MOTOR

Jipeiros se lançam em aventuras off-road

Movidos pela adrenalina, eles saem em busca de desafios e paisagens impossíveis de alcançar com veículos comuns

Cibele Vieira
04/05/2022 às 16:40.
Atualizado em 04/05/2022 às 16:40
O clássico ano 1951 da família Manzur é usado para  passeios curtos,  enquanto os  modelos adaptados  seguem em grupo para as grandes  expedições (Arquivo pessoal)

O clássico ano 1951 da família Manzur é usado para passeios curtos, enquanto os modelos adaptados seguem em grupo para as grandes expedições (Arquivo pessoal)

Marilia, com apenas cinco anos, gosta do seu diferente transporte escolar: o Jeep Willys 1951. É neste clássico verde militar que o pai, Ernesto Manzur, de 44 anos, a leva diariamente à escola, na cidade vizinha de Paulínia. O modelo é o xodó da família, que já teve outros 4X4 restaurados e adora se aventurar por trilhas com amigos, já criando na filha o gosto pelos passeios incomuns. Cair na estrada – de preferência empoeirada ou enlamaçada - é uma paixão dos integrantes dessa turma com o apelido de ‘jipeiros’, que sempre saem pela região - ou pelo país - em busca de novos desafios. 

Marcela Mattos, de 40 anos, é mãe de Marília e conta que a paixão nasceu quase junto com o relacionamento do casal, ainda quando estudavam na faculdade de Administração, há cerca de 20 anos. “Esse tipo de veículo nos leva a lugares onde carros normais não chegam, em picos com vistas diferenciadas. É uma relação diferente com a natureza, além dos desafios off-road que são estimulantes”, conta. Um dos passeios frequentes da família é na praia de Castelhanos, em Ilhabela, litoral norte de São Paulo, aonde só se chega com este tipo de veículo. 

Mas eles já se aventuraram em trilhas bem mais longas. Uma delas, em 2020, foi na Serra da Canastra, onde passearam por cachoeiras escondidas, subiram montanhas e Marcela classifica como “lugar incrível”. A outra foi uma esticada de 15 dias ao Piauí, saindo de Formosa, GO, até São Miguel do Gostoso, RN. Nessa viagem, percorreram os Caminhos do Vianna, com cânions de “tirar o fôlego” e a Serra da Capivara, onde há sítios arqueológicos com pinturas rupestres. “Ali entendemos a importância da pesquisa arqueológica do Brasil na datação da humanidade”, comenta a jipeira.

Dicas para iniciantes

Nos percursos mais distantes e desafiadores, a família viaja em grupos, às vezes sob a coordenação de uma agência de expedições que acompanha com toda infraestrutura. E usa um segundo veículo, mais moderno e preparado com guincho e outros equipamentos para caminhos mais longos e difíceis. “É um veículo com conforto, mas é importante planejar bem porque é um carro bruto, tem barulho, parece um trator andando”, brinca Marcela. Quando leva a filha, se preocupa em assegurar que há outras crianças no grupo, para que não fiquem entediadas.  

Para quem está começando na atividade, ela aconselha o envolvimento com algum Clube do Jeep para fazer amizades, pequenas viagens com orientações e acompanhamento, além de adaptar o veículo aos poucos. Marcela recomenda dois passeios curtos: o Pico do Jair, em Sapucaí-Mirim, sul de Minas, e a Pedra Grande, de Atibaia, SP, com 1.450 m de altitude, onde há rampa de salto livre para asa delta e parapente.

Mecânica especializada

O mecânico José Roberto Horácio Alves, de 63 anos, é especializado em veículos 4X4 e atende esse público há 15 anos em sua oficina no bairro Bananal, em Campinas. “É um lazer dispendioso, porque as peças de reposição não são baratas, mas meu público só aumenta”, afirma. Ele também é um apaixonado pelas aventuras off-road e as faz em sua Rural Willys 1965 verde e branca, que apelidou de “força bruta’, toda adaptada, movida a diesel e com cabana no teto. Foi com ela que ele participou, no ano passado, de uma expedição à região Norte: foram 30 dias para percorrer oito mil km (ida e volta) com um grupo de 20 veículos. 

Ele explica que é preciso estar com a cabeça sossegada para fazer esses passeios. “Quando entra, a gente não consegue pensar em mais nada, se concentra no caminho, nas paisagens e, principalmente, nos desafios”, diz. Na viagem à Amazônia ele se deslumbrou com a selva, mas conta que enfrentou perigos. Um deles foi atravessar uma ponte com poucas tábuas, coberta pela água do rio que subiu. “Aquilo foi tenso, porque era noite, não podíamos voltar, não se enxergava direito onde havia piso, ia alguém na frente orientando, e depois que passou olhei pra trás e pensei: ‘o que eu fiz, que loucura foi essa?’. Mas foi uma adrenalina boa demais!”. 

Roberto começou a trabalhar com a mecânica 4X4 para resolver um problema pessoal. Ele já tinha experiência como mecânico de caminhão quando resolveu comprar um  modelo 1962, “por puro gosto”. Se arrependeu da compra porque o danado só quebrava, até descobrir que “os mecânicos em que levava mexiam, mas não entendiam bem das particularidades do carro. Era gastar duas vezes”, relata. Foi quando começou a pesquisar para arrumar o próprio “jipinho”. Depois, foi ajudando amigos com o mesmo problema e acabou se especializando. No início deste ano, ele a esposa Márcia, de 58 anos – também apaixonada pelas trilhas e aventuras – e o filho Rodrigo, de 43 anos, foram até o Rio Grande do Sul participar do 1º Encontro Nacional de Rural, que reuniu 159 modelos vindos de diferentes regiões do Brasil. 

HISTÓRIA DE UM EX-COMBATENTE

Um dos modelos mais icônicos dessa linha - o Jeep Willys MB - começou sua carreira ajudando o exército e depois ganhou as ruas do mundo como o Jeep Wrangler. Tudo começou quando o exército norte americano precisou trocar seus sidecars – carrinhos fixados nas laterais de motocicletas – por outro tipo de veículo mais robusto, potente e leve. Assim, em 1941, a Willys-Overland passou a fabricar o modelo. O nome “Jeep” tem várias versões, uma delas é a pronúncia diferenciada das letras G e P, usadas para designar veículos de uso geral (General Purpose). Para participar da Segunda Guerra Mundial, o exército brasileiro recebeu do governo americano mais de 600 unidades do Jeep Willys. 

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