COMPORTAMENTO

Treinadora de aves pratica e ensina voo livre para proporcionar qualidade de vida aos animais

Silvia Corbucci dá uma aula de cumplicidade nos céus e cuidados com os animais que precisam de liberdade

Aline Guevara
27/06/2023 às 14:12.
Atualizado em 27/06/2023 às 14:12
A treinadora de aves Silvia Corbucci pratica e ensina voo livre com o objetivo de proporcionar bem-estar e qualidade de vida aos animais (Divulgação)

A treinadora de aves Silvia Corbucci pratica e ensina voo livre com o objetivo de proporcionar bem-estar e qualidade de vida aos animais (Divulgação)

É sobre bem-estar, ter e proporcionar”. Essa é a filosofia de vida da treinadora de aves Silvia Corlucci. Difícil não ficar impressionado com os vídeos e fotos que ela posta em suas redes sociais. Além de evidenciar momentos de cumplicidade e ternura com eles, adepta do voo livre com seus animais, ela os treina para que possam usufruir de seus voos em liberdade. “Mas como eles não vão embora?”, é a pergunta comum que ela recebe. “Porque foram treinadas a voar com segurança e também porque temos um vínculo de afeto profundo”, responde. A arara-canindé Sara, de três anos, voa pelos céus, dá voltas e depois retorna para os braços de Silvia, moradora de Barão Geraldo, mas que está de mudança para um sítio em Itu. 

A ave está aprendendo agora a voar junto com Silvia, que a acompanha saltando de parapente. O desafio não é simples e não é para qualquer um. “É um esporte de alta performance para o ser humano, e o animal precisa desenvolver habilidades a partir de desafios. O vínculo com o dono é um dos pilares desse treinamento”. Sara - assim como outros Psittaciformes (que inclui papagaios, periquitos, calopsitas), os pássaros com os quais a treinadora trabalha, - é bastante emocional, sociável e responsiva às interações, garante ela. E essa é uma das chaves para a atividade funcionar. Ter empatia e entender a ave é outra chave. “Cada animal precisa de um treinamento específico, não é uma receita de bolo. Se você não tem sensibilidade para perceber o que ele está sentindo, se por acaso ele não está preparado, pode ser uma experiência traumática. Existe o tempo do animal, temos que respeitar [...] A Sara, por exemplo, tinha medo do parapente e precisamos de meses de treinamento”. 

Conhecendo o mundo das aves

Silvia não cresceu com pássaros. Ela só veio a ter contato com eles nos últimos sete anos, quando Bambu, uma arara-canindé que o ex-marido adquiriu em 2016, foi viver com ela. “Foi quando a ficha começou a cair, de todo o cuidado que ela demandaria. São animais muito inteligentes e sociais, não é legal ficarem muito tempo sozinhos, por isso recomenda-se ter mais um pássaro. E voam, né.?! Uma arara é um animal enorme e, voando, ela pode atingir uma velocidade de 35 a 45 quilômetros por hora. Se você pensar que precisa proporcionar para ela vários minutos de voo a essa velocidade, vem à mente: como? Quanto de espaço ela precisa? Não dá para ter dentro de uma casa”, informa.

Foi quando Silvia começou a pesquisar maneiras para que Bambu pudesse voar com qualidade e liberdade que descobriu o voo livre. Ela fez o treinamento de um profissional norte-americano com experiência no assunto e começou a implementar as técnicas. Depois de Bambu, vieram ainda as araras Íris, Pipa e Sara e cada uma, no seu tempo, conseguiu desenvolver o voo.

Legalizadas

Apesar de serem animais silvestres, vários pássaros como a arara-canindé ou a jandaia-verdadeira - Silvia tem duas, Crudi e Vegan - têm comércio legalizado e podem ser adquiridos desde que de criadores autorizados pelo Ibama ou pelo órgão responsável estadual/distrital. Mas fica um alerta da própria Silvia: muitos se encantam e decidem ter esses belos animais com fins ornamentais, mas não pensam no que eles precisam para viver com qualidade, nos gastos que demandam com checkups frequentes e veterinários especializados, e em como a relação entre tutor e animal de estimação pode ser bastante desafiadora.

Treinamento que foca em explorar os instintos naturais das aves torna a relação entre animal e humano muito mais próxima (Divulgação)

Treinamento que foca em explorar os instintos naturais das aves torna a relação entre animal e humano muito mais próxima (Divulgação)

Aves sim, pets não

Surpreendentemente, a treinadora tem uma posição bem crítica contra manter aves Psittaciformes como animais de estimação. “O que eu mais digo nas minhas redes sociais é para as pessoas não adquirirem essas aves, mas elas são teimosas”, brinca. De acordo com Silvia, é muito desafiador ter uma ave dessa em casa, tanto para ela quanto para o tutor. “É um animal silvestre, bastante inteligente, bastante ativo, bastante barulhento, tem um bico poderoso. São características dele. E se um animal desse não tem o que precisa para poder ser ele em sua natureza, ele vai começar a ter desvio comportamental. Daí a ave passa a gritar demais, bicar, porque só fica na gaiola. Começa a ficar insuportável”. Fazer essa recuperação é parte do trabalho que a treinadora desenvolve.

Animais tomam tempo, e com as aves não é diferente. Silvia explica que o treinamento e a interação devem ser diários, portanto, é preciso dedicar um tempo considerável para elas. Ela ainda revela que uma das perguntas mais comuns que recebe nas redes sociais é sobre qual seria o tamanho ideal para um viveiro destinado a uma arara canindé como Sara. “O tamanho de um campo de futebol. Esse seria o ideal”, enfatiza. Apesar da aparente contradição, a treinadora diz que ao invés de simplesmente criticar, ela prefere tentar ajudar a melhorar a vida dos animais que já estão com seus tutores.

Apesar dos voos livres de Silvia com suas aves chamarem bastante a atenção, ela frisa que seu trabalho de treinamento com os tutores de aves não se resume a ensiná-los a fazer o mesmo. “Não é todo mundo que quer saltar, mas tem gente que vê a minha conexão com as minhas aves, percebe que não consegue nem pegar a sua na mão e entende que não possui esse vínculo, essa confiança. Muitos querem um bicho fofinho em casa, para ter esse retorno. E tem ainda aqueles que querem dar mesmo para o animal uma condição melhor de vida”, completa a treinadora, que foca neste ponto para divulgar seu trabalho nas redes sociais.

Para que o salto com a ave seja feito com segurança é preciso empatia e respeito ao tempo de aprendizagem e adaptação do animal (Divulgação)

Para que o salto com a ave seja feito com segurança é preciso empatia e respeito ao tempo de aprendizagem e adaptação do animal (Divulgação)

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