SAÚDE

Mitos e verdades sobre o combate à Dengue

Criador do Plano Municipal de Combate à Dengue, em Piracicaba, diz o que funciona e o que é lenda

Marcelo Rocha
marcelo.rocha@gazetadepiracicaba
08/06/2015 às 12:25.
Atualizado em 23/04/2022 às 11:25
Vacina contra dengue exige longa pesquisa (  Cedoc/RAC)

Vacina contra dengue exige longa pesquisa ( Cedoc/RAC)

Durante muitos anos, o piracicabano André Rossetto, 40 anos, foi o “xerife” contra a dengue a serviço da Secretaria de Saúde. Entre 2007 e 2014, este tecnólogo em saneamento ambiental e bacharel em direito coordenou a equipe de funcionários públicos que saía a campo para travar a batalha contra o Aedes aegypti nos bairros da cidade, em fiscalizações, arrastões e outras ações. Nesta semana, ele concedeu entrevista à Gazeta de Piracicaba para listar verdades e esclarecer alguns mitos sobre a doença, que já se tornou epidêmica em muitos municípios. O pacote de medidas para evitar a dengue, frisa Rossetto, é extenso. Mas, basicamente, o cidadão deve se atentar a uma série de ações que precisam ser praticadas sistematicamente, no dia a dia, salienta o especialista, que articulou a criação do Plano Municipal de Combate à Dengue (PMCD). “Piracicaba não possuía um plano contra o Aedes. Então, vim e escrevi um plano que virou o PMCD”, declara Rossetto, que antes (entre 2000 e 2007) havia trabalhado como técnico da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen). A primeira e clássica orientação: “Evitar, em casa, o acúmulo de materiais (garrafas, peneus e outros recipientes) que possam acumular água é o básico do básico. Se você esperar acumular água para depois jogá-la fora, você já ‘dançou’. Então, elimine-os ou guarde-os em sacos bem fechados, em lugar seco e coberto”, recomenda. A segunda dica de Rossetto é realizar um check-up na residência. Ele sugere que as pessoas dediquem, no mínimo, 15 minutos da sua semana para “fazer uma limpeza, uma varredura na casa, para identificar possíveis criadouros, tanto no chão quanto no teto, observando inclusive ralos”. “No caso dos ralos, basta colocar uma colher de sopa de água sanitária (cândida) no local. Isso é o suficiente. Se for jogar o cloro, que é muito mais concentrado, aí são algumas gotas”, aconselha Rossetto, que hoje trabalha na empresa de controle de pragas que é responsável pelo combate à dengue na cidade, a Helpinsect.PLANTASPara as pessoas que mantêm plantas em suas casas, o cuidado deve ser redobrado, diz Rossetto, no sentido de evitar o risco nos chamados “recipientes naturais”. A esse risco natural, frisa Rossetto, juntam-se ainda orientações “incorretas ou pela metade”. A principal delas envolve a polêmica do pratinho de vasos. Rossetto é categórico ao afirmar que apenas depositar areia no prato não elimina o risco de mosquitos procriarem no recipiente. “A areia não necessariamente veda o espaço entre o prato e o vaso, o que evitaria a criação. Além do mais, quando a pessoa rega a planta, o nível da areia abaixa ou ela é jogada para fora com a água”, comenta. “O pratinho é um problema. O ideal é tê-lo justaposto (ao vaso), mas o Inmetro não normatizou isso até hoje. Se você tem o prato justo ao vaso, não há espaço para o mosquito entrar lá e ovipor (depositar ovos). Esse seria o ideal”, acrescenta Rossette, que desaconselha o prato. Se a planta estiver no chão e a intenção é não sujar o piso, Rossetto sugere a substituição do prato por um pedaço de madeira ou um jornal dobrado. “Mas para quem não abre mão do prato, e principalmente aqueles que ficam pendurados com samambaias e avencas, uma solução é furá-los, porque aí eles não acumularão a água. Outra solução é preencher o espaço entre o vaso e o prato com espuma de colchão, que será uma vedação eficiente. A água vai ficar absorvida somente na espuma e será impossível a larva se proliferar ali”, explica. Para as plantas mantidas em água, existe