QUALIDADE DE VIDA

Em busca da longevidade ativa

A RMC conta com aproximadamente 440 mil idosos e com o aumento da expectativa de vida é preciso se preparar para que viver mais seja sinônimo de viver melhor

Ronnie Romanini
22/07/2022 às 13:55.
Atualizado em 24/07/2022 às 19:35
Walter Feldman está à frente do projeto Silver Week, voltado para debater a inclusão do longevo; Marcos e Silvia decidiram adotar uma vida saudável ao se aproximarem dos 60 anos (Divulgação)

Walter Feldman está à frente do projeto Silver Week, voltado para debater a inclusão do longevo; Marcos e Silvia decidiram adotar uma vida saudável ao se aproximarem dos 60 anos (Divulgação)

Se não tivéssemos passado pelo advento da pandemia de Covid-19, a expectativa de vida do brasileiro seria de 76,8 anos em 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, como não é possível ignorar esse capítulo da nossa história, os números foram impactados para baixo. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calcula que a expectativa de vida no País foi reduzida em aproximadamente 4,4 anos. Mas ainda assim, vivemos muito mais do que décadas atrás.

Com o envelhecimento da população e a evolução da ciência e da medicina, as pessoas, além de estarem ficando mais longevas, estão chegando em melhores condições. “No passado, a pessoa não chegava em idades tão longevas e, quando isso acontecia, vinha com acúmulo de problemas de saúde e previdência. Havia poucas respostas no setor público e nenhuma no privado. E (o longevo) carregava uma carga muito forte de preconceito, hoje chamado de idadismo ou etarismo”, afirma Walter Feldman, 68+ (maneira como ele apresenta sua idade no cartão de visitas).

Entendendo esse cenário, ele está à frente do projeto Silver Week (ou Semana Prateada, em português), um período voltado a debates, reflexões, celebrações e ao comércio para os longevos, uma iniciativa idealizada pelo grupo Longevidade Expo+Fórum, que tem Feldman como presidente. 

A expectativa é que já neste ano a Silver Week aconteça no Brasil, que seria o primeiro país a contar com uma iniciativa nestes moldes. Nesse período, a população longeva poderá comprar produtos com descontos, assim como acontece em outras datas comerciais ou comemorativas, como o Dia dos Namorados e a Black Friday. Estima-se a participação de 300 dos mais de 600 shopping centers existentes no Brasil, com a meta de nos próximos anos ampliar este número. 

Ao contrário de outras datas, Feldman diz que esta terá um propósito especial. Além dos benefícios oferecidos à população, haverá uma grande mobilização anual para repensar o papel na sociedade e demais questões envolvendo o longevo.

Idoso, não. Longevo!

Criado em 2019, o Fórum de Longevidade contou, em sua primeira edição, com 150 palestrantes que falaram sobre saúde, educação, cultura, empreendedorismo, trabalho, lazer, espiritualidade, sexo, cuidados paliativos, educação financeira, relações familiares e intergeracionalidade para um público de 10 mil pessoas, o que Feldman descreve como sucesso absoluto. Porém, por causa da pandemia, as últimas edições aconteceram em formato virtual.

Agora, na quarta edição, a ideia é que tudo que envolva a inclusão do longevo na sociedade seja debatido: vida, morte, finanças, lazer, entretenimento, adaptações do poder público e das empresas para esta população. Neste ano, o Longevidade Expo+Fórum será em formato híbrido (tanto presencial quanto virtual), entre 29 de setembro e 1º de outubro, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. 

Depois de transitar por medicina, política e futebol, Feldman, que é médico, disse estar encantado com a nova empreitada e que o intuito é desestigmatizar e revolucionar a maneira de ser e pensar no longevo. Inclusive, o termo longevo foi escolhido para retirar o peso das palavras atualmente utilizadas referentes à população que vai envelhecendo, como “terceira idade”, “idoso” ou “velho”. 

Longevidade com qualidade de vida

Casados há 33 anos, Silvia e Marcos Mangabeira, ambos de 60 anos, resolveram mudar a vida há quatro anos. Começando por uma cirurgia bariátrica, o casal decidiu que a meta era viver com mais qualidade e atingir uma longevidade saudável. Agora, são adeptos de caminhadas frequentes e atividades pensando no bem-estar. 

Na pandemia vieram novas experiências, mostrando que a proximidade dos 60 anos não é impeditiva para reinvenções. Silvia, que é consultora de marketing digital, pegou Covid-19 no ano passado e precisou de internação. Foi no hospital que surgiu uma nova profissão. A princípio, o crochê era para a distração no período difícil. Agora, ela já está abrindo empresa e vendendo seus produtos para lojistas de Campinas e São Paulo. Ela descreve a nova profissão, de microempreendedora de crochê moderno, como uma virada de chave.

