JOAQUIM MOTTA

Mito do sexo selvagem

20/09/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 03:00

Os temas sexuais estão mais livres, são comentados com abertura, abundantes na mídia, no contexto da realidade e no mundo virtual. Nos meios tradicionais de comunicação, o sexo é referido com insistência, quase um excesso. Na internet, o acesso a material pornográfico já tangencia o exagero. Nas redes sociais, comentários e imagens são rotineiros.Essa abertura e toda essa quantidade nem sempre qualificam a teoria e a prática da sexualidade humana. A quantidade se expande mas a qualidade não é proporcional. Aliás, a banalidade tem sido mais privilegiada do que a valorização.O frenesi na busca pelo prazer não o favorece. Sem pressa e sem variar de parceiros, é possível uma liberdade sexual que intensifica vigorosamente a satisfação, sem essa expectativa frenética.Um dos equívocos contemporâneos mais comuns, nessa demanda exagerada e precipitada pelo prazer, é o que se tem sugerido como “sexo selvagem”.Se formos levar a sério a expressão, equivaleria a dizer que os parceiros humanos se comportariam como animais, recuados na escala evolutiva. Seria uma involução muito triste e limitante: seguir a natureza reprodutiva, atender ao impulso sexual como um bicho no cio, guiado por hormônios, odores e necessidade rápida de fecundação.Uma relação sexual bem selvagem seria absolutamente biológica, instintivamente muito rápida, sem nenhuma graça ou charme, impensada, irracional e multiplamente inconsequente, ou seja, não estende nem promove o prazer, não se usam as prevenções e nem se leva em conta a possibilidade da gravidez.Ideias e imagens que marcam o sexo selvagem parecem indicar que o erotismo cresce à medida que os parceiros se entregam à volúpia da carne, como indivíduos rudes e primitivos que arregaçam resistências e rompem censuras.Na produção pornográfica, ocorre uma montagem semelhante.Os parceiros quase não se beijam na boca, não trocam carícias fora dos genitais, expõem-se direta e rapidamente com extrema facilidade.As roupas das mulheres quase não as vestem. Elas exibem os genitais sem restrições e os homens fazem um papel de embrutecidos, frequentemente dando-lhes tapas nas nádegas e frequentemente as tratando com desdém e truculência.O esforço para que o sexo seja realmente explícito faz com que o casal fique mais nas poses de exposição do que curtindo a excitação. Para que o homem penetre na mulher de modo nítido, ele precisa ajudá-la a afastar as coxas como em um passo atlético de balé.Em geral o contexto sugere que se trata de um sexo consensual. Mesmo com este excessivo direcionamento e concentração nos genitais, felizmente há cuidados à hora da penetração. O ator penetra com suavidade, tanto vaginal quanto anal. A atriz quer sugerir que tudo é delicioso e extremamente excitante. O trabalho é dramatizado, os movimentos de vaivem são exagerados, tudo comprometido com a necessidade de explicitação.A suposta aceleração erótica do sexo selvagem cria mais uma aflição do que uma atuação que superasse a censura.A mulher se despir rapidamente, rasgar a camisa do homem, procurar avidamente pelo genital dele, indica uma valorização estapafúrdia do pênis, quase um desprezo pelo resto do corpo.A ansiedade em chegar logo na penetração e bombar intensamente lembra mais um estupro do que um intercurso de grande força erótica.A selvageria no ato sexual é lamentável, descabida e limitadora do prazer. Quanto mais delicados, lentos, pouco concentrados nos genitais e mais participativos com o corpo todo, mais e melhor fruirão os parceiros.O sexo selvagem parece mesmo conduta sexual dos animais: seguir o instinto simplesmente para reproduzir. Não pode nem deve ser sugerido como oportunidade de conteúdo erótico diferenciado.Quero lembrar ao leitor do nosso Grupo de Estudos do Amor (GEA). No site www.blove.med.br, clique GEA. Ou procure em http://www.anggulo.com.br/gea/eventos.asp. Inscreva-se para participar dos eventos e programações.

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