COMIDA É

Pimenta, tesouro histórico e gastronômico

Chef Manuel Alves Filho
16/02/2021 às 16:35.
Atualizado em 22/03/2022 às 03:32
Rodrigo Brigagão: pimentas podem e devem ser exploradas (Divulgação)

Rodrigo Brigagão: pimentas podem e devem ser exploradas (Divulgação)

Se você está entre as pessoas que não gostam de pimenta, por favor, capitule. A menos que você apresente alguma séria restrição alimentar, saiba que este tempero, condimento ou especiaria não somente tem um destacado valor na história da humanidade, como é capaz de elevar um prato à sua melhor condição, além de proporcionar alguns importantes benefícios à sua saúde. Contam os relatos históricos que a paixão do homem pelas especiarias, a pimenta-do-reino incluída, é que deu origem às chamadas rotas das especiarias, caminhos marítimos que possibilitavam o comércio de ingredientes aromáticos entre a Ásia e a Europa.

Durante as navegações em busca dessas preciosidades é que foi “descoberto” o Novo Mundo, onde também está o Brasil. Com certo exagero, é possível inferir que se não fosse o poder de atração da pimenta, na companhia luxuosa do cravo-da-índia, do gengibre e do açafrão, o país não teria sido colonizado e você, caro leitor, não estaria degustando esta coluna.

Se este argumento não foi suficiente para convencê-lo a tornar a pimenta uma presença frequente na sua dieta, aqui vai mais uma informação preciosa. Esse condimento tem propriedades que proporcionam inúmeros benefícios à saúde. Primeiro, é termogênico, ou seja, acelera o metabolismo e favorece a digestão. Segundo, as pimentas do gênero capsicum - o mais comum no Brasil e ao qual pertence a malagueta - são ricas em vitaminas A, E e C, além de ácido fólico, zinco e potássio. Juntas, essas substâncias ajudam a retardar o envelhecimento das células e contribuem para a liberação de endorfina, o hormônio do prazer.

Isso sem falar que a capsaicina, substância responsável pelo ardume das pimentas, tem ação anti-inflamatória e analgésica. Vale ressaltar, ainda, que a pimenta não causa hemorroida ou gastrite. Obviamente, as pessoas que apresentam esses problemas devem evitar o consumo exagerado do condimento. Por último, é indispensável destacar o valor que a pimenta tem na gastronomia. Em diversas situações, ela assume a condição de alma de um prato, como bem sabem os mexicanos, chineses e tailandeses. No Brasil, tal princípio também é verdadeiro. Ou você é capaz de imaginar uma suculenta moqueca sem um generoso toque de picância?

NOME DELICADO, ARDÊNCIA RUDE

Rodrigo Brigagão, comandante da Murú Pimentas Especiais, de Campinas, transformou a sua paixão pelas ardidas em negócio. Atualmente, a empresa oferece uma série de produtos à base de pimentas, como versões desidratadas, defumadas, em conserva, bem como cachaças e azeites saborizados. “O portfólio, que normalmente tem em torno de 15 opções de produtos, sofre atualizações constantes porque trabalhamos de forma artesanal. Nós mesmos desidratamos e defumamos as pimentas e sempre optamos por matérias-primas frescas, preferencialmente cultivadas na região, para obtermos o melhor resultado possível”, conta.

Entre as variedades usadas por Brigagão estão desde as mais conhecidas pelo público brasileiro, como a dedo-de-moça, a malagueta e a comari, até algumas pouco consumidas no país, mas que são famosas no mundo todo, como a Carolina Reaper, classificada como a “mais quente do mundo”.

Segundo Brigagão, cada pimenta, independentemente da ardência, apresenta características próprias, que podem e devem ser exploradas. “Muitas vezes, o segredo está na quantidade empregada. Outras, na combinação com os demais ingredientes de um prato. Aliás, embora o consumo de pimenta no Brasil ainda seja pequeno, ele está crescendo. Atualmente, esta especiaria não é usada somente na culinária salgada. Ela também está presente na coquetelaria e na confeitaria. A Murú, por exemplo, fornece pimentas para duas cervejarias artesanais de Campinas, que as utilizam na formulação de suas cervejas. O resultado são bebidas muito saborosas e equilibradas”, conta Brigagão.

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