos manter em alerta e nos avisa do perigo ao redor. Uma pessoa que atravessa ou até mesmo dirige um veículo, precisa estar com boa audição para ouvir os ruídos do ambiente e evitar acidentes”, afirmou o especialista em segurança no trânsito, Jorge Lordello. Ele explicou que o pedestre que escuta música com fone entra na sintonia com a canção. “Ela desliga a pessoa do ambiente onde está. Isso é um grande causador de acidente, pois tira toda a atenção naquele momento”, enfatizou. Para o especialista é preciso que o pedestre mantenha em alto nível a atenção, do contrário não é possível reduzir os índices de atropelamentos. “O uso desses equipamentos reduz acentuadamente a percepção e retarda o tempo de resposta em caso de situação adversa”, enfatizou. Lordello também é especialista em segurança pública e citou os perigos de andar distraído na rua. “O equipamento mais roubado no Brasil hoje é o celular. Orientamos a andar com o celular escondido. A maioria das pessoas anda com fones ligados aos celulares, isso chama a atenção de bandidos”, alertou. A psicóloga comportamental Daniela Albuquerque afirmou que não há riscos apenas para quem caminha ouvindo música. “Há também aqueles, principalmente jovens, que andam e enviam mensagens de texto. Muitos atravessam a rua, e nem param para ver onde estão, é muito complicado”, afirmou. Entre os comportamentos observados nos pedestres que usam celulares e fones de ouvido enquanto caminham estão: não olhar para todos os sentidos antes de cruzar a via, não respeitar o semáforo, não se certificar de que todos os veículos motorizados estavam totalmente parados e, ainda, andar vagarosamente sem observar a aproximação dos veículos. “Não indico o uso de fones em nenhum volume porque tira a atenção. Assim como usar o celular quando está dirigindo, tira a atenção e distrai, e mensagem é pior ainda. A música altera seu estado”, finalizou Lordello.

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