JULIANNE CERASOLI

Mônaco, só que não

Julianne Cerasoli
23/05/2015 às 14:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:50

É uma prova importante de que a Fórmula 1 já não é mais a mesma: a gigante Red Bull Station, motorhome flutuante compartilhado pelas equipes Red Bull e Toro Rosso, se destaca sozinha no porto de Mônaco para o GP que deveria servir como uma espécie de anestesia para o momento conturbado que a categoria vive, com a diminuição da audiência e da venda de ingressos e as disputas internas de poder. Nas ruas nos primeiros dias de atividade da 6ª etapa do campeonato — excepcionalmente em Mônaco, tudo começa com as entrevistas e eventos da quarta-feira e com os treinos de quinta e festas da sexta — o movimento é cerca de três quartos menor. E dois dos mais imponentes iates que costumam atracar sequer apareceram, ainda que por motivos diferentes. O do ex-chefe da Renault, Flavio Briatore, chamado Force Blue, teve um problema de registro e está impedido de navegar pela polícia italiana, uma vez que o empresário estava utilizando uma documentação equivocada para a embarcação a fim de fugir de tributações mais altas. Outra ausência é do Indian Empress, do dono da Force India, Vijay Mallya, que passa por uma renovação em seu assoalho. A reforma até causou brincadeiras entre os mecânicos da equipe, que atravessa uma fase conturbada, com pouco investimento e o constante risco de encerrar as atividades. Dizem eles que, enquanto o magnata gasta com o barco, “o assoalho do carro continua a mesma porcaria.” Longe do porto esvaziado, a situação não é mais amistosa. Na entrevista coletiva dos chefes de equipe, os presentes foram perguntados sobre a reunião que estabeleceu diretrizes para as mudanças que devem acontecer nas regras de 2017 — a maioria delas voltadas a aumentar a velocidade dos carros, com alterações na parte aerodinâmica e o retorno do reabastecimento. Christian Horner, da Red Bull, e Toto Wolff, da Mercedes, comemoravam o fato do encontro ter sido produtivo, quando foram interrompidos pelo chefe da Force India, Bob Fernley, que disse que deve “ter ido a outra reunião, pois as questões principais ficaram de fora.” Há uma clara cisão entre as equipes grandes e as médias. Os mais poderosos tentam fazer mudanças periféricas para evitar o cerne da questão: a distribuição do dinheiro. “São três grandes fatores que têm de caminhar juntos: muitas pessoas não estão contentes com o show, há a questão técnica e a distribuição. Tudo isso tem de ser discutido de maneira global”, defende outra ‘rebelde’, Monisha Kalterborn, da Sauber. Essa está longe de ser uma questão recente. Quando me sentei para entrevistar a dirigente, lembrei que ela tinha sido minha primeira entrevistada na F1, em 2011. “Então você vê que a situação não mudou muito desde então”, ponderou a indiana.Contudo, há quatro anos, pelo menos Mônaco ainda servia como a tal anestesia para os problemas da principal categoria de automobilismo, dando a sensação que nada poderia tirar o glamour e a importância da F1. Mas, hoje, o grito de mudança vem até de algumas das ruas mais charmosas do mundo.

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