PAPA FRANCISCO

Misericórdia

O Papa Francisco convocou toda Igreja por meio da Bula Misericordiae vultus (o rosto da misericórdia) para que celebremos o ano de 2016 como o Ano Santo da Misericórdia

Canal da Arquidiocese
29/08/2016 às 21:10.
Atualizado em 22/04/2022 às 22:41

O Papa Francisco convocou toda Igreja por meio da Bula Misericordiae vultus (o rosto da misericórdia) para que celebremos o ano de 2016 como o Ano Santo da Misericórdia. Tem como finalidade que todos apliquemos, sejamos reflexos e vivamos a misericórdia enquanto virtude humana também. Francisco relata na citada bula a centralidade da misericórdia como a mensagem mais importante de Jesus, pois Ele é o rosto da misericórdia do Pai. Mas misericórdia por vezes é confundida a outros sentimentos como pena ou dó. Agostinho em seu livro A Cidade de Deus, diz que misericórdia é a compaixão que nosso coração experimenta pela miséria alheia que nos leva a socorrê-la, se o pudermos. No Antigo Testamento o Judaismo se refere à Misericórdia como hesed: significa o sentimento que se tem ante o infortúnio que aflige outrem e a consequente ação que brota de tal experiência. Reforçando essa imagem bastante concreta originária do Primeiro Testamento, o Segundo, marcado pela influência grega, exprime misericórdia como sentimento que remete literalmente às vísceras; recorda o amor entranhado da mãe pelo filho, o que popular e metaforicamente se diz hoje de um amor visceral. Ou seja, nas origens, misericórdia é amor que remexe o mais profundo das pessoas que o sentem, de modo que não há outra saída senão fazer o bem por aquele que me a faz experimentar. Considerando apenas os Evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas a ocorrência da palavra acontece 12 vezes. 4 vezes em Marcos, 5 ocasiões em Mateus e 3 em Lucas. Para exemplificar a densidade do que é misericórdia e consequentemente do perdão nos Evangelhos, Mateus conta-nos a parábola de um patrão que acerta contas com seus empregados. O episódio (Mt 18,21-34) se desenvolve em três cenas, as vejamos. Na primeira situação temos um funcionário incapaz de pagar a dívida de 10.000 talentos. O patrão então como forma de saldar o débito, sugere que sejam vendidos a mulher, os filhos e todos os seus bens como forma de liquidar o devido. Para entendermos a quantia do que precisava ser saldado, os estudiosos nos dizem que cada talento equivalia à quantia de 36 kilos de prata. Ou seja, 360.000 kilos de prata é a forma alegórica que o autor sagrado encontra em sua época para dizer a seus interlocutores que nossas dívidas, ou situações de pecado, são humanamente impagáveis, senão por meio da misericórdia divina. É o que acontece diante do pedido de clemência do operário: o patrão, compadecido, perdoou-lhe toda dívida. Na segunda cena esse mesmo empregado, se encontra com um companheiro que lhe devia 100 denários, ou a quantia de 12 gramas de prata ou a 1 dia de trabalho. Porém, o funcionário se recusa a agir da mesma forma desproporcional como seu patrão, mas manda seu colega à prisão até que pagasse toda dívida. O empregado não conseguiu perdoar o colega numa quantia insignificante, depois de ter experimentado o perdão de uma quantia incomensurável. Portanto, a provocação feita pelo autor sagrado por meio deste segundo caso é de que todos nós (funcionários individados), a partir da experiência do perdão, dado de modo gratuito, incalcuvável e incondicional por Deus (o patrão), deveríamos também sermos capazes de nos converter a mesma lógica para com nossos irmãos e irmãs (colegas de trabalho). O patrão perdoa sempre porque faz parte da Sua essência que é pura gratuidade, Graça. Não foi, não é e nunca será por mérito do funcionário. Mas por pura Graça, sem que haja nada que o obrigue a isto. Na entrevista ao jornalista Andrea Tornelli, o Papa Francisco pensa a “Igreja como instrumento de Salvação não para condenar, mas para promover o encontro com aquele amor visceral que é a misericórdia de Deus. Para que isso aconteça, é necessário sair. Sair das igrejas e das paróquias, sair e ir à procura das pessoas onde elas se encontram, onde sofrem, onde esperam”.

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