“Nas últimas décadas esta população está cada vez mais produtiva. Ela se insere fortemente no mercado de trabalho e começa a ter comando importante nas áreas social, econômica, política, empresarial, no jornalismo e na música. E são pessoas altamente produtivas e criativas”, explicou Feldmann.

Feldmann contou que entrou no Fórum a convite de seu idealizador, Francisco Santos, empresário experiente em feiras e congressos. Ele detectou que na Europa já existia um movimento denominado revolução (ou economia) prateada, que justamente observa todas estas mudanças da participação e inclusão do longevo na sociedade. Somado ao conhecimento de que o Brasil está em um processo que a Europa iniciou muito antes, surgiu o novo projeto e a ideia é começar agora a preparar o nosso futuro.

Europa é referência

Apaixonados por viagens, o empresário Wilmar Onedis Gomes, de 59 anos, e a professora Mônica Teresa de Oliveira Dias Gomes, de 61, espantam qualquer ideia de que envelhecer é abrir mão de diversão e experiências novas. A paixão do casal desde o namoro é conhecer novos lugares, de todas as maneiras. Vale viajar de motor home pelo continente europeu, alugar um carro e andar pelas estradas dos Estados Unidos, sempre com um espírito andarilho e o olhar curioso para as novas paisagens, pessoas e culturas diferentes. 

Uma percepção de ambos é que, de fato, a Europa tem um olhar diferente para o longevo. “É um continente antigo, enquanto nós temos 500 anos. Eles passaram pelo caminho que estamos percorrendo. A estrutura dos países é feita para receber e acolher o longevo. Aqui no Brasil, por exemplo, as pessoas ainda estacionam em locais reservados para idosos”, pontuou Wilmar.

Além da estrutura, o respeito ao longevo e o comportamento direcionado a eles também são diferentes. Mônica relata um quase “perrengue” com final feliz, que eles passaram na Europa quando a pandemia de Covid-19 explodiu. “Ao sair da Dinamarca e tentar entrar na Alemanha - correndo, pois precisávamos pegar um voo para o Brasil e estava tudo um caos - fomos avisados de que não passaríamos na divisa. Estava um clima ostensivo na fronteira, com exército, mas depois, quando viram que não éramos tão jovens, foram educados, não perguntaram nada nem nos pararam. Mesmo com tudo isso, em nenhum momento nos sentimos constrangidos. A Europa é muito tranquila em relação a isso. A diferença comportamental é gritante”, diz Mônica.

Mas, ela faz questão de ressaltar: “Com 61 anos, eu sou idosa apenas porque me classificaram assim”. O sentimento é de jovialidade e a expectativa é de muita longevidade para o casal continuar rodando o mundo. 

UM SETOR COM GRANDE POTENCIAL

O mercado longevo é considerado o terceiro maior do mundo

  • No planeta, US$ 15 trilhões são consumidos pela população 50+
  • No Brasil, estima-se que 42% do consumo é pela população 50+, o que equivale a R$ 2 trilhões
  • 67% das famílias brasileiras precisam do longevo para sobreviver

Fonte: Expo+Fórum

Em 2000, a relação de idosos economicamente dependentes na RMC era de 13 a cada 100 pessoas em idade ativa (no estudo, considerando o grupo entre 15 e 59 anos). Em 2020, eram 22 idosos a cada 100 pessoas economicamente ativas. A projeção é a de que a relação, em 2030, esteja em 31 a cada 100 e, em 2040, em 41 para cada 100 adultos.

O CENÁRIO DA RMC

O Observatório PUC-Campinas divulgou, em junho, um estudo que aborda a transição demográfica na Região Metropolitana de Campinas (RMC). O levantamento revela um processo acelerado de envelhecimento populacional. O número de idosos nas últimas duas décadas dobrou e a previsão é a de que o mesmo aconteça nos próximos 20 anos.

Além disso, a RMC passa por um declínio nas taxas de fecundidade e natalidade. Com o avanço da população com mais de 60 anos ou que se aproxima dessa faixa etária, a estrutura etária da população estará mais envelhecida, o que requer planejamento e políticas públicas específicas.

Iniciativas como o Longevidade Expo+Fórum prometem alavancar e liderar a discussão sobre a mudança de olhar necessária para as próximas décadas. A ideia, inclusive, é que Campinas seja um centro dos debates e dos acontecimentos tanto do Fórum como da Silver Week. 

Saiba mais no site oficial: https://longevidade.com.br/

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