Ele é mesmo um fenômeno. Para cada pessoa que o odeia, mil e trocentas o idolatram e o amam de paixão. Por ano, são consumidos mais de 95 bilhões de pacotinhos em todo o mundo, e ele é o carro-chefe do que se convencionou chamar de comida de emergência ou cozinha portátil.
No Japão, é unanimidade. Tanto é que ficou no topo do ranking em uma pesquisa do Instituto Mizuho, no ano 2000, cujo objetivo era apontar qual a mais importante invenção do século 20, desbancando até o karaokê e o walkman. Com vocês, o macarrão instantâneo, que se popularizou também no Brasil onde, genericamente, é conhecido como miojo.
Fácil e prático, ele dispensa apresentação, bula, tempo e qualquer habilidade ou destreza na cozinha. É a salvação de muitos solteirões e dos que chegam famintos depois de uma balada. É a solução mágica para mães com filhos birrentos frente a um prato de legumes e cereais e para uma renca de adolescentes que embarca com a galera para uma temporada de férias na praia. E, pior, é que o danado é gostoso, tem um saborzinho que até convence.
Ou estou errado? Gostem dele ou não, exceção feita ao alto teor de sódio, vergonha que compartilha com a maioria dos produtos industrializados no Brasil, é, sem dúvida, uma grande criação da cozinha moderna.
A indústria alimentícia trabalha de olho nas necessidades do homem urbano. E não é ela que deve ser condenada pelos hábitos modernos desse homem, mas ele próprio, que põe em risco sua saúde e sua integridade ao alimentar-se de maneira precária. A função primeira da tecnologia, incluindo aí a área de alimentação, é inovar e facilitar a vida das pessoas.
Bem, o macarrão instantâneo como o conhecemos hoje tem lá sua história. É originário do ramen, um macarrão chinês muito longo feito de farinha de trigo e ovos. Quando cozido em caldo de carnes e legumes, obtém-se o lámen, um dos mais populares pratos da gastronomia japonesa. Acredita-se que chegou ao Japão no século 17, mas, por levar farinha de trigo, era comida para poucos.
No século 19, era servido apenas em alguns restaurantes luxuosos de Tóquio a preços altíssimos. Somente no início do século passado, com o advento da industrialização e a chegada de alguns chefs chineses é que foi dada luz verde para sua popularização, passando a ser vendido nas ruas em barracas e carrinhos de ambulantes, tradição ainda preservada na terra do sol nascente.
Nos primeiros anos do pós-guerra, observando as longas filas que se formavam nas ruas para se conseguir uma tigela de lámen, o taiwanês naturalizado japonês Momofuko Ando deu início a experiências em sua tímida fábrica de massas artesanais, que, mais tarde, se tornaria a Nissin. Em 25 de agosto de 1958, ele lançou o chicken lámen, o macarrão que em apenas três minutos ficava pronto para ser consumido. Em poucos meses, a produção saltou de 300 para 6 mil porções diárias.
Diferentemente de outros tipos de macarrão, cuja origem se turva entre as névoas dos séculos, o instantâneo tem nome e sobrenome, alguém responsável por sua criação, pela invenção. Agora, preconceitos ou elogios à parte, vamos pra cozinha trabalhar!
MIOJO THAI
INGREDIENTES
(para 1 pessoa)
1 pacote de macarrão instantâneo + o sachê de tempero
2 talos de cebolinha verde picadinha (a parte branca e um tiquinho da verde)
1 couve chinesa (pak choi), com talos e folhas, lavada e cortada em quatro
3 colheres (sopa) de óleo vegetal (milho, girassol ou canola)
1 dente de alho picadinho
2 shiitakes frescos, em tiras e com os talos
1 colher (sopa) de pimentão vermelho em cubinhos
½ cebola pequena em cubos
150g de alcatra ou filé-mignon em tirinhas
2 colheres (sopa) molho de ostra
2 colheres (sopa) de shoyu
1 sachê de caldo de legumes em pó
Pimenta-do-reino e pimenta-vermelha a gosto
FAÇO ASSIM
Coloco o macarrão em uma vasilha de louça, cubro, generosamente, com água fervente e reservo. Numa wok ou frigideira similar, em fogo médio, aqueço bem o óleo e salteio por um minuto o alho e a cebola. Aumento o fogo, junto a carne e salteio por mais três minutos, mexendo insistentemente pra lá e pra cá. Acrescento a couve chinesa, os shiitakes, o pimentão, a cebolinha e salteio tudo, vez ou outra, durante três ou quatro minutos. Agrego o molho de ostras e o shoyu, mexo e remexo.
Dissolvo o caldo de legumes e o sachê de tempero do miojo em 2/3 de xícara (chá) de água fervente e junto à frigideira. Espero levantar fervura, coloco o macarrão que estava reservado, mexo e remexo tudo novamente, dou-lhe algumas lascas de pimenta-vermelha e um tico de pimenta-do-reino. Três minutos depois, o prato estará pronto para ser levado à mesa.
Veja só: O macarrão instantâneo cozinha rápido porque é pré-cozido. Na fabricação, a massa é cozida e logo depois passa por um rápido processo de fritura e secagem. É a fritura que a deixa mais calórica (uma porção chega a ter 100 calorias a mais do que uma porção de macarrão comum). Outro inconveniente é a alta concentração de sódio e o enriquecimento com vitaminas para tornar o visual mais atraente, o que pode ferir suas características nutricionais. Mal não faz desde que não façamos dele nossas refeições diárias. A dica é consumir com moderação e em receitas balanceadas, como esta de hoje. Então, xô preguiça: o macarrão instantâneo aceita uma infinidade de legumes, verduras, cogumelos, raízes e carnes... E isso acrescenta apenas alguns minutos a mais à sua elaboração.
Tem mais: A Nissin lançou o primeiro macarrão instantâneo no Brasil em 1965. Só em 1970 ele chegaria aos Estados Unidos com o nome de Oodles of Noodles. Um ano depois, ganhou o nome definitivo de Cup Noodles. Os caldos mais populares do lámen são à base de galinha e de porco e, muitas vezes, são preparados a partir dos ossos desses animais. Algumas marcas têm como estratégia oferecer sabores regionais, como galinha caipira e costela de boi, destaques no Sudeste, além de versões típicas do Nordeste que estão em teste. Pelo jeito, acho que vem por aí lámen sabor carne-seca, baião de dois, escondidinho e, quem sabe, de buchada de bode.