SAÚDE

As principais dúvidas diante do diagnóstico do câncer de próstata

Convidamos três especialistas para compartilhar os questionamentos que comumente chegam até eles e a dar as respostas que costumam fornecer para orientar e tranquilizar os pacientes

Karina Fusco
27/11/2023 às 11:33.
Atualizado em 27/11/2023 às 11:33
Levar uma vida saudável com um cardápio adequado e atividades físicas melhora o resultado do tratamento contra o câncer (freepick)

Levar uma vida saudável com um cardápio adequado e atividades físicas melhora o resultado do tratamento contra o câncer (freepick)

A já tradicional campanha Novembro Azul lembra a todos da importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata. Se no passado a doença era, em boa parte dos casos, quase um atestado de óbito, hoje, com o avanço dos tratamentos, os dados são bastante animadores: o paciente se cura em mais de 90% dos casos, quando a descoberta e o tratamento são iniciados precocemente. Por isso, o mês mundial de combate ao câncer de próstata continua tão importante.

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima para o triênio 2023-2025 que 71,7 mil novos casos devem surgir no país por ano, um sinal de alerta para que todos os homens façam seu check-up anualmente ou visitem o urologista para a realização de exames. No consultório, as dúvidas são muitas. Três médicos de Campinas contam sobre os questionamentos que mais ouvem de seus pacientes e as respostas mais comuns diante de cada um deles.

André Meireles, médico coordenador da urologia do Hospital PUC-Campina (Divulgação)

André Meireles, médico coordenador da urologia do Hospital PUC-Campina (Divulgação)

Eu não sinto nada, por isso não posso não ter câncer de próstata?

O tumor de próstata inicial muitas vezes não dá mesmo nenhum sinal. Mas não se deve esperar sentir algum sintoma urinário para procurar um urologista. Os pacientes devem fazer sua consulta anual a partir dos 50 anos de idade, independente de ter sintomas ou não.

Ninguém na minha família teve câncer, então também não devo ter?

O fato de os parentes não terem câncer não é uma certeza de que aquele homem também não terá. O tumor de próstata é muito frequente. Para os sexagenários, por exemplo, a frequência é de um caso a cada 15 homens, ou seja, é alta.

O tamanho da próstata no exame de imagem tem relação com o tamanho do tumor?

Não. Existem próstatas pequenas com tumores gravíssimos e próstatas enormes sem tumor algum. Ou seja, tamanho de próstata não é uma informação relevante ou fiel para saber se o paciente tem o câncer ou não.

Podemos negociar a opção de não fazer o exame de toque?

Graças a campanhas como o Novembro Azul, todos sabem que o tumor de próstata é frequente, mas o exame de toque retal, por ser um pouco mais constrangedor. Há quem queria evitá-lo e substituí-lo por exame de imagem ou PSA, mas isso não é recomendável, pois em cerca de 20% dos tumores, o paciente pode ter o PSA normal e o diagnóstico é descoberto pelo toque. O exame físico é muito importante para o diagnóstico precoce.

Como ficará a minha sexualidade?

A prótese é uma glândula situada dentro da pelve renal e os nervos responsáveis têm um contato íntimo com ela, então, nos tratamentos, tanto a radioterapia, em que se aplica uma energia em cima da próstata, ou a cirurgia, em que se retira a próstata do local, podem agredir os nervos e atingir a circulação pélvica, prejudicando a ereção. Porém, os avanços da medicina permitiram reduzir a chance de lesão nessas estruturas e assim é possível preservar mais a ereção. O urologista saberá orientar cada paciente quando houver necessidade de tratamento para retomar uma vida sexual satisfatória.

Ubirajara Ferreira, médico urologista e professor titular de urologia da Unicamp (Divulgação)

Ubirajara Ferreira, médico urologista e professor titular de urologia da Unicamp (Divulgação)

É uma doença grave e eu tenho chances de continuar vivendo?

O paciente não está acostumado com a palavra câncer e inicialmente parece algo nebuloso, mas é importante saber que é possível se curar. Se estiver com a doença localizada, a chance de cura é de 90% a 95%. E mesmo com a doença avançada há muito o que ser feito para que ele continue vivendo.

O câncer de próstata leva à impotência?

Existe, sim, uma chance de ter esse problema, pois a potência é geralmente afetada no pós-operatório, mas a possibilidade de retorno à potência é muito grande, em praticamente 100% dos casos. E hoje em dia há muitas possibilidades de tratamentos para que isso ocorra. Há medicamentos que favorecem a chegada de sangue no pênis – são vasodilatadores que funcionam como uma espécie de “fisioterapia”. Há ainda drogas injetáveis locais, com ação vasodilatadora mais potente, e por último a cirurgia de prótese peniana. A evolução acontece aos poucos. O mais correto é aguardar até um ano para reverter a situação. Se não houver resposta com esses tratamentos minimamente invasivos, a proposta é a colocação de prótese, que funciona como um suporte para a penetração.

