A paisagem de uma localidade é muito mais que uma simples moldura para o ambiente urbano que se constrói em seu espaço. A vegetação exuberante é marca das características únicas de um lugar, fazendo parte do conjunto de recursos que precisam ser incorporados à vida da comunidade, com a harmonização dos benefícios naturais e a instalação de equipamentos urbanos.
Nesse processo de acomodação do ambiente com a expansão, obviamente existem as perdas que podem e devem ser minimizadas com uma gestão competente, planejada e consequente, de forma a incorporar os recursos de modernidade, desenvolvimento, e o que for possível manter de paisagem natural. Em determinados momentos, há que se fazer a escolha inevitável e é aí que se revela a verdadeira preocupação de manutenção do meio ambiente e de busca da qualidade de vida.
Recentemente, a necessidade de derrubada de duas figueiras centenárias suscitou manifestações de pesar e confrangimento, por representaram um marco histórico importante, e referência na vida de muitas pessoas. Uma das árvores, plantada às margens da Rodovia Jornalista Francisco Aguirre Proença (SP-101), e outra às margens da Rodovia D. Pedro I, no caminho para a PUC-Campinas. As duas deixarão de existir para dar lugar à expansão das estradas, conforme mostrou o Correio Popular na edição de ontem e na semana passada.
Se há um impasse, este é resultado de uma série de desacertos de décadas: a imprevisão de que o futuro exigiria mais espaços para os carros, a inadequação de plantio de espécies frondosas em ponto de trânsito, o desenho de ruas e acessos que atropelariam o ambiente. O ponto positivo é que, hoje, a legislação ambiental exige contrapartidas de plantio de árvores de forma compensatória, o que deverá ser feito em proporção razoável, ao menos para restabelecer um equilíbrio natural.
Há um grande sentimento de perda cada vez que se derruba uma árvore. Quando se trata de exemplares históricos, não há como não se sentir tocado. As grandes figueiras foram, durante anos, referência de localização, de pertencimento ao meio ambiente, de compartilhamento da rotina de milhares de pessoas. Romper esse vínculo é assunto sério, porém inexorável. O caminho para o desenvolvimento tem seu preço e, mais cedo ou mais tarde, parte da natureza deverá ceder espaço para acomodação das pessoas e suas novas atividades. Resta que isso aconteça com o mínimo prejuízo e com o maior senso de preservação possível.