MOTOR

Desbravando águas e horizontes

O caiaque evoluiu e pode receber motor e pedal, mas é remando que os campineiros têm apreciado bons momentos de lazer mesmo no inverno, que tem as águas geladas, mas paisagens ainda mais bonitas

Aline Guevara
11/07/2023 às 16:39.
Atualizado em 11/07/2023 às 16:39
Embarcação conquista cada vez mais fãs e praticantes do esporte (Laert Silva)

Embarcação conquista cada vez mais fãs e praticantes do esporte (Laert Silva)

Há quase quatro décadas, o editor de imagens Laert Silva, de 55 anos, descobriu no caiaque uma paixão que mudaria sua vida. Ainda jovem, com apenas 16 anos, ele foi movido pelo desejo de pescar em locais inacessíveis a partir das margens dos rios, e encontrou no caiaque uma solução prática. Mas a conexão com a embarcação foi ficando profunda e as navegações só aumentaram. “A gente sempre tem uma desculpa para levar o caiaque para a água. Pode ser por causa de um parafuso que apertei nele de uma forma diferente e quero testar”, brinca ele, rindo. O tempo frio da estação não o impede de navegar. “Só quando venta muito que atrapalha. Já tive que resgatar amigos em uma embarcação maior que não conseguiam voltar por causa das rajadas de vento”, avisa.

Modernizando a embarcação

Ele se aprimorou na atividade e acompanhou as mudanças do equipamento, que foram muitas, ao longo dos anos. “Na época que comecei eu tinha um caiaque simples, fino. Só era possível colocar as pernas dentro”. Seu caiaque atual é bem diferente: mais confortável, a embarcação é equipada com remo, pedal e motor, cada um acionado em um momento diferente, a depender do que o condutor quer fazer. Se o motor acelera o percurso, o pedal pode levá-lo a se aproximar de um lugar mais silenciosamente. Ele ainda incluiu um sonar, que revela a velocidade da embarcação, a temperatura e profundidade da água. 

O motor, explica Laert, tem chegado recentemente ao mundo dos amantes de caiaque. Ainda são poucas as embarcações que já vêm acopladas com ele, mas é possível adquirir somente os motores para instalá-los. A sua vantagem é dar ainda mais possibilidades de passeio para os navegadores. “Com o motor, alcançamos alguns pontos mais rapidamente. Então podemos fazer passeios mais longos, navegar para outros lugares”. No entanto, ele alerta: para ter um motor é necessário tirar a carteira de habilitação Arrais para condução de embarcações e registrar o caiaque na Marinha Brasileira. “É preciso ter toda documentação, notas fiscais e até laudo do engenheiro naval. Hoje o processo leva cerca de dois meses e tem um custo aproximado de mil e duzentos reais”.

O nível de personalização da embarcação varia de acordo com o gosto do dono, mas há muitas possibilidades. “Tem gente que coloca capota para se proteger do sol, alguns têm bagageiros amplos e há até quem coloque churrasqueira!”. Alguns têm a opção de dois lugares, portanto possibilitando um passeio com companhia.

Com o caiaque, navegadores acessam locais que oferecem visuais surpreendentes (Laert Silva)

Com o caiaque, navegadores acessam locais que oferecem visuais surpreendentes (Laert Silva)

As amizades no caminho

Ainda que o amor pela pescaria e pela natureza falem alto durante a prática de canoagem, é evidente que os laços firmados pelo caminho são bastante importantes para Laert. O grupo que formou com outros entusiastas do esporte faz mais do que propiciar trocas de experiências, mas oferece um apoio da comunidade. “No grupo de caiaqueiros, todo dia eu estou ajudando dois ou três. Sempre me fazem perguntas”, conta Laert, que é um dos navegadores com mais experiência. Esse conhecimento todo é valioso e acolhido pelos novatos no esporte. A ajuda não é só através de conversas: o veterano já chegou a socorrer e rebocar colegas de volta à terra depois destes terem problemas com suas embarcações. 

Um dos grandes parceiros de navegação de Laert entrou no mundo do caiaque por sua causa. O corretor de seguros Adriano Gonçalves Ferreira, que, perto do veterano, ainda está engatinhando com sua embarcação nos quatro anos de prática, já pescava com o amigo e embarcou na ideia conjunta de adquirir um caiaque. “A pesca com o caiaque é uma coisa única. É você conectado com o rio, com a natureza”. Os dois são parceiros e fazem muitos percursos juntos.

Contato próximo com a água aproxima o navegador da fauna e flora da região (Laert Silva)

Contato próximo com a água aproxima o navegador da fauna e flora da região (Laert Silva)

Paz, conexão e liberdade

Laert e Adriano explicam que sempre estão com a cabeça no próximo destino, pescaria ou aventura. “Eu pesco há muitos anos, sou pescador amador e isso foi o que me atraiu inicialmente. Mas hoje saio pouco para pegar peixes. Gosto mesmo de passear e curtir”, diz o editor. O “quintal de casa” dos navegadores campineiros é o rio Atibaia, saindo de Paulínia até a represa de Salto Grande, de Americana. Mas às vezes as expedições os levam longe, como na viagem para a praia de Ubatuba, onde ambos navegaram mar adentro para acampar em uma ilha. 

Os dois “caiaqueiros” também estão acostumados com outros tipos de embarcações, barcos e lanchas, mas garantem que navegar no caiaque é diferente e não abrem mão da experiência. “Com o caiaque, as viagens demoram mais, eu preciso me preparar melhor. O desafio é maior e mais gostoso. Você fica mais próximo da água, acessa uns lugares que não chega com as outras embarcações, e é aquela paz”, declara Laert.

Adriano completa: “Em um barco, você geralmente está com mais gente, é um conversando, outro ouvindo música, mas no caiaque, mesmo quando você sai em grupo, você navega sozinho. A experiência é individual. Você está ali, navegando ou pescando, daí começa a ouvir o canto de um pássaro, olha para uma nuvem e vê uma formação diferente, um raio de sol no final de tarde. A gente registra umas imagens incríveis. Mesmo assim, no ao vivo é diferente, tem lugares de tirar o fôlego”. 

O corretor ainda conta que o caiaque proporciona liberdade. É conexão com a natureza e desconexão do trabalho e das notificações do celular. Quando está sobre a embarcação, Adriano faz questão de pausar a rotina e só curtir o seu momento. “Nós começamos cedo e vamos até o entardecer, mas tudo passa tão rápido que quando nos damos conta o dia já passou”.

Nenhum dos dois se vê sem o seu caiaque. O corretor vendeu a embarcação, com o objetivo de fazer uma troca, e em dois meses já havia adquirido outra, ansioso para voltar para a água. Laert não consegue ver um fim para a prática. “Não vou parar tão cedo. O dia que eu não conseguir colocar mais o caiaque no carro, vou puxá-lo com a carretinha. Com certeza vou dar um jeito”, brinca. 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por