Falta de exercícios pode levar a doenças cardíacas e diabetes, mas há quem já tenha mudado de vida priorizando a saúde e a qualidade de vida
O jornalista Guilherme Pichonelli colocou a caminhada na rotina depois que resgatou e adotou a cachorrinha Rapadura (Kamá Ribeiro)
Existe uma condição crescente que, de acordo com dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), poderá fazer 500 milhões de pessoas adoecerem até 2030: o sedentarismo. O relatório divulgado em outubro de 2022 aponta que a falta de exercícios físicos levará uma parcela considerável da população mundial a desenvolver doenças cardíacas, diabetes e obesidade. Os alertas contra o sedentarismo têm se intensificado e a personal trainer Marcella Ramos Lázari, doutoranda em Gerontologia pela Unicamp, explica o porquê. “Conforme o mundo fica mais automatizado, as pessoas se movimentam cada vez menos [...] fazemos muito menos esforço e resolvemos as coisas sentados, do celular. Agora sentimos o impacto”.
Não tem como fugir da constatação: o corpo humano não foi feito para ficar parado e impor essa inatividade física a ele é o mesmo que levá-lo ao mau funcionamento a médio e longo prazos - nos casos mais leves, dores, nos mais graves, doenças crônicas. Marcella recomenda uma receita simples, ao menos para lembrar: chegar à rotina de prática de 30 minutos de atividades físicas todos os dias e buscar movimentar o corpo sempre que possível. Entre ir a pé a algum lugar ou ir de carro, é melhor optar pela primeira opção. Subir a escada em detrimento a pegar o elevador também. “Não deixe para amanhã, comece já. E se é difícil já assumir essas metas diárias, vá aos poucos, com metas menores, com exercícios duas vezes na semana. É hábito. Com o tempo você vai ganhando gosto, resistência e condicionamento para chegar ao ideal”, reforça a personal trainer.
Se existe algum tipo de limitação ou restrição, buscar o suporte médico é fundamental, mas Marcella recomenda que todos, sem exceção, tenham orientação de um profissional habilitado em Educação Física. Também é importante respeitar os próprios limites. Mas a personal trainer lembra de um “detalhe” nada irrisório na conta do sedentarismo: não adianta fazer atividade física e esquecer da alimentação saudável. “São duas faces da mesma moeda, o exercício pede a boa alimentação. Senão, é como se estivéssemos colocando um combustível ruim no seu corpo”. O importante, lembra ela, é começar a mudar em busca dos hábitos saudáveis. “O corpo tende a fazer aquilo que ele sempre faz. Se você sempre está em repouso, ele vai continuar assim. Se você tem o hábito de praticar exercícios, ele vai resistir a parar”, conclui.
O gerente comercial Elson Francisco mudou de vida e passou a se exercitar após descobrir que estava pré-diabético (Rodrigo Zanotto)
O susto que se tornou motivação
Com 44 anos, o gerente comercial Elson Francisco recebeu uma notícia surpreendente e assustadora do seu cardiologista: sedentário e com alimentação desregrada, ele já estava pré-diabético. “Sutilmente ele me disse que na próxima consulta já começaria a me receitar insulina. Naquela hora eu pensei, ‘o que estou fazendo comigo?’”. O susto transformou a vida de Elson. Hoje, 15 anos depois, mudou completamente a alimentação e faz academia todos os dias. Apesar de garantir que não sofreu ao iniciar a mudança da rotina, relata que em pouco tempo já estava habituado e gostando das atividades. “Você começa a ficar bem, a autoestima melhora, a saúde também. E o resultado foi que de lá para cá eu sou elogiado por aquele mesmo médico em todos os meus exames, que faço anualmente”.
O gerente não abre mão de um chope quando quer se divertir, mas sabe equilibrar pois entende que o exagero interfere nos exercícios. Ele também reforça que as atividades físicas lhe trazem bem-estar. “Você sai outra pessoa depois de fazer exercícios e consegue curar, de forma saudável, boa parte da ansiedade que viveu no dia”.
Bom para o corpo, coração e alma
Também foi um susto que fez Guilherme Pichonelli deixar o sedentarismo de lado, mas foi o carinho por uma cachorrinha que colocou o exercício de vez na rotina. O jornalista de 37 anos levava uma vida muito intensa no trabalho e dedicava pouco tempo para cuidar da alimentação, repleta de fast-food, e menos ainda para os exercícios. Foi quando sentiu uma pontada no peito e decidiu mudar os hábitos dedicando-se a andar de bicicleta. Mal imaginava, no entanto, que a transformação viria de fato ao encontrar uma cachorrinha atropelada enquanto pedalava. Ela ganhou atendimento médico, a dedicação e carinho de Guilherme e uma casa, onde, hoje, passa seus dias tranquila. Ou quase. “É muito elétrica, tem muita energia. Então eu caminho com ela pelo menos uma hora ou uma hora e meia de manhã e o mesmo tempo à tarde, todos os dias”, revela o tutor coruja, feliz ao ver a pet, batizada de Rapadura, deitada esparramada na sua caminha depois de gastar energia. Guilherme, que também mudou a alimentação e passou a cozinhar mais, se preocupando com o que ingeria, chegou a perder 39 quilos com a nova rotina. Conclusão, o corpo agradece, Rapadura também e o coração do jornalista fica tão saudável quanto alegre.
Mude a sua rotina e acabe com o sedentarismo:
✔ Faça pausas durante o dia no trabalho. Levante da cadeira, vá tomar água, alongue-se, ande um pouco antes de voltar para as atividades;
✔ Todo movimento faz diferença: troque o elevador pela escada sempre que puder e estacione o carro longe para andar mais até o destino;
✔ Sempre que puder, deixe o carro e vá ao seu destino a pé ou de bicicleta;
✔ Busque atividades físicas que você gosta. Pode ser dança, natação, caminhada, bicicleta.
✔ Siga a recomendação da OMS em relação ao mínimo de atividades semanais. Tanto para adultos quanto para idosos, a Organização orienta realizar, por semana, pelo menos de 150 a 300 minutos de atividade moderada (como lavar a louça, cortar a grama, limpar a casa) mais 75 a 150 minutos de atividade vigorosa (exercícios físicos).