Danilo Bueno Rosa (em destaque) na mesa de jogo e rodeado por amigos em uma casa de pôquer (Kamá Ribeiro)
Uma fala recente da nova ministra dos Esportes, Ana Mozer, lançou luz sobre a questão de os esportes eletrônicos serem considerados realmente esportes ao comentar sobre as mudanças propostas pelo Plano Nacional do Desporto (PND), em tramitação no Congresso Nacional há cinco anos, em que se pede a inclusão de e-sports e do enxadrismo.
Muito além da polêmica brasileira que ainda deverá ter desdobramentos e discussões, há atividades que já passaram por este processo, inclusive no exterior. É o caso do pôquer, que recentemente foi oficialmente reconhecido como esporte pela International Mind Sports Association (IMSA), assim como o xadrez e o gamão.
Para falar sobre a prática do pôquer por aqui, convidamos o campineiro Danilo Bueno Rosa, de 45 anos, que há quase 13 anos joga a modalidade e até já participou de campeonatos. Mesmo com a vida corrida com seu trabalho de gerente de vendas, ele consegue colocar na agenda uma noite da semana para encontrar os amigos numa mesa de pôquer profissional e jogar. Veja o que ele conta para a nova seção de esportes da Metrópole sobre a modalidade:
Quando e como você começou a jogar pôquer?
Comecei em 2010 quando um amigo voltou de um resort dizendo que havia aprendido um jogo muito legal. No dia seguinte, ele comprou uma maleta de fichas e veio até minha casa me ensinar. Aí falei com outro amigo e começamos a jogar no Boya Poker do Facebook e depois fomos jogando cada vez mais até que nos juntamos a outros jogadores e formamos o chamado “Home Game” (quando você faz um grupo de amigos para jogar entre si). Depois, fomos a uma casa de pôquer e ficamos maravilhados com tudo organizado, com regras profissionais, ambiente sério e controlado por um dealer (profissional que distribui as cartas e controla todas as regras). Inicialmente só perdíamos.
Como vocês viraram esse jogo?
Percebemos que o pôquer por diversão era legal, mas quando se quer vencer tem que estar 100%, sem álcool, sem sono. Fomos aprendendo com os jogadores mais experientes e depois de muitos jogos começamos a ganhar alguns. Foi então que participei de um grande torneio depois de ganhar a minha inscrição em uma pequena competição que premiava com a vaga. Meu amigo e eu jogamos totalmente concentrados e fomos muito longe. Foram mais de 350 inscrições, três etapas, três dias jogando e no final consegui ficar em 2º lugar. Ganhei uma grana legal que pagou todo o meu “investimento”. A partir daí jogamos vários torneios, ganhamos, perdemos, mas sempre nos divertimos.
Ser considerado oficialmente um esporte mental fez aumentar o interesse das pessoas pelo pôquer?
Ao menos para muitas pessoas com quem convivo, jogos de cartas sempre foram vistos como jogo de azar. No início não foi diferente com o pôquer. A modalidade é concentração, observação, estatística, probabilidade e principalmente as emoções de cada um na mesa. Às vezes jogamos muito mais com as emoções do que o próprio “jogo”. Há jogadores que estudam horas e horas e leem muitos livros para aprender cada vez mais. Não é uma questão de sorte, pois se fosse apenas isso não veríamos sempre os mesmos jogadores ganhando a maioria das vezes. Não se engane, pôquer não se joga de qualquer forma, não se estiver a fim de ser competitivo. É necessário estudo, concentração, tempo de jogo, dedicação. Hoje, com a divulgação maior do esporte, encontramos casas com toda infraestrutura necessária, inclusive em Campinas. Além disso, o jogo nos envolve, fazemos amizades que nos possibilitam criar nosso próprio “Home Game”.
Quais são os principais benefícios do jogo?
Ele nos ensina muito a respeito de concentração, observação e acabamos usando isso em nossa vida pessoal e profissional. Na minha opinião, ler as pessoas é uma das coisas que mais se aprende jogando pôquer.
Qual é o papel dos campeonatos?
É desmistificar que o pôquer é questão de sorte. Existe regularidade, consistência, não é coincidência vermos repetidamente nomes consagrados ganhando. André Akkari, João Simão e Enio Bozzano são os brasileiros que se destacam.