COMPORTAMENTO

Metade dos passageiros ignora cinto no banco de trás

Preocupante: pesquisa do IBGE mostra que 49,8% dos passageiros dispensam o equipamento de segurança

Cecília Polycarpo
26/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 15:52
O publicitário André Arruda flagrado ontem no banco traseiro sem cinto de segurança: "Na cidade, eu não costumo usar mesmo"[/LEGENDA], admitiu (Dominique Torquato /AAN)

O publicitário André Arruda flagrado ontem no banco traseiro sem cinto de segurança: "Na cidade, eu não costumo usar mesmo"[/LEGENDA], admitiu (Dominique Torquato /AAN)

Andar no banco traseiro do carro sem cinto de segurança é hábito da metade dos brasileiros. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada no início do mês mostrou que 49,8% não usa sempre o equipamento obrigatório. Em Campinas, o cenário pode ser pior. Uma sondagem, sem metodologia científica, feita pelo Correio na manhã de ontem, apontou que 60% dos passageiros não usam o cinto no banco de trás.Para especialistas, a culpa é da falsa sensação que as pessoas têm de que, estando no banco traseiro, serão protegidas pelos assentos da frente e não correm risco de serem arremessadas do carro, no caso de uma batida. Mas episódios de grande repercussão mostram justamente o contrário. Na manhã da última quarta-feira, o cantor sertanejo Cristiano Araújo, de 29 anos, e a namorada, Allana Coelho Pinto, de 19, morreram em Goiás. O carro capotou e os dois, que estavam sem cinto, foram arremessados para fora do veículo. O motorista e o empresários, nos bancos dianteiros, usavam cinto e sofreram ferimentos leves.O matemático John Forbes Nash Jr., de 86 anos, que inspirou o filme Uma Mente Brilhante, também morreu em um acidente de carro em maio em Nova Jersey, nos Estados Unidos, nas mesmas circunstâncias. Ele estava no banco de trás com a esposa, Alicia Nash, de 82 anos, sem o cinto. Ambos morreram.A irresponsabilidade de motoristas e passageiros reflete nas multas do município. Dados da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) mostram que, entre 2013 e 2014, o número de infrações por falta de cinto de segurança dobrou. Em 2013, foram aplicadas 10.571 multas. No ano passado, o número subiu para 23.555. Os dados não discriminam em qual banco a penalidade ocorreu, mas os próprios agentes de trânsito afirmam que são mais comuns casos de passageiros sem cinto atrás. A multa pela infração prevista no Código de Trânsito Brasileiro é de R$ 127,69 por pessoa sem o cinto e retenção do veículo até a colocação do equipamento.A reportagem do Correio percorreu na manhã de quinta-feira (25) três pontos com grande fluxo de veículos na região central de Campinas, as avenidas Moraes Salles, Júlio de Mesquita e o balão do Centro de Convivência Cultural, e contou quantos passageiros no banco de trás utilizavam o cinto de segurança. De cem carros com pessoas no assento traseiro, apenas 40 faziam uso do equipamento obrigatório. A reportagem flagrou ainda dois carros com crianças pequenas sem o cinto ou a cadeirinha, encostadas no vão entre os dois bancos da frente. Dez dos 60 carros com passageiros sem o cinto, eram de táxi.Flagrado pela reportagem, o publicitário André Arruda, de 34 anos, admitiu que só usa o cinto em viagens. “Na cidade, eu não costumo usar mesmo”, afirmou. Já os dois filhos da funcionária pública Lúcia Pinto, de 50 anos, estavam de cinto. “Eu exijo que eles coloquem. Às vezes, o mais velho diz que não quer, mas explico porque é importante”, disse. O taxista Plínio Marques, de 50 anos, afirmou que pede para que clientes coloquem o cinto, mas também encontra resistência. “Acho que é algo cultural. Mas eu insisto para eles botarem o cinto. Se acontece qualquer coisa, a responsabilidade é minha.”Uso diminui em 75% o risco de morteO engenheiro mecânico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em trânsito Celso Arruda afirmou que o cinto de segurança no banco de trás é tão importante quanto nos dianteiros e diminuiu em 75% o risco de morte em acidante. Para o especialista, o brasileiro criou um mito de que o equipamento é dispensável. “O cinto é o que impede que o passageiro seja ejetado do veículo, projetado para o banco da frente ou para o para-brisa. O impacto de uma batida ou capotamento atrás é praticamente igual ao da frente”, explicou.Arruda disse ainda que a segurança no trânsito é baseada em três fatores: educação, fiscalização e engenharia. A engenharia, segundo ele, já disponibilizou o cinto, além de outros equipamentos importantes, como airbag e freio ABS. “O que causa acidentes como o do cantor (Cristiano Araújo) é a falta de educação em relação ao uso do equipamento. E compete à polícia e aos agentes de trânsito massificar a fiscalização. A meu ver, são duas falhas graves.” {SUMMARY}4 Segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), em um desaceleração brusca ou na colisão de um veículo, o fígado, que tem um peso médio de 1,7 quilo, a 100km/h terá o peso de 47kg. Já o coração, que tem 0,3kg, passa a ter 8kg. O rim, com 0,3kg, passa a 8kg. E o cérebro, com 1,5kg, passa a 42kg. O cinto no banco traseiro reduz em 60% os traumas de coluna e em 40% as lesões de tórax e abdômen.SAIBA MAISUma colisão a 60 km/h é equivalente a uma queda do 11° andar de um prédio. A 80km/h seria do 20° andar e a 120 km/h, do 45° andar. A colisão frontal tem o que se chama de efeito tesoura, porque cabeça e tronco são projetados violentamente para frente, produzindo lesões de face, cabeça, pescoço, lesões internas no abdômen e coluna lombar. A vítima nessa condição tem 25 vezes mais possibilidade de ir a óbito, no banco da frente ou no de trás.

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