REVISTA METRÓPOLE

Carnaval sem Carnaval

A festa popular precisou ser reinventada e este ano acontece somente de forma virtual, com mostras, lives e lembranças dos carnavais de outrora

Da Redação da Metrópole
15/02/2021 às 15:22.
Atualizado em 22/03/2022 às 01:03
Caixeirosas fazem a festa no Carnaval de 2020, em Barão Geraldo: Este ano, o Carnaval só mandou lembranças (Cedoc/RAC)

Caixeirosas fazem a festa no Carnaval de 2020, em Barão Geraldo: Este ano, o Carnaval só mandou lembranças (Cedoc/RAC)

Rasparam a cabeleira do Zezé. Será por isso que a Jardineira está tão triste? Pois é, nenhuma pergunta do tipo é suficientemente sem graça perto da sem-gracice que é ou que será este carnaval da pandemia, sem suor, sem encontro - e até mesmo sem desencontro, que também é coisa do carnaval. Bloco, só se for o do eu sozinho. Máscaras... podemos mudar de assunto?

Não, não podemos porque a pergunta que não quer calar neste domingo de carnaval sem carnaval é: como aquietar o coração de quem ama a folia, mas, em plena pandemia não vai vestir a camisa listrada e sair por aí porque sabe que é preciso se proteger e proteger a quem se ama? Então aqui vão - para tentar consolar quem ficou sem a folia - algumas dicas da Metrópole de programas carnavalescos para o carnaval que temos no momento, o carnaval digital, das lives do Facebook e do Youtube.

QUE ANO É ESSE?

“A gente está acostumado a fazer carnaval, em que pese as dificuldades. Agora, não ter é realmente estranho. Fica uma sensação de vazio”, conta o sambista Ido Luiz, um dos integrantes do bloco Toma na Banda e sambista conhecido de Campinas – tem o projeto com a cantora Valéria Santos e atualmente integra o conjunto Família Santos.

Ido costuma dizer que tem o samba no DNA da família. Afinal, é neto do trompetista Nelson dos Santos, um dos fundadores da banda Homens de Cor, iniciada pelo maestro João de Oliveira, em 1933. É filho do ritmista Maruir dos Santos, um dos primeiros da família a integrar o Tomá na Banda. E irmão do músico Maruir Júnior, o Fino, da banda Partido Alto, bastante conhecida nos anos 2000. “Nem a idade [84 anos], nem a cadeira de rodas, tinham conseguido tirar meu pai do carnaval. Que ano é esse?”

SEM PAIXÃO, SEM TRABALHO

Sensação semelhante tem o presidente da Liga das Escolas de Samba de Campinas, Edson Joia. Ele explica que, apesar de a cidade não realizar desfiles desde 2015, integrantes das escolas continuavam vivendo do Carnaval. “É uma experiência nova, passar o carnaval dentro de casa. Não tenho palavras para explicar o que é. Muita gente de Campinas, como eu, estaria nesses dias viajando e fazendo o carnaval em outras cidades, participando dos desfiles em São Paulo ou no Rio de Janeiro. São compositores, mestres, ritmistas, costureiras e tantos outros profissionais que, além da paixão, perderam trabalho”.

‘Furaram a pele dos instrumentos'

“O que falar desse fevereiro sem aglomeração, sem folia, sem batuque. Quem diria! Enquanto folião, que ama carnaval desde criança e aos 7 anos já brincava, vendo o pai tocar, o sentimento é de tristeza. Agora vamos falar que profissionalmente eu toco em salão desde os 14 anos, e tenho 38. E se o carnaval é para o folião um momento de extrapolar, de liberdade e dias para sorrir e chorar com o desfile da sua escola de samba, para músicos o carnaval é também trabalho. É o nosso 13º salário, mas além disso é um período de auge do calendário. Então, a sensação é de que furaram a pele dos instrumentos musicais  e amarraram as pernas das passistas”, diz o percussionista Ruan Spínola, integrante dos grupos Velha Arte do Samba, Crioulo Trio, Los Guarijos e Duo 90.

CARNAVAL VIRTUAL

FESTIVAL NORDESTINO

Outra dica para os fãs do carnaval é o  Sarau Viva Nordeste, um festival virtual de homenagem à cultura nordestina, que tem como convidados artistas sediados em Campinas. O evento, que começou no dia 04 de fevereiro, segue com atrações semanais gratuitas até o mês de março, com transmissões ao vivo pelo canal do Sarau no youtube ou no Facebook.

