PERFIL

Metal, agora, só o das panelas

Superação: ainda que o início não tenha sido como planejado, a metalurgia ficou para trás e, hoje, Eduardo Nobre mostra sua criatividade e seu talento em uma casa de sotaque francês

Eduardo Gregori
16/06/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 12:12

Eduardo Nobre foi uma criança diferente. Nascido em Nova Iguaçu, no subúrbio do Rio de Janeiro, há 31 anos, o hoje chef da Romana Bistrô e Creperia não dava muita bola para brincadeiras com os amigos. Nada de videogame nem de pelada no campinho. A grande diversão do então garoto de 10 anos era observar a avó na cozinha. A matriarca da família Nobre nunca estudou gastronomia, mas tinha o dom de reunir a família em volta da mesa todos os domingos para refeições que deixaram saudades pelo sabor e pelo jeito carinhoso com que eram preparadas. “Eu adorava sentir o cheiro dos ingredientes tomando conta da cozinha enquanto ela os misturava na panela. Quando lembro de minha avó, sinto o cheiro da comida dela”, diz.

Foi essa mesma senhora quem lhe deu um empurrãozinho rumo à culinária. “Ela me ensinou a fazer empadão e comecei a cozinhar. O pessoal de casa gostava”, lembra o chef. A realidade, no entanto, tirou o adolescente da companhia das panelas e fez os planos dele serem adiados. Foi como metalúrgico que Nobre entrou no mercado de trabalho. E foi esse ofício que desempenhou por uma década, ainda que vivesse uma situação bastante distante daquela que almejava profissionalmente. “Não tive escolha. Tinha que ajudar em casa e por isso adiei meu sonho.”

Aos 21 anos, decidiu largar tudo e correr atrás do que desejava. E foi trabalhar como ajudante na cozinha de uma rede de restaurantes no Rio. “Foi o primeiro passo, mas também foi um choque. A cozinha industrial frustra, porque é limitada e não tem a magia de criar, que era o que eu queria fazer”, recorda. Mesmo com as limitações, Nobre aproveitou a chance para adquirir conhecimento. Fez cursos no Senac e passou oito meses aprendendo o dia a dia da carreira. Com as aulas, a profissionalização ganhou espaço. “Tive uma visão e uma vivência da gastronomia, e isso foi muito bom. Também entrei em contato com outros profissionais da área com quem trocava experiências”, avalia.

Num estágio no Copacabana Palace, conheceu a rotina da cozinha de um hotel e precisou lidar com comidas de outros países, um universo até então desconhecido para ele. “Aprender a preparar receitas diferentes, ter a responsabilidade de seguir um menu e ouvir conselhos de chefs experientes foi uma contribuição importante para meu aprendizado. Isso tudo me abriu outras portas”, avalia. Do Copa, seguiu para outros hotéis no Interior fluminense e numa dessas paradas, em Macaé, conheceu a esposa, uma campineira. Em 2007, o casal mudou-se para Campinas, município que Nobre encarava como uma terra de novas oportunidades.

“Sempre ouvi falar bem de Campinas. Acreditava que, na cidade, teria mais opções de lugares para trabalhar”, afirma. E assim foi. Após ocupar o cargo de sous chef no Kilimanjaro por dois anos e meio, foi promovido a chef. Convidado a comandar a cozinha do Tokay Bistrô, permaneceu na casa por mais dois anos e depois foi lidar com as panelas na Casa da Moqueca, onde ficou por um ano. O currículo de Nobre tem ainda passagem pelo segmento de eventos do Baracat.

Tradição + inovação

Conhecido do público e com o passe valorizado na região, Nobre foi chamado para desenhar, do zero, o menu da Romana Bistrô e Creperia, casa do empresário Cláudio Fernandes que tinha como mote resgatar o charme dos bistrôs franceses e introduzir na cidade o hábito de comer crepe – o prato está na moda em São Paulo e é tradicional em países da Europa e da Ásia. “Gosto da cozinha tradicional, mas me permito experimentar inovações. Essa é a filosofia do bistrô e da creperia da Romana, por isso aceitei o convite”, informa.

O desenvolvimento do cardápio foi permeado por muito cuidado. Antes de se dedicar à criação propriamente dita, o chef participou de cursos específicos de creperia e promoveu degustações com os sócios da casa e com o gerente geral do grupo Romana, Pedro Scanferla. “À medida em que me especializava, provávamos e desenvolvíamos juntos o que oferecemos hoje”, lembra o chef, que garante que a parte do bistrô foi a mais fácil. “Sempre gostei da cozinha francesa e dos pratos dos antigos bistrôs, como filé ao poivre e confit de canard. Por isso, foi um trabalho de resgate muito enriquecedor.”

Com a casa funcionando há seis meses, a criação não cessou. “Mudamos o menu a cada três meses e optamos por não utilizar ingredientes industrializados. Tudo o que preparamos é produzido pela própria equipe”, conta Nobre, que se sente livre para criar novas opções e fazer os próprios ingredientes. “Nunca vi a apresentação de um prato como a feita por ele. É moderna sem ser chapada. Os pratos têm volume, altura e equilíbrio”, elogia Scanferla.

Mais um degrau

Assim como seus ídolos Marco Baracat (Baracat) e Alex Atala (D.O.M. e Dalva e Dito), o chef carioca que escolheu Campinas para viver acredita que o próximo degrau a subir na carreira é ter um restaurante com sua assinatura. “Penso num lugar onde possa colocar toda a minha criatividade para fora, mas isso é para o futuro. No momento, estou muito feliz na Romana, que é uma referência em produtos e na formação de profissionais.”

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