FAMÍLIA

As experiências das mães com proles numerosas

Mulheres contam os desafios e alegrias de ter e cuidar de muitos filhos, seguindo com uma família numerosa e contra as estatísticas

Cibele Vieira
10/05/2022 às 14:41.
Atualizado em 10/05/2022 às 14:41
A família de Andrea e Fábio: 11 filhos, um genro e duas netas (Arquivo Pessoal)

A família de Andrea e Fábio: 11 filhos, um genro e duas netas (Arquivo Pessoal)

O coração de mãe sempre será imenso. Mesmo assim, o tamanho médio das famílias brasileiras vem diminuindo e a expectativa é que até 2030 a taxa de fecundidade média no país seja de 1,5, ou seja, não chega a dois filhos por família. Mas as estatísticas existem para serem contestadas. E é isso que fazem algumas famílias: quebram os padrões e se tornam alvo de curiosidade por serem mais numerosas que a média. 

É o caso da professora Jordana de Sousa Moura Araujo, de 41 anos, e do advogado Francisco, de 46 anos, que moram no Jardim Santa Clara, em Campinas. Eles têm cinco filhos: o mais velho com 22 anos e a mais nova com quatro anos. “Eu amo a maternidade!”, diz Jô. Mas a rotina não é nada calma, como ela mesmo explica: “eles brigam por espaço e atenção o tempo inteiro, cada um tem as suas razões e personalidades distintas! Para manter o equilíbrio é preciso muito diálogo, amizade, compreensão e respeito. Só a conversa traz harmonia, aproximação e a união na família”. 

Ao viver em uma grande família, você nunca está sozinho e, às vezes, as mensagens não são captadas. Por isso, Jô instituiu um modelo de conversa, “que é cada um expondo suas vontades e interesses”. Isso é praticado quase que diariamente por Luiz Henrique, de 22 anos, Victor Hugo, de 20, Mirella Carolina, de 12, Helena Fernanda, de sete, e Mariah Cecilia, de quatro. A mãe conta que muitas vezes precisa ser rígida nas questões de estudo e organização. Mas ressalta que os mais velhos ajudam com as mais novas. “O Luiz Henrique, que é casado, trabalha e estuda Direito, mas sempre está em casa e curte as irmãs, enquanto o Victor Hugo, que também trabalha e cursa Jornalismo, é o que mais chama atenção das meninas colocando regras”.

Jô se casou cedo e foi mãe aos 19 anos. Ela conta que enfrentou dificuldades e que apenas o primeiro filho fez parte do planejamento do casal. “Os outros vieram de pílulas tomadas com atraso e a última foi uma surpresa porque eu havia enfrentado um problema de saúde e recebi a notícia que não poderia mais engravidar, mesmo assim veio”, explica. Hoje se diz orgulhosa da família, mesmo que os dias sejam corridos. Ela deixou o trabalho de professora em 2015, quando nasceu a quarta filha. Agora se dedica ao trabalho social e comunitário e tem um cargo no diretório feminino de um partido na cidade.

 São 11, mas com individualidade!

Bom humor, muita praticidade, cabeça tranquila e parceria. Esta é a fórmula para levar com facilidade o relacionamento em família, preconizado pelo casal Andrea Calseverini, de 46 anos, e Fábio de Toledo, de 51 anos. Eles têm 11 filhos. Isso mesmo, onze!!! A mais nova tem cinco anos, a mais velha 29. Conviver com temperamentos, personalidades e idades tão diferentes exige dos pais olhos e ouvidos bem abertos. “Não é porque são muitos que devem ser tratados como bando. Eles precisam ser tratados de maneira desigual, cuidando dos assuntos que cada um precisa conversar individualmente”, diz Andrea. 

A maternidade abundante foi encarada de maneira tão gratificante pelo casal que virou até atividade profissional. Hoje, eles compartilham suas experiências em cursos, palestras e lives de orientação para outros pais, “contando os erros e acertos da família pelas redes sociais”. Andrea dá algumas dicas. A primeira, é que a rotina é necessária, principalmente numa família numerosa. Mas também é preciso maleabilidade e bom humor para lidar com os imprevistos, “pois a maternidade, seja de um ou de 11, não tem que ser pesada”.  A outra dica é não esquecer o relacionamento do casal “porque os filhos vêm e vão, mas nós ficamos, então é preciso priorizar essa relação e achar tempo para os dois”.

O casal é da pequena cidade paulista de Tabapuã. Quando eram namorados, conversavam sobre o desejo de uma família grande, planejavam uns cinco filhos. Católicos, optaram por ser “abertos à vida” e não fazer nenhum controle artificial após o casamento. Assim, os filhos foram chegando, o primeiro por parto normal e os outros 10 por cesárea: Ana Carolina (hoje com 29 anos e já é mãe), Pedro Henrique (26), João Lucas (24), José Filipe (22), Maria Gabriela (21), Maria Clara (19), João Rafael (17), Ana Cecilia (15), José Vicente (10), Ana Teresa (7) e Álvaro José (5). 

Andrea é formada em Gastronomia - atividade que exerceu profissionalmente até a 10ª gravidez - e Fábio é juiz de Direito. Eles moraram em seis cidades em função da profissão de Fábio e estão em Campinas há 21 anos, com casa na Vila Brandina. Depois das restrições pela pandemia, quando a família permaneceu unida, todos retomaram suas vidas de estudo e trabalho, deixando a casa um pouco vazia. “Durante a semana, ficamos apenas com seis filhos, é estranho”, diz Andrea, que relata suas experiências familiares no Instagram: @maedos11

A psicopedagoga e psicóloga Elizabeth Monteiro, de 73 anos, tem quatro filhos e seis netos. Seu livro de maior sucesso é “A culpa é da mãe” (Summus Editorial). Partindo das relações familiares na época de sua avó e passando pela própria infância, ela mostra que as mães erram, independente da geração. Mas não devem se sentir culpadas. Veja alguns lembretes que ela publica em suas redes sociais (@bettymonteiropsicologiaoficial):

. A maternidade não precisa ser pesada e desgastante. As crianças não precisam de mães perfeitas. Precisam de mães felizes.

. De tanto buscar corrigir os filhos, esquecemos de amá-los. Esqueça um pouco a sua função de educar e, às vezes, veja o seu filho com olhos de criança. 

. Não espere perder a paciência para dar limites. Se você age quando ainda está calma, corre menos riscos de exagerar.

. Existem dois tipos de filhos: o filho sonhado e o filho real. E você só ama realmente o seu filho, quando para de idealizá-lo e o aceita como ele é. 

. Ser mãe implica em saber se separar na hora certa: em tornar-se desnecessária.

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