ESPECIAL SAÚDE DA MULHER

Alerta rosa: importância da prevenção do câncer de mama

Se você acha que tem menos chance de ter um câncer de mama porque não tem casos na família ou porque no autoexame não tem sintomas, reveja seus conceitos!

Cibele Vieira
31/10/2022 às 14:25.
Atualizado em 31/10/2022 às 14:25

"Há muitas novidades em pesquisas, drogas e possibilidades de tratamento mais poupadoras, mas ainda não incorporadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), limitando o acesso", diz Livia Conz, mastologista (Rodrigo Zanotto)

A mamografia é o único exame capaz de diagnosticar precocemente o câncer de mama, mesmo quando ainda é incipiente. Em Campinas, a doença tem incidência de 71,3 casos a cada 100 mil habitantes e, depois das doenças cardiovasculares, é a que mais mata. O alerta da Secretaria Municipal de Saúde abriu as atividades realizadas no mês de outubro na cidade para lembrar sobre a importância da prevenção. Afinal, se for diagnosticada precocemente, a cura pode chegar a 95% das pacientes.

Mas não é preciso esperar outubro para procurar orientação ou realizar exames, “faça isso o ano todo”, ressalta Lívia Conz, mastologista do Hospital do Amor (antigo Hospital do Câncer de Barretos), em Campinas. A unidade realiza mamografias de pacientes encaminhadas pelos Centros de Saúde e, se houver alguma alteração, elas passam por consulta, realizam exames complementares como ultrassom e biópsia, quando necessário. Tudo gratuitamente. “Hoje temos campanhas mais elaboradas que favorecem uma busca mais ativa das mulheres”, explica a médica.  

O câncer de mama não tem um fator único de risco e sim um conjunto de fatores que favorecem o surgimento da doença. Entre eles estão alguns hábitos de vida, como o sedentarismo, a obesidade, a alimentação, a reposição hormonal superior a cinco anos e a idade (por conta do envelhecimento das células). “Apenas 10% dos casos são hereditários”, conta Lívia. 

O autoexame continua sendo recomendado, mas sua eficácia é considerada baixa, pois a detecção de sinais palpáveis é mais comum quando a lesão já está avançada. A mastologista afirma que “hoje é preconizado o autoconhecimento, observando alterações na pele ou a retração do mamilo, por exemplo”. 

O rastreamento mamográfico, preconizado a partir dos 40 anos, ainda é o exame mais eficaz para a detecção precoce e redução do número de mortes, que em Campinas gira em torno de 17 óbitos para cada 100 mil mulheres. “É um exame eficiente, mas precisamos ampliar o acesso”, reflete Lívia, lembrando que muitas mulheres ainda resistem à realização por desconhecimento ou receio. “Há muitas novidades em pesquisas, drogas e possibilidades de tratamento mais poupadoras, mas ainda não incorporadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), limitando o acesso”, lamenta.

Hábitos de vida

Quando se fala em prevenção do câncer de mama é preciso abordar a mudança de hábitos de vida. A alimentação é um fator importante e a mastologista Lívia Conz recomenda uma dieta mais balanceada, com redução do consumo de carboidratos e gorduras, evitando o ganho de peso após a menopausa. Para quem faz reposição hormonal, ela sugere uma vigilância médica cuidadosa para não aumentar os riscos. E o exercício físico não pode faltar: atividades aeróbicas pelo menos três vezes na semana ajudam a prevenir a doença.

Outro fator bastante associado à ocorrência do câncer mamário é o consumo de bebidas alcoólicas. Isso porque o álcool eleva os níveis do estrogênio, principal hormônio envolvido na multiplicação das células tumorais nas mamas. Segundo a Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC), o risco aumenta de 7% a 10% a cada 10g a mais (que a dose limite) de álcool consumido diariamente por mulheres adultas. A dose considerada limite corresponde a uma lata de cerveja de 350 ml, uma taça de vinho de 90 ml ou uma dose de destilado de 30 ml.

Exames e tratamentos

Após a realização da mamografia, é preciso que as mulheres retornem ao médico para receber orientações. Um dos resultados do exame é a indicação da categoria BI-RADS (um sistema de padronização de laudos) em que o nódulo se encontra. Se o resultado vier com categoria 1 ou 2, é considerado normal. Se vem como categoria 3, precisa ser repetido em três meses. E se tem categoria quatro ou cinco, precisa procurar um especialista sem demora para receber orientações. “Esse resultado não significa que a pessoa tenha câncer, mas é um exame alterado que necessita ser investigado, geralmente com ulttrassom ou biópsia”, esclarece a mastologista. 

Cabe ao oncologista estabelecer os critérios de tratamento, que basicamente é composto por cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Hoje existe uma tendência de preservar as mamas em mulheres mais novas, por isso a quimioterapia é feita antes da cirurgia (para diminuir o tumor). Na linha de novos tratamentos, Lívia destaca a hormonioterapia, frequentemente utilizada após a cirurgia para reduzir o risco de recidiva da doença. É administrada na forma de comprimidos, em períodos entre cinco e dez anos.  

