PROSTITUIÇÃO

Mercado do sexo atrai pelo dinheiro, mas é sofrido

Sonhos, desilusões, dinheiro fácil, insegurança e medo se misturam às sensações

André Luís Cia
08/04/2013 às 18:49.
Atualizado em 25/04/2022 às 21:16
Reportagem especial mostra detalhes do mercado do sexo de Piracicaba (Del Rodrigues/Gazeta de Piracicaba)

Reportagem especial mostra detalhes do mercado do sexo de Piracicaba (Del Rodrigues/Gazeta de Piracicaba)

A vida da garota de programa Karina (nome fictício) se parece muito aos castelos de areia feitos na praia. Basta um sopro de vento para destruir tudo sem deixar rastros. “Não tenho ilusões de uma vida diferente porque sei que isso é impossível. Não tem mais volta. Eu quis ser vagabunda e esse é o meu destino.” Apesar de ainda ter 30 anos, ela revela que o caminho que escolheu matou todos os seus sonhos, como a vontade de casar de véu e grinalda numa igreja. “Não me arrependo de nada do que fiz porque eu quis viver isso e vivi essa história com toda força desse mundo”, falou.

O relato de Karina, totalmente desprovido de máscaras, disfarces ou medos se assemelha muito ao de Raquel Pacheco, a “Bruna Surfistinha”, ex-prostituta brasileira, que se tornou conhecida nacional e até internacionalmente por manter um blog na internet onde descrevia suas aventuras como prostituta. Sua história real de vida foi contada em livros e depois levada para os cinemas.  

No caso de Karina, ela aceitou falar sobre sua vida na prostituição desde que a identidade verdadeira fosse preservada, mas apenas para evitar atritos familiares, já que nunca teve problemas em assumir sua condição. “Sempre joguei aberto com todo mundo. Não tenho problema em falar que sou prostituta. Não me envergonho de algo que eu quis ser.” 

Rotina

Segunda-feira, 11h da manhã. Um prédio residencial no Centro de Piracicaba. Karina recebe a reportagem de cara limpa e sem maquiagem. Descalça, cabelos amarrados num coque e vestindo um macacão jeans, que revela parcialmente seu corpo. Mãe de três filhos, mora com apenas dois deles: um menino de sete anos e uma garota de três anos. A mais velha, de 13, vive com os avós paternos. “Dou tudo para os meus filhos, mas não tenho paciência. Sou muito irritada. Acho que fiquei assim por causa das drogas.”

Sua entrada na prostituição aconteceu após o fim do primeiro relacionamento, que resultou também na primeira gravidez. Ela tinha 17 anos e diz ter casado por imposição da família, mas confessa que odiava o marido. A separação aconteceu dois anos depois e ela voltou a sair com as amigas. Numa destas saídas conheceu uma garota (já falecida) na Rua do Porto. “Ela falou que eu era bonita e atraente. Disse que eu podia ganhar muita grana se fizesse programa. Como eu não tinha nada a perder, aceitei. Esse convite mudou toda a minha vida”, diz.

Ela se mudou para uma boate em Mogi Guaçu, os conhecidos “inferninhos”, nos quais garotas trabalham para cafetões (agenciadores) fazendo programas sexuais em troca de alimentação e hospedagem. Dois dias depois de sua chegada na “casa” ela fez dois stripteases, além do primeiro programa. “Foi horrível e chocante. Ele era policial e devia ter uns 30 anos. Era bonito e atraente, mas eu não me senti à vontade. Não teve química. Só fiz mesmo pelo dinheiro.”

Depois da primeira transa, diz que passou a semana toda fazendo programas, já que as novatas “devem mostrar serviço” nos primeiros dias. Nestes casos, quem transar mais ganha pontos preciosos com os cafetões. As doses de bebidas que os clientes pagam a elas (sempre induzidos pelas meninas), também geram lucro adicional no final do mês. “Ganhei muito dinheiro, mas me envolvi com drogas. Tudo o que eu ganhava, gastava ali.” Após sete meses, voltou para a casa dos pais em Piracicaba e mudou o “foco” do trabalho. Ao invés de atender os clientes em uma casa de shows, ela colocava anúncios nos jornais. Ficou um ano trabalhando desta forma e depois se mudou para uma nova boate em Jaguariúna, onde permaneceu por mais seis meses.

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