ESPECIAL SAÚDE DA MULHER

Hormônio em queda livre

Com a chegada da menopausa, muitas mulheres podem ter que recorrer à terapia hormonal desde que não tenha contraindicações; a dúvida pode estar entre os hormônios sintéticos ou os bioidênticos

Karina Fusco
31/10/2022 às 14:12.
Atualizado em 02/11/2022 às 16:27
A menopausa não  é caracterizada  apenas pelo fim  do ciclo menstrual,  mas também pela  redução natural  da produção  de hormônios  feminino (Freepik)

A menopausa não é caracterizada apenas pelo fim do ciclo menstrual, mas também pela redução natural da produção de hormônios feminino (Freepik)

A chegada da menopausa é caracterizada não apenas pelo fim da menstruação e do ciclo reprodutivo da mulher, como também pela queda natural dos hormônios femininos, como a progesterona e o estrogênio. Esse processo, muitas vezes repleto de desconfortos, como ondas de calor, insônia e ansiedade, ocorre geralmente entre os 45 e 55 anos. Um levantamento realizado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) mostrou que a idade média da ocorrência da menopausa entre as mulheres brasileiras é de 48 anos. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 1 bilhão de mulheres estará atravessando a menopausa até 2030.

É nesta fase da vida da mulher que ela pode ter a indicação para fazer uso de terapia hormonal, popularmente chamada de reposição hormonal. Como explica Cristiane Menabó, médica assistente da equipe de ginecologia e obstetrícia do Hospital PUC-Campinas há indicação de terapia hormonal em três situações: quando a menopausa acontece precocemente (antes dos 45 anos); quando ela é determinada de uma maneira abrupta, por exemplo mediante uma cirurgia para a retirada dos dois ovários, o que causa a queda brusca dos hormônios; ou quando ela tem inúmeros sintomas ocasionados pela menopausa que vão comprometer seu cotidiano e a qualidade de vida, não só do aspecto físico, como também social e sexual. “Às vezes, a mulher até pode ter a indicação do uso da terapia hormonal, mas, acima de tudo, é importante avaliar previamente se ela não tem alguma contraindicação como já ter tido infarto ou Acidente Vascular Cerebral (AVC). Se houver, será preciso recorrer a outras medidas, como antidepressivos e fitoterápicos para tentar melhorar a sintomatologia”, esclarece.

Em relação à associação da reposição hormonal ao aumento de casos de câncer, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) afirma que, de modo geral, a terapia hormonal, de fato, aumenta o risco. No entanto, desde que respeitadas as orientações médicas e feito o acompanhamento corretamente, ela apresenta mais benefícios do que riscos. Nesse sentido, a médica Cristiane Menabó afirma que o uso indevido dos hormônios ou mesmo a longo prazo podem aumentar o risco não só do câncer de mama, como também de endométrio. Por isso, ela alerta: “antes de se submeter a qualquer terapia hormonal, independente da classificação do hormônio (sintético ou bioidêntico), a mulher precisa ser submetida aos exames de rastreamento e fazer acompanhamento com seu médico ginecologista”, ressalta.

Sintéticos ou bioidênticos? 

Uma dúvida comum nesse período da menopausa é sobre qual tipo de hormônio recorrer no momento de iniciar a terapia hormonal. Com a popularização dos bioidênticos, que são feitos em farmácias de manipulação, muitas mulheres têm preferido seguir por esse caminho, acreditando que eles são mais naturais. No entanto, não é bem assim, conforme alertam os especialistas. “Molecularmente, não há muita diferença entre eles. Mesmo os produzidos por grandes laboratórios (que são os sintéticos) também são substâncias que têm semelhança tanto com a composição química do nosso organismo quanto em relação às ações. E quando a gente fala de hormônio bioidêntico, nos referimos aos hormônios manipulados em farmácia em dosagens menores porque os hormônios sintéticos que são produzidos pelas indústrias e vendidos em farmácias convencionais já vêm com uma formulação padrão”, elucida. “Na teoria, o bioidêntico seria um tipo de hormônio com as mesmas funções do sintético, porém em quantidades e formulações mais individualizadas”, completa. 

Mas ela ressalta que o assunto é bastante controverso. “Algumas sociedades médicas não recomendam os hormônios bioidênticos como uma terapia hormonal que possa ajuda a mulher na menopausa, mas as principais sociedades, como o Colégio Americano e a Febrasgo não reconhecem esse tipo de prática. Principalmente pelo fato de que não se tem ainda estudos em relação aos impactos que eles causam e também porque não se tem ideia exata de como o hormônio é absorvido. Há ainda as questões relacionadas à manipulação, à conservação e ao controle das quantidades nas formulações manipuladas”, diz. 

A médica do Hospital da PUC-Campinas considera que é fundamental saber que a mulher que não pode utilizar um hormônio sintético também não pode usar o bioidêntico, pois o risco de ela desenvolver um câncer ou de ter outra complicação é exatamente igual. “Talvez o que fique um pouco diferente é que, como ela vai mandar manipular a droga bioidêntica, ela use uma dose um pouco menor do que a padronizada num fármaco sintético, porém o risco e as contraindicações continuarão existindo”, reforça.

Para fazer a melhor escolha, informação e acompanhamento médico são fundamentais! 

O PAPEL DOS HORMÔNIOS FEMININOS

Estrogênio é o responsável pelo desenvolvimento e a liberação de óvulos nos ovários e também atua para tornar mais espesso o revestimento do útero para receber o óvulo fertilizado.

Progesterona é produzida principalmente nos ovários, mas também na placenta, e além de ser fundamental para a gestação, também está relacionada ao bem-estar da mulher.

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