Uma crítica feita pela mastologista em relação aos serviços públicos de saúde diz respeito à falta de suporte para as mulheres. “O tratamento não é fácil, falta suporte psicológico, psicoterapia e orientação nutricional. Uma equipe multidisciplinar com essa abordagem poderia ajudar muito”, pondera. 

O câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células anormais da mama, que forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos.

Viviane Felix Oliveira desconfiava de pedra nos rins, descobriu metástase no fígado e só depois o câncer na mama. Tratou, faz medicação preventiva mensal e leva vida normal (Fotos: Gustavo Tilio)

Lição de vida

Viviane Felix Oliveira, de 46 anos, fez o caminho inverso para chegar ao diagnóstico correto. Ela tinha 38 anos e desconfiava de uma pedra de rim, o que a levou ao ultrassom com o urologista. Ele não encontrou nada no rim, mas viu uma mancha no fígado, que depois de outros exames foi diagnosticado como câncer e operado. Mas o oncologista resolveu investigar melhor e descobriu que no fígado havia uma metástase, enquanto o tumor original era nas mamas. Foi o primeiro caso na família e hoje ela trata como uma doença crônica, embora tenha uma vida normal.  

“A descoberta me tirou o chão, foi uma grande surpresa”, relembra. Ela havia acabado de comprar sua casa própria, mas teve que adiar a mudança. “Sou católica e pude experimentar minha fé na prática. Só consegui seguir o tratamento por isso”, confessa. Ela fez quimio, mastectomia radical e reconstrução das mamas. Os efeitos colaterais da quimio ela classifica como assustadores. “Cuidar da mente foi fundamental. Busquei apoios para manter o equilíbrio, fiz terapia, yoga e busquei a medicina alternativa pra cuidar também da alma”, revela. 

O artesanato foi um aliado ao longo do tratamento, tanto que Viviane já pensa nele como um plano B para a aposentadoria. Retomou o trabalho como advogada em uma indústria química depois de um ano e meio afastada e hoje, passados dez anos, ainda recebe medicação a cada 21 dias por uma bomba infusora.  “Convivo com isso, não questiono, tento ajudar outras mulheres com informações e orientações”, afirma. O aprendizado da doença se reflete no modo de vida atual: um dia de cada vez, sem tanta ansiedade, mais leve. “Não dá pra romantizar a doença, é preciso enfrentar e buscar ajuda, mas temos que manter a esperança”, diz. Como advogada, ela ajuda outras pessoas a buscarem seus direitos, principalmente quando procedimentos são negados pelos planos de saúde. 

A professora Edna Barros perdeu o chão quando recebeu o diagnóstico, mas enfrentou o tratamento e hoje, com uma vida menos corrida, conscientiza seus alunos e outras pacientes sobre prevenção e cura (Gustavo Tilio)

Não estava preparada

A professora Edna Lucia Baros Silva, de 58 anos, estava a um mês de completar 50 anos quando, ao abaixar para calçar o tênis, sentiu um incômodo no seio. Como já acompanhava uns nódulos benignos, resolveu investigar melhor. Após a biópsia, ouviu do médico: “você está com câncer”. “Meu mundo parou. Para mim era uma sentença de morte, eu não estava preparada para ouvir aquilo. Perguntei: e agora? A resposta veio serena: ‘agora a gente trata’”, relembra.

Isso foi em 2014, quando Edna dava aulas em duas escolas e tinha uma vida bastante corrida. Como a descoberta aconteceu cedo, ela operou, fez quimio e radioterapia. Perdeu os cabelos, chorou, sofreu, não se reconhecia no espelho, mas enfrentou a doença. Conseguiu montar uma rede de apoio, além de conhecer outras mulheres na mesma situação. 

Durante o tratamento, ela fez cursos de confeitaria para se distrair e começou a fazer bolos sob encomenda. Encontrou nessa atividade seu plano B de trabalho. Quando terminou o tratamento, perguntou ao oncologista: “e agora?” A resposta foi: “agora vá viver a sua vida!”

Um ano depois do diagnóstico, retomou as aulas de maneira mais tranquila, em apenas meio período. “A gente vai se deixando levar pela vida corrida, sem pensar muito em como vive, no que quer para você. A doença me mostrou a finitude da vida e hoje dou depoimento para outras mulheres, que não devem esperar a doença para aprender a viver melhor”, comenta.

O aprendizado de Edna resultou em uma alimentação mais saudável, em uma maneira mais serena de enfrentar os problemas, na prática de atividades físicas e, principalmente, na consciência de que é necessário desacelerar em tudo (casa, trabalho e família). Hoje, mora em Sumaré e trabalha para conscientizar seus alunos sobre a importância de olhar para o próprio corpo e aprender a fazer prevenção. 

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