TADEU FERNANDES

Mil dias de vida

Tadeu Fernandes
25/03/2013 às 08:37.
Atualizado em 25/04/2022 às 23:20

Acabo de chegar do 13º Congresso da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Foi um grande evento científico, mais de 3 mil pediatras participantes, quase cem palestras, mesas redondas, colóquios, enfim, um banho de informações e atualizações.O lema do congresso já mostra a importância do evento — Pediatra: especialista insubstituível para a infância e adolescência. Vários encontros mostraram que a presença do pediatra na vida da criança desde a gestação é fundamental e insubstituível.Prova disso, foram várias palestras mostrando a importância dos primeiros mil dias de vida da criança. Pesquisas mostraram que a gravidez e os primeiros dois anos de uma criança são fundamentais para determinar a saúde física e mental de toda vida.De invisíveis, as duas células que formaram o embrião vão se multiplicar até chegar a aproximadamente 13 quilos depois de mil dias de vida. E esse período não concentra apenas o maior estirão de crescimento do ser humano. São os anos fundamentais para a prevenção de doenças e para o desenvolvimento dos sistemas nervoso e imunológico.Sabe-se, por exemplo, que a alimentação da mãe durante a gestação ajuda a determinar o paladar e o olfato do bebê. Ele sente o sabor pelo líquido amniótico, e agora está bem documentada a evidência que filhos de mães que tiveram diabetes gestacional também têm mais chances de desenvolver a doença.Um dos primeiros médicos a estudar a relação entre a qualidade de vida do bebê, desde a concepção, e uma vida adulta saudável, foi o epidemiologista britânico David Barker, professor de cardiologia da Universidade de Southampton (Reino Unido).Foi ele quem levantou a hipótese que crianças que tiveram baixo peso ao nascer (menos de 2,5 kg) está mais vulnerável a desenvolver algumas doenças crônicas na fase adulta, como hipertensão arterial e diabetes.A explicação é um pouco complicada, mas vou tentar detalhar ao leitor: as células de um bebê baixo peso tem uma “memória” que manda sinais de economia de energia, elas precisam poupar ou armazenar energia, principalmente na forma de gorduras. Se esse bebê foi hiperalimentado, ele terá um crescimento rápido, mas muitas vezes essa ansiosa expectativa de pais e pediatras de igualar o peso do prematuro ou bebê baixo peso à criança que nasceu no tempo certo pode ser um revés.Após o nascimento, os primeiros dois anos de vida são os mais significativos para o desenvolvimento do cérebro. Metade do crescimento cerebral da vida inteira ocorre nesse período, atingindo 75% da formação cerebral aos cinco anos de idade.O bebê nasce com o cérebro desenvolvido na área sensorial (olfato, tato e audição), mas nesse período passa pelas maiores modificações cognitivas, adquire as habilidades motoras mais amplas (como o andar) e mais finas (como conseguir pegar pequenos objetos).Vale a dica: nos dois primeiros anos de vida seu filho precisa de estímulos, não facilite a vida dele (andador, por exemplo), não o deixe trancado dentro de casa, assistindo TV ou vendo filminhos da Galinha Pintadinha. Ele precisa de estímulos diretos, com pessoas e o meio ambiente. Infelizmente o espaço é pequeno para tantas novidades, mas na próxima semana conto mais.

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