ig-tadeu-fernandes (AAN)
Desde que Pedro Henrique entrou na adolescência Vovó Naná anda incomodada com o comportamento dele: - Doutor, ele anda muito quietinho, fica só no quarto, não quer mais sair com a família para jantar, só quer saber do Facebook e dos amigos... E vovó continuou com seu desabafo: - Doutor, outro dia peguei no bolso da calça, que ele colocou para lavar, uma cartinha de amor, eu acho que o Pedrinho está apaixonado... E outro dia notei um cheiro diferente na cueca dele, uma "sujeirinha" estranha... E tem mais, ele está com umas coceiras pelo corpo, principalmente nas dobras dos cotovelos e joelhos, pioravam depois do banho, e logo a vovó levantou a hipótese do Pedrinho estar com "sarna" ou "impinge". Ele não para de se coçar, e a noite nem consegue dormir de tanta coceira? Esse quadro dermatológico, extremamente incômodo para o paciente e para a família, pode exacerbar na adolescência, principalmente em situações de estresse, é a principal manifestação da dermatite atópica. A doença inicia com um ressecamento da pele, entremeado por áreas avermelhadas e extremamente irritadiças. Após a coceira logo aparecem as escoriações, provocadas pelo ato de coçar, depois pápulas e pequenas bolhas de onde purga um líquido amarelado. As regiões mais acometidas são: faces do rosto e a fronte, o pescoço e as dobras, principalmente dos cotovelos e atrás dos joelhos. A dermatite atópica é uma doença alérgica, que pode ocorrer isoladamente ou em concomitância com outros quadros alérgicos como asma e rinite. O Pedrinho quando criança sofreu muito com sua rinite e as crises de "bronquite". O componente hereditário dessa doença já está estabelecido, mas recentes pesquisas mostram que a dermatite atópica está fortemente ligada ao estado psicoemocional do paciente. Os pesquisadores sugerem que um estado de estresse atue sobre fatores genéticos predisponentes, "acordando" a doença que estava hibernando no paciente. Um recente estudo analisou crianças com dermatite atópica que foram submetidas a situações de tensão e ansiedade, posteriormente avaliadas segundo os níveis do hormônio do estresse, o cortisol. Em todas as crianças desse grupo os níveis do hormônio do "stress" estavam elevados, contrastando com o grupo controle que também tinha pacientes com dermatite atópica, mas não foram submetidas ao estresse. O paciente com dermatite atópica adquire certos traços de personalidade decorrentes do incômodo constante causado pela inflamação da pele e pela coceira intensa. Ele é descrito como irritável, exigente e infeliz; precisa muito mais de carícias do que a média das crianças. Visto isso, o tratamento da dermatite atópica passa por uma rigorosa análise da situação psicoemocional do paciente, terapia se faz necessária associada aos cuidados intensivos com a hidratação da pele. Recomenda-se evitar sabonetes agressivos, buchas e banhos quentes. Se tomar mais de um banho por dia, o sabonete deve ser usado em apenas um deles. Logo após o banho, com a pele ainda úmida, devem-se usar hidratantes para evitar o ressecamento. Controlar a alimentação também faz parte do tratamento, um estudo realizado no Japão mostrou que alguns alimentos são mais agressivos à dermatite atópica, os principais são: chocolate, queijo, café, iogurtes e todos aqueles que levam corantes. A pele é o maior órgão do corpo humano, e em muitos casos ela é a vitrine do estado emocional do paciente, cuidado com sua pele, ela pode denunciar seu estado de espírito. E o Pedrinho? Certamente vai sair bem dessa, a adolescência é uma difícil fase de transição, mas aguarde, logo, logo, ele vai estar sorrindo e brincando com a vovó.