CRISE HÍDRICA

Mesmo em alta, Cantareira ainda impõe economia

O bom desempenho da chuva em fevereiro não significa que os riscos de agravamento da crise hídrica estão afastados; rios estão cheios e transbordando, e volume de água no Sistema Cantareira em alta

Maria Teresa Costa
teresa@rac.com.br
22/02/2015 às 13:41.
Atualizado em 23/04/2022 às 18:58

Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, da onde sai parte do segundo volume morto: prognóstico continua ruim ( Leandro Ferreira/ AAN)

Rios cheios e até transbordando, Sistema Cantareira em elevação no volume de água armazenado. O bom desempenho da chuva em fevereiro, no entanto, não significa que os riscos de agravamento da crise hídrica estão afastados.   Muita água ainda precisa rolar — literalmente — para que a região entre no período de estiagem, no final de abril, com o fantasma do racionamento distante. Além de recuperar 105 bilhões de litros da segunda cota do volume morto, que pode já estar ocorrendo neste final de semana, ainda será preciso recuperar a primeira cota, de 182 bilhões de litros, iniciada em maio, para então começar armazenar água e operar com volume útil. Tudo isso em um cenário em que as previsões apontam para uma estiagem em 2015 pior do que a do ano passado. O Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) estima que serão necessários pelo menos cem dias com o atual regime de chuvas, que tem sido volumoso nos últimos dias no Estado de São Paulo, para recuperar todo o volume morto usado dos reservatórios até agora e colocar o Sistema Cantareira novamente com saldo positivo de volume útil. As chances de isso ocorrer são pequenas e tudo indica que as regiões de São Paulo e Campinas, que têm no Cantareira seu reservatório, irão continuar operando no cheque especial — e a conta da água ainda estará no vermelho quando a estiagem chegar. Para o vice-presidente dos Comitês das Bacias PCJ e diretor técnico da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), Marco Antônio dos Santos, ainda está longe o momento de afrouxar os apelos para o uso consciente da água. “Mais do que nunca é preciso economizar, porque o grau de incerteza em relação ao que teremos pela frente ainda é muito grande”, disse. O ideal, afirmou, seria chegar ao fim de abril com pelo menos 10% do volume útil armazenado. “Se as chuvas se mantiverem, talvez seja possível recuperar as duas cotas do volume morto que vem garantindo o abastecimento desde maio, mas não será fácil conseguir elevar o volume útil em 10%. Por isso, é preciso economizar bastante e torcer para que a Grande São Paulo não precise retirar mais que 13m<MD+>3/s de água do Cantareira”, afirmou. Os gestores do Sistema Cantareira — a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) — definiram que a operação dos reservatórios deverá garantir que cheguem em 28 de fevereiro com 44,7 milhões de metros cúbicos armazenados. Na última sexta-feira havia 97,72 milhões de metros cúbicos, considerando as duas cotas do volume morto. A ANA vem insistindo que a operação do sistema tenha por base um volume-meta a ser garantido em 30 de abril de 2015, que deverá ser, no mínimo, equivalente a 10% do volume útil original do Sistema Equivalente (97,39 milhões de m³, o que corresponde, aproximadamente, ao volume observado em 30 de abril de 2014, que era de 100,75 milhões de m³), além de que as demandas pretendidas pela Sabesp sejam adequadas às reais disponibilidades do Sistema Equivalente e ao volume meta estabelecido para o final do período chuvoso — 30 de abril de 2015. Missão impossível Segundo a ANA, o descumprimento da recomendação poderá tornar inviáveis metas adequadas de segurança hídrica para o próximo período de seca. “Será muito difícil cumprir essa meta. Estamos chegando ao fim de fevereiro e pode ser que consigamos recuperar a segunda cota do volume morto, mas será difícil recuperar a primeira e ainda ter mais 10% de volume útil até o final de abril. Tradicionalmente, março chove menos que janeiro e fevereiro”, afirmou o especialista em recursos hídricos Carlos Nascimento de Oliveira.   Para ele, o essencial seria poupar ao máximo o volume armazenado nos reservatórios para garantir uma sobrevida ao sistema. “Há o risco de a água acabar em plena estiagem, e se não chover o suficiente no próximo Verão, teremos o caos estabelecido. Teremos muitas cidades sobrevivendo a duras penas, indústrias paradas, agricultura definhando. O racionamento de água precisa ser adotado já. Aliás, já deveria ter sido adotado desde o ano passado”, disse. Veja também Municípios mantêm rodízio, apesar das constantes chuvas Santa Bárbara d'Oeste, Cosmópolis, Nova Odessa, Valinhos e Vinhedo adotam postura de cautela, mesmo com represas transbordando e recuperação do Cantareira Chuva ainda é insuficiente para evitar rodízio de água Governo trabalha com cenários pessimistas quanto às chuvas até o fim de março para definir margem de segurança dos reservatórios suficiente para manter um fornecimento mínimo Cantareira sobe e começa a fazer 'estoque' de água Chuvas constantes mudam cenário e sistema acumula água, mas é insuficiente para o período de estiagem. Este mês já choveu 30% a mais do que a média histórica para fevereiro Mananciais internos em Valinhos transbordam Mesmo assim, a Prefeitura vai manter o rodízio no fornecimento de água na cidade; Valinhos tira metade da água que distribui à população do Rio Atibaia e outros 5% vem de poços profundos

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