MEMORÁVEL

Mensagens eram flechas

28/07/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 07:23

Luso Ventura foi editor-chefe dos jornais Correio Popular (1946 a 1960) e Diário do Povo (1960 a 1965 e 1966 a 1969). Como seus colegas de profissão escreveram um dia depois de sua morte, “era jornalista vigoroso e experiente, que manejava a pena com a facilidade”, “tinha inteligência privilegiada” e “era capaz de abordar qualquer assunto com elegância”.  Em outro depoimento, um amigo disse: “O assunto, às vezes, não era demasiadamente empolgante, mas Luso Ventura era capaz de fazê-lo épico porque, com preciosidade extraordinária, formava as orações com propriedade e suas mensagens eram como flechas que atingem o alvo certo no momento exato. Qualquer um ficava embevecido quando, em discurso ou palestra, discorria sobre os mais variados assuntos. Tinha os dons da escrita e da oratória.”  De improvisoEm seus 62 anos, Ventura produziu perto de cinco mil artigos. Orador brilhante, nunca escreveu para falar. Falava de improviso, revelando um conhecimento abrangente dos assuntos que abordava. Possuía, como escritor e jornalista, um estilo elegante, de rara delicadeza clássica.Jovem, trabalhou em companhias de café em Santos e Campinas. Participava de todos os movimentos culturais, políticos e sociais locais e recebeu o título de cidadão campineiro. Era espírita por convicção, mas respeitava a religião de todos.Foi combatente da Revolução Constitucionalista de 1932 e até 1974 destacou-se como orador da Sociedade dos Veