Em busca da melhor escola

Quem tem filhos em idade escolar sabe bem que nesta época é preciso fazer a escolha da instituição de ensino para onde eles irão no próximo ano. As incertezas sempre rondam a decisão, seja para selecionar a primeira fase da educação infantil, ou para uma mudança de nível dos adolescentes. Para ajudar nessa tarefa, especialistas em educação orientam os pais a avaliarem quais os valores buscam em cada fase, antes de saírem à busca de qual escola pode ajudar nessa formação. Pesquisas indicam que as novas tecnologias digitais dividem a atenção do setor com as questões ambientais e de relacionamento. 

Um levantamento do ano passado, conduzido pelo Grupo Consumoteca - empresa de pesquisa e inovação – revela que 68% dos responsáveis gostariam de aliar a educação tradicional que recebeu com o ensino de novas tecnologias. A pesquisa foi realizada com 1.500 pessoas que tinham filhos de até 17 anos, das classes A, B e C de todo o Brasil. Apesar de muitos pais terem como referência a forma como aprenderam na infância, a maioria acredita que os recursos digitais podem ser ferramentas auxiliares em dimensões educativas e pessoais. Por outro lado, o cuidado e atenção pessoal com os estudantes formam o quesito mais importante para 28% dos pais Os pais consideram que a educação é o que mais importa para dar aos seus filhos Um valioso legado Metrópole Campinas, 1º/10/23 13 Divulgação brasileiros ao buscar uma instituição de ensino para seus filhos.

Já a pesquisa realizada pelo Instituto Escolas Exponenciais em 2022 ouviu 150 mil famílias de diferentes regiões do Brasil e apontou ainda que 24% dos pais ouvidos valorizam a qualidade na formação acadêmica dos alunos e 20% destacam a competência da equipe pedagógica. De forma geral, o estudo mostra que os pais são decisivos no papel que a educação terá na vida dos filhos e parte do princípio de que esse é o principal legado que poderão deixar.

Efeito pandemia

O distanciamento social provocou uma mudança na maneira que os pais passaram a avaliar as escolas, afirma Debora Corigliano, psicopedagoga especialista em neurociência da educação. “A pandemia derrubou portas e muros das escolas, pois com as aulas online toda a família entrou na sala de aula junto com os alunos. Isso refinou a observação de detalhes da dinâmica diária, a postura dos professores, a didática, os conteúdos, os valores e muitos pais começaram a questionar se aquela escola atendia ao que eles queriam”, conta a especialista. 

A consequência dessa nova realidade foi o refinamento da pesquisa e a busca de itens que antes nem eram levados em consideração pela falta de conhecimento das famílias. Hoje, explica Debora, os pais buscam mais detalhes sobre a proposta pedagógica, o material usado, a dinâmica das aulas, elevando o relacionamento com a escola a uma nova dimensão.

“É importante que pais, ao fazer a pesquisa, façam perguntas relacionadas à realidade de seu filho, como por exemplo questões de inclusão de disciplinas, e colocar na conversa assuntos atuais, como questões de violência, de discriminação e os atentados recentes, para avaliar o nível de informação e práticas para lidar com esses casos”, recomenda. 

A participação dos filhos na escolha da instituição de ensino deve ser feita com cautela, na opinião da psicopedagoga. Ela recomenda que primeiro os pais devem visitar as escolas e fazer questionamentos sozinhos para selecionar as que se encaixam em seu perfil e condições, para só depois oferecer duas ou três opções para os filhos opinarem. “Mas isso só deve acontecer se os filhos tiverem consciência que a escolha é dos pais e que eles darão a palavra final”.

Em cada fase uma expectativa

Debora Corigliano, que é autora de três livros e tem um canal de orientação aos pais no YouTube, afirma que “a primeira escola traz uma insegurança muito grande aos pais, e a escolha vai depender muito da expectativa que cada um tem”. Mas além dos aspectos pedagógicos e metodologias de ensino, há questões importantes a serem levadas em conta. 

Ela ressalta, por exemplo, a logística que envolve as idas e vindas, com a distância a ser percorrida. Outra questão é a financeira, considerando não apenas a mensalidade, mas todas as demais despesas que uma escola envolve, como os passeios, os materiais e os estudos externos. “E, principalmente, saber se a escola e quem a frequenta tem perfil e valores semelhantes aos da família, para evitar um choque de realidade”, alerta. 

A psicopedagoga conta que viu pais buscarem uma educação infantil já pensando no vestibular do filho, enquanto outros querem uma escola lúdica e mais focada na idade. Há também, nessa fase, a preocupação daqueles que trabalham em período integral de “terceirizar na escola atividades e cuidados que se tem em casa, como alimentação, banho, brincadeiras, disciplina, espaço externo e outros”. Já os pais do Ensino Fundamental 1 e 2 têm dinâmica diferenciada, segundo a especialista. “Muitos buscam escolas com bom nível de aprovação no Enem e outros focam na vivência da fase etária, principalmente em relação à alfabetização e a construção do saber, com metodologias ativas e tecnologia”, diz. No Ensino Médio há consenso da maioria em torno de uma palavra: vestibular. 

O ‘como fazer’ é essencial

Boa parte das escolas tem currículos e estruturas muito semelhantes. Por isso, “o importante é saber que estratégias usam para promover o desenvolvimento dos alunos, para humanizar por meio das disciplinas, para desenvolver as habilidades de cada um”, alerta o consultor educacional Carlos Dorlass. Para ele, o básico – e fundamental – de qualquer instituição de ensino é levar o aluno a interpretar, planejar e executar. “Em qualquer situação que enfrentamos na vida, e isso em qualquer idade, precisamos saber interpretar o problema, planejar uma solução e colocá-la em prática. Então a escola precisa criar essa base em todas as disciplinas, porque são os recursos que precisamos para a vida”, comenta.

 “A essência da educação é essa e o que diferencia uma escola da outra é o ‘como’ ela trabalha. No desdobramento a essas premissas, aprendemos a lidar com as regras e fixamos o conteúdo por meio da repetição e da prática”, defende o educador. “O pai precisa saber o que ele quer e questionar como a escola faz”, diz. Entre as inovações ele ressalta a inclusão dos princípios ESG (Environmental, Social and Governance - em tradução Ambiental, Social e Governança) nos anos iniciais das escolas com o objetivo de preparar a garotada para uma nova realidade mundial, que enfatiza a importância da sustentabilidade ambiental, responsabilidade social e governança no contexto educacional, alinhada à agenda 2030 da ONU. As opções são muitas, mas só com uma boa análise é possível escolher aquela que tende a ser a melhor para os filhos!

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