um tipo de gel (“uma solução simples e decorativa”, diz) que é eficaz no combate à dengue. “Esse gel para planta substitui a água. No gel, é impossível o mosquito se proliferar. É como uma gelatina, um pozinho que vira gel ao ser hidratado”, compara. Para quem cria bromélias, a recomendação é misturar nove partes de água com uma de vinagre e borrifar a planta. “Essa solução de vinagre a 10% é bem eficaz, porque o ácido acético é letal para a larva em algumas horas. E por causa do cheiro, também repele o mosquito adulto, ou seja, ele não vai ovipor”, afirma. “Fora isso, as bromélias, que formam verdadeiros baldes de água entre suas folhas, precisam ser lavadas constantemente, para renovar a água que pode estar cheia de larvas”. Folhas de bananeira também oferecem risco, porque armazenam bastante água. Neste caso, a recomendação é podar as folhas mais baixas. “E as folhas de coqueiros imperiais também são recipientes naturais, porque quando caem formam uma concha, e ali a gente também sempre encontra larvas”, avisa.MITOSEntre as lendas que envolvem a dengue e seu transmissor, uma delas é a de que o Aedes aegypti só realiza voos baixos, de cerca de 1,5 metro. “Ele consegue ovipor numa caixa d´água ou numa calha, então isso já cai por terra”, diz Rossetto. Porém, destaca o especialista, o mosquito da dengue é norteado pela lei do mínimo esforço.”Se ele não precisar voar mais alto, ele vai voar o mínimo. Mas se ele não encontrar criadouro no pavimento térreo, ela vai procurar outro nas alturas”, observa. “A história da borra de café no pratinho também não funciona, é outra lenda. Você pode entupir com borra que não resolve”, declara Rossetto. O inverno registrado nas regiões Sudeste e Centro-Oeste não oferece temperaturas capazes de matar o mosquito, apenas reduz o metabolismo do Aedes, salienta Rossetto. Segundo ele, o mosquito sobrevive com temperaturas entre 10 e 42 graus. “Então, o que acontece no inverno é que o mosquito se desloca menos porque ele tem que guardar energia. O nosso inverno é seco, não chove muito. E sendo a chuva mais escassa, diminui a oferta de água dos criadouros e, assim, os ovos eclodem menos”, fala. A informação de que o mosquito Aedes só pica durante o dia também não procede, diz Rossetto. “É um mito também. O que acontece é que o pernilongo, que tem hábito intradomiciliar, preferencialmente faz a investidura durante o dia, principalmente durante a manhã e o crepúsculo. Mas ele pica a qualquer hora”, afirma. À população, Rossetto sugere a leitura do estudo “Estratégias Inócuas, Estrambólicas ou Inseguras Para o Controle do Vetor da Dengue”, assinado por Carlos Fernando Andrade e Isaías Cabrini (pesquisadores da Unicamp) que desmistifica tecnologias ou métodos considerados “mágicos”. Por exemplo, o estudo define os repelentes eletrônicos como sendo “farsas”, trata a ideia da borra de café como “de péssima lógica” e informa que a mistura de “limão com cravo-da-índia não serve como repelente de Aedes aegypti”. DADOS Cidade tem 2.022 casos registradosDe acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, até o dia 30 de maio foram confirmados 2.022 casos de dengue em Piracicaba, com6.644 notificações de casos suspeitos. A pasta ainda informa que “o município investiga três mortes suspeitas pela doença”.Das 6.644 notificações, 4.491 (67,6%) foram registradas nas quatros Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) do município: 1.707 (Piracicamirim), 856 (Vila Cristina), 1.091 (Vila Rezende) e 837 (Vila Sônia).Em nota, a Secretaria de Saúde informou, ontem, que as equipes de combate à dengue do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) recolheram 75,6 toneladas de materiais inservíveis em nove arrastões, realizados a partir do dia 9 de maio. Hoje acontece outro arrastão, dessa vez no bairro Santa Teresinha.   

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