Quais são as principais evoluções no tratamento?

As novas drogas, que são bloqueadores hormonais de última geração. Chega um momento em que a doença é muito responsiva à testosterona circulante, ou seja, o tumor cresce por conta da testosterona que circula no sangue do homem, então é preciso bloquear ao máximo esse hormônio. Essas novas drogas têm esse efeito de praticamente zerar a testosterona, com poucos efeitos colaterais. Além disso, a combinação das drogas permite aumentar a sobrevida de pacientes com a doença mais avançada, metastática, por exemplo. A cirurgia também evoluiu muito, entrou a robótica e o pós-operatório agora é mais tranquilo.

A cirurgia é necessária em todos os casos?

Hoje sabe-se que deve haver maior parcimônia para a indicação da cirurgia. Se for um caso em estágio muito inicial, o médico pode fazer um acompanhamento vigiado. De forma geral, hoje o cenário é mais positivo, os homens estão abertos às conversas e atentos à necessidade das consultas anuais. 

Vinícius Corrêa da Conceição, oncologista clínico (Divulgação)

Vinícius Corrêa da Conceição, oncologista clínico (Divulgação)

Qual é o prognóstico?

O prognóstico é muito variável. Existem algumas características clínicas e laboratoriais (níveis de PSA) que ajudam o médico a definir um pouco melhor. Mas é importante ressaltar que, mesmo que o prognóstico não pareça ser um dos melhores inicialmente, hoje temos tratamentos eficientes disponíveis para todas as situações, mesmo quando a doença é mais séria ou agressiva. A jornada pode ser longa, mas com bons resultados. Porém, a maior parte dos pacientes costuma ter doenças pequenas e localizadas, o que faz a chance de cura ser muito alta.

Como será o tratamento?

O tratamento que essencialmente cura o câncer de próstata é a cirurgia ou a radioterapia, que hoje são mais seguras, com menos efeitos colaterais e com resultados muito bons. Grande parte dos pacientes têm um desfecho muito positivo, que é a cura, e mesmo aqueles que eventualmente não podem se curar, podem contar com tratamentos eficientes que garantirão a ele boa qualidade de vida, muitas vezes muito perto de uma vida normal.

Isso ocorre mesmo em caso de metástase?

Mesmo para pacientes em que a doença tenha se espalhado – e o osso é o principal local para onde esse câncer vai – hoje o tratamento com injeções trimestrais ou semestrais associadas à medicação oral, permite o controle dos sintomas, principalmente da dor, e o paciente convive com a doença de forma que tem condições de continuar trabalhando e mantendo uma vida social. Os tratamentos hoje permitem que os pacientes vivam por muitos anos com qualidade de vida, trabalhando, viajando.

Quais são as principais novidades no tratamento?

O antiandrógenos, que são comprimidos que levam à diminuição dos níveis de testosterona do paciente, e os radioisótopos, que são medicamentos que emitem energia (partículas alfa ou beta), que são substâncias trabalhadas radiativamente que combatem as células tumorais do câncer de próstata. São tratamentos endovenosos, mas o mecanismo de ação é diferente dos antiandrógenos e da quimioterapia, que trouxeram um nível elevado de eficiência com menos toxicidade do que a quimioterapia convencional. 

Quais são as chances de cura?

Se a doença estiver localizada só na próstata, a chance de cura é alta. Os tratamentos curativos (radioterapia e cirurgia) também evoluíram. Hoje se irradia muito menos os órgãos ao redor da próstata e a cirurgia pode ser minimamente invasiva. Quanto mais cedo o diagnóstico, maior a chance de cura. Não esperar ter algum sintoma para procurar o médico é essencial, por isso é tão necessária a campanha Novembro Azul. Homens com mais de 45 anos devem visitar o seu médico anualmente para fazer o check-up, o exame de toque e a dosagem de PSA. 

Outras doenças, como diabetes ou hipertensão, impactam no tratamento do câncer de próstata?

Diretamente, não. O que vai impactar são questões como o momento do diagnóstico, o tamanho do tumor e se ele está localizado ou não. O fato de o paciente ter outras comorbidades, em caso da doença localizada, não há impacto no prognóstico. No entanto, se o paciente tem hipertensão e diabetes fora de controle, já tem problemas renais ou de visão, isso pode dificultar o tratamento, isso porque em casos de doenças mais avançadas há medicações indicadas que podem fazer a pressão aumentar, alguns precisam ser tomados junto com corticoide e esta substância aumenta a glicemia. Isso requer acompanhamento mais de perto do oncologista e de outros médicos, como endocrinologista, cardiologista e geriatra.

O que possível fazer no dia a dia para que o resultado seja melhor?

Ter a vida mais saudável possível, o que significa manter o peso controlado, fazer atividade física regularmente e ter uma alimentação balanceada, com menos carboidrato e gordura, e rica em frutas, verduras e legumes.

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