FOLIA DA MENINADA

Só que a agenda agora é para a semana que vem. O “Sarau Aperitivo: Bailinho de Máscaras: meninada em folia”, na quinta-feira (18), às 19h30, com a dupla de artistas brincantes Elaine Alves e Dani Almeida, num espetáculo lúdico, permeado pelo universo da literatura de cordel, cantigas da tradição oral e jogos brincantes. Também no youtube do Sarau.

RETALHOS DE CORDEL

Na sexta (19), o Cordel Cantante, grupo que leva poesia de cordel e músicas autorais de forma alegre e democrática, com teatro, música, dança e contação de histórias, faz uma apresentação às 19h30, com a palestra espetáculo “Retalhos de Carnaval”. No  YouTube @SarauVivaNordeste  ou  Facebook @sarauvivanordeste.

REGATAS MOSTRA SEU MELHOR

A exposição Meu Melhor Carnaval no Regatas exibe fotos, fantasias, adereços, reportagens e objetos de decoração enviados pelos associados, além de trilha sonora especial. O carnaval é uma festa tradicional no clube campineiro mas suspensa pela pandemia. A mostra pode ser vista no domingo (14) e terça (16) das 10h às 15h e segunda (15) das 17h às 22h no Red Hall. É aberta a associados e não sócios devem consultar disponibilidade de convites, também gratuitos. A mostra segue os protocolos de saúde com número de visitantes restrito, uso obrigatório de máscara facial, distanciamento e álcool 70% para higienização das mãos. Avenida Cel. Silva Telles, 462 - Cambuí. Informações: pelo tel.: (19) 3794 2717.

CARNAVAL SEM FOME EM BARÃO

Os blocos de Barão Geraldo substituíram o desfile de rua pelo Carnaval sem Fome. A campanha pretende arrecadar ali

mentos para famílias em dificuldade econômica que residem no distrito e 

no bairro São Marcos. Desde o dia 12 e até 16 de fevereiro, os alimentos são recebidos entre 10h e 14h em seis pontos estratégicos de Barão Geraldo, entre eles o Centro Cultural Casarão e a Associação Pró-Bairro. A ação é realizada em conjunto com o Conselho de Segurança do distrito e a Unicamp, que também recebe doações na portaria 5.

Carlito Maia, foi o maior carnavalesco da história de Campinas. Inspirado nele, Assis Valente compôs ‘Camisa Listrada’Dizem as boas línguas que a fama gay de Campinas – que já foi maior, diga-se – se deve e se deverá eternamente a Carlito Maia. Figura marcante na vida da cidade nos anos 30, 40, 50 e 60, o filho de Orosimbo Maia e dona Odila Roc

ha Brito Maia, nascido em 29 de julho de 1903, era médico, artista plástico, ator, e, acima de tudo, um carnavalesco de proa: campeoníssimo dos tradicionais concursos de fantasia do Círculo Militar de Campinas, era também personagem de relevo na então chamada alta sociedade do Rio de Janeiro, com direito a brilhar nos desfiles de fantasia e bailes de gala do carnaval carioca. E é aí que começa a fama alegre de Campinas: quando chegava o carnaval, Carlito Maia, que não era do bloco do eu sozinho, fazia questão de levar para o Rio toda a sua entourage - os amigos, os amigos dos amigos, os conhecidos dos amigos, os conhecidos dos conhecidos... Os tempos eram de muito preconceito e é do preconceito que nasce a troça, o chiste, a piada. E é a piada que espalha a fama. O resto é história.

Mas a história de Carlito Maia é rica demais para ficarmos na piada. De família rica, filho de pai fazendeiro que foi três vezes prefeito de Campinas, Carlitinho não transitava somente no grand monde campineiro ou carioca. Era figura fácil da noite carioca, amigo de músicos, cantores, cantoras, compositores, entre eles o grande Assis Valente, compositor de Brasil Pandeiro e Anoiteceu e Camisa Listrada, aquela que diz “tirou seu anel de doutor para não dar o que falar/Saiu, dizendo mamãe eu quero mamar, mamãe eu quero mamar”.

Assis Valente, que era homossexual, teria composto Camisa Listrada inspirado no amigo Carlito Maia. Gravada em

 1937 por Carmen Miranda, a canção concorreu com Eu dei, também gravada por Carmen, como um dos grandes sucessos do carnaval de 1938. (Jary Mércio)

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