COMPORTAMENTO

Campineiros cruzam fronteiras, mas preservam laço com terra natal

Eles não se arrependem da vida no exterior, mas as conexões com o município se mantêm através de família, amigos e nostalgia

Aline Guevara
25/07/2023 às 17:07.
Atualizado em 25/07/2023 às 17:07

Quem sai da cidade para morar fora não se arrepende, mas carinho pelo local e pelas pessoas amadas que ficam permanecem (Alessandro Torres)

O número de brasileiros que decidem viver fora do país só cresce. Segundo dados divulgados pelo Itamaraty, entre 2010 e 2020 o número de emigrantes do Brasil no exterior cresceu 35%, saltando de 3,1 milhões para 4,2 milhões. Só em Portugal, de acordo com informações divulgadas pelo governo em junho, um dos locais que mais recebem brasileiros como residentes, nós representamos 30% da população total de imigrantes da nação europeia. 

Dentre estes milhões de brasileiros estão também campineiros, que atravessaram fronteiras em busca de novos aprendizados, experiências e um novo lar. O distanciamento geográfico, no entanto, não foi suficiente para apagar as raízes e eles mantêm laços - uns mais fracos, outros mais fortes - com a cidade de Campinas, que acaba de completar 249 anos. A Metrópole ouviu algumas destas pessoas, que compartilham seus relatos e suas saudades.

Pedro Vasconcelos (Arquivo Pessoal)

Pedro Vasconcelos, de 37 anos, decidiu sair do Brasil para fazer intercâmbio e aprender inglês. A Irlanda, sua atual residência, não foi a primeira escolha, mas a cidadania portuguesa facilitou a permanência no país que faz parte da União Europeia. O começo, lá em meados de 2020, foi difícil. Primeiro pela falta do inglês, segundo por causa da pandemia de covid-19 que começou em seguida na região. Hoje, três anos depois, estando afiado na língua local e ao lado da esposa Ana, o técnico de TI entende que conquistou uma vida mais confortável para o casal. Os dois se conheceram em Campinas, cidade em que Pedro cresceu, mais especificamente em Barão Geraldo, portanto ambos carregam o local consigo. Mas o técnico de TI acredita que perdeu bastante a conexão com a região, exceto pela mãe e o irmão, que permanecem aqui. E acredita que em parte é por ter ficado quase quatro anos afastado. “Eu falo com a minha mãe por videochamada, pelo menos uma vez por semana. Aproveito também para conversar com meus avós e pessoas mais próximas. E me afastei de quem não era muito próximo”. Ele trocou os bares de Barão Geraldo pelos pubs de Dublin e revela que saudade mesmo sente das pessoas que ficaram em Campinas, mas já programou a sua primeira volta para a cidade para janeiro de 2024.

Flávia Carvalho Jackson (Arquivo Pessoal)

A artista plástica Flávia Carvalho Jackson, de 46 anos, nasceu e cresceu em Campinas, mas desde 2015 estabeleceu-se em Miami, nos Estados Unidos. Não são poucas as suas memórias afetivas da cidade. Lembra do colégio, das ruas por onde passava, dos muitos bairros onde morou. Por causa do emprego da mãe, professora de história e geografia, a família se mudou para várias regiões diferentes que dependiam das escolas onde a educadora trabalhava.

Desde os 23 anos, ela começou a conhecer muitos países diferentes a trabalho, como Israel e Hungria, mas quando imigrou definitivamente para os EUA, passou sete anos sem voltar para o Brasil. “Eu recomecei a minha vida, me divorciei, tive que acertar o meu visto, eu mudei de carreira e comecei a trabalhar com artes plásticas. Depois veio a covid-19. Durante esse tempo, é como se o Brasil e Campinas tivessem ficado adormecidos em mim”. Mas quando pôde voltar ao país de origem, em 2022, a emoção despertou intensamente. “Eu não tenho palavras para explicar o quão precioso é o lugar de onde você veio. Eu tinha necessidade de ir à Lagoa do Taquaral, à Feira Hippie, todo dia eu passeava em algum lugar”.

Flávia acha que as pessoas tendem a não prestar atenção ao seu redor na cidade onde moram. “Mas quando eu estava ali, sentada com meu marido na Praça Carlos Gomes, que é do lado do colégio onde eu estudei, vendo aquelas árvores enormes, o coreto… Eu até choro de lembrar”, conta ela, emocionada. “Eu não sabia que Campinas era tão linda. Minha terra, minhas raízes, coisas que você só valoriza quando sai. Agora eu volto todo ano para o Brasil e a primeira parada é sempre Campinas”. A artista conta que voltar para a cidade natal lhe traz uma energia rejuvenescedora. “É claro que existem coisas que não são positivas em Campinas, mas eu vejo a cidade evoluindo, artisticamente inclusive. E eu volto para os EUA tão feliz, alegre, positiva, com uma bateria extra para aguentar mais um bom tempo até regressar para a minha cidade”, completa. 

Karina Folegatti (Arquivo Pessoal)

Karina Folegatti, de 45 anos, nasceu em Campinas, mas já se sente em casa morando na cidade do Porto, em Portugal. Aqui no Brasil, ela era jornalista, mas trocou de área para seguir o sonho de morar fora. “Vim fazer um mestrado em Turismo e Patrimônio, em 2017, e aprendi muito sobre a cultura de Portugal quando cheguei. Na verdade, o curso foi um pretexto para eu vir, porque queria sumir do Brasil devido à violência”, explica. O filho, na época com 10 anos, a acompanhou. “Portugal foi escolhido por seu sistema educacional de ótima qualidade, já que pensava no futuro do meu filho como prioridade, e principalmente por ser um país seguro. Queria vê-lo crescer com segurança e isso tenho aqui. Hoje ele está com 16 anos e faz tudo sozinho, é independente, isso não tem preço”.

Karina também mantém o contato com amigos e familiares na cidade, de quem sente falta, através das redes sociais e WhatsApp. Ela não se vê voltando para o Brasil, mas continua conectada com a terra natal através das notícias. “Nós deixamos o jornalismo, mas o jornalismo não nos deixa”, brinca ela. Há ainda uma pequena saudade de quitutes que comia na cidade, como a pizza de uma pizzaria preferida, um lanche tradicional, mas garante que o que faz falta mesmo é o pão francês cortado em formato de coração pelo pai, que sempre ofereceu para ela e para a irmã. “Ele ainda faz isso e manda foto no grupo da família no WhatsApp. Sempre dois, um para cada filha. Disso, sim, eu sinto falta, dos gestos de carinho. Ainda bem que hoje as redes sociais conseguem nos aproximar de família e amigos. Me sinto abraçada quando preciso, mesmo estando longe, com o oceano Atlântico no meio dos dois continentes”.

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