ESPECIAL DIA DAS MÃES

Mães do coração

O período de burocracia e espera pela adoção é como uma gestação acalentada pelas informações, debates e troca de experiências

Cibele Vieira
16/05/2023 às 12:59.
Atualizado em 16/05/2023 às 12:59
Ana Clara, Melissa e Priscila após cinco anos de relacionamento (Divulgação)

Ana Clara, Melissa e Priscila após cinco anos de relacionamento (Divulgação)

Elas são mães dedicadas de filhos que chegaram pelos caminhos do coração, sem passar pela maternidade física. Mas este é apenas um detalhe nessas histórias. Primeiro, eles nasceram do desejo, passaram pelo amadurecimento da decisão, pela burocracia das leis até chegarem ao colo daquelas que assumiram o cuidado pela vida afora. Alguns já não cabiam mais no colo físico, mas este também é apenas outro detalhe. O importante é que são histórias de final feliz, embora ainda estejam só começando. A trajetória nunca é fácil como a idealizada, afinal conciliar e respeitar o passado muitas vezes dolorido com a criação de novos vínculos e a expectativa de quem realiza sonhos não é tarefa para qualquer um, por isso o tema adoção precisa ser gestado com muita paciência.

Esta é a experiência de Melissa Trafane e Gustavo Ramos, casal que ainda não tinha chegado aos 30 anos de idade, mas já queria os filhos que não vinham. Os exames médicos indicavam que não havia problemas físicos ou emocionais, mesmo assim a gravidez não acontecia. Até que um dia, ela acordou com o pensamento de que seus filhos já tinham nascido e precisavam ser encontrados. Compartilhou com o marido esse sentimento, e ele também entendeu que a busca deveria começar. Foi assim que se inscreveram em um grupo de adoção em Valinhos, cidade onde moram, embora trabalhem em Campinas. “Todas as cidades têm grupos de apoio para adoção e eles são fundamentais para que a gente entenda e amadureça o assunto”, conta Melissa, que fez da causa sua missão, divulgando e orientando outros casais.

O período de espera entre a entrega da documentação na Vara da Criança e da Juventude e a chegada das filhas foi de um ano e meio. “Nós queríamos adotar dois filhos, que não fossem bebês – pensávamos na faixa de cinco anos – e que pelo menos um fosse do sexo feminino. Foi o que colocamos em nosso perfil”, relata a mãe, que há cinco anos morre de amores pelas irmãs Ana Clara, que nasceu em sua vida aos sete anos de idade, e Priscila, que na época da adoção tinha 13 anos. Elas estavam em um abrigo no Paraná e foi em uma busca ativa do sistema nacional em grupos de adoção que a nova família foi localizada. Para dar certo, era preciso ter duas famílias que morassem relativamente perto, para que os quatro irmãos pudessem continuar se relacionando. A surpresa foi constatar que o casal que adotou os outros dois irmãos (o mais velho e a caçula) moravam no condomínio ao lado. 

Hoje o casal comenta que houve um amadurecimento e fortalecimento dos vínculos, e ressalta a importância de respeitar o passado e as limitações emocionais que ele impõe, dando apoio e suporte para entregar o que as crianças precisam. “Nem sempre é fácil”, comentam, ao contar que continuam frequentando o grupo de apoio, mas agora o da pós-adoção, com pais que vivem a mesma situação. “Me chamar de mãe foi natural, mas cada criança tem o seu tempo de adaptação e história de vida”, relata Melissa, que ainda se emociona ao lembrar do primeiro encontro com as filhas. Ela conta que muitas vezes ocorrem situações que nem se imagina por conta do legado emocional que elas carregam. Uma situação foi a crise de choro da pequena ao descobrir que as alianças de casamento ligavam o casal, mas eles não tinham anéis com as filhas, o que na frágil sensibilidade dela significava falta de amor. Por isso, foi providenciado um “anel da família”, que agora todos usam como símbolo de união.  

Gustavo e Melissa assumiram o tema adoção como missão e ajudam outras pessoas, esclarecendo sobre os desafios e orientando procedimentos (Divulgação)

Gustavo e Melissa assumiram o tema adoção como missão e ajudam outras pessoas, esclarecendo sobre os desafios e orientando procedimentos (Divulgação)

Mãe adotiva e solteira

A pedagoga Monica Amaral Carvalho ficou na “fila de espera” por uma adoção por exatos cinco anos e quatro meses. Mesmo sem ter restrições quanto à idade, sexo ou nacionalidade da criança, ela precisou cumprir esse período de espera recheado de reuniões, preparações e visitas da equipe da Vara da Infância e Juventude de Campinas, onde se habilitou para o processo. 

Ela é solteira e mãe adotiva de Carol, hoje com dez anos, que saiu da maternidade sob sua guarda provisória, e seis meses depois foi registrada com o sobrenome da nova família, finalizando o processo. “Queria apenas ser mãe, e observei um pouco de burocracia no processo que é rígido, mas me senti bem acolhida. A ansiedade foi grande nesse período”, conta.

Ela relata que aos 42 anos, faltando pouco tempo para se aposentar pelo Magistério, entendeu que seria um bom momento para se dedicar à maternidade. E comenta que não sentiu obstáculos pelo fato de ser solteira e observou diferentes formações de casais durante o processo.

“Após a adoção foi um processo tranquilo de adaptação, e os problemas são os comuns de qualquer filho, em qualquer família. Hoje me esforço para que ela use a base amorosa que tem para valorizar sua história de vida e buscar sua própria identidade e seus amores”, afirma. E ressalta: “para mim ela é filha, não importa se é de barriga ou coração, me sinto realizada como mãe”.

Passo-a-passo 

Quer conhecer todas as etapas de um processo de adoção? Acesse o link e se oriente: https://adotar.tjsp.jus.br/

Em Campinas, outras informações podem ser obtidas na Vara da Infância e da Juventude, na Cidade Judiciária. Além de informar sobre adoção, as equipes também disponibilizam um serviço de acolhimento e orientação às gestantes que não desejam assumir seus filhos ou têm dúvidas sobre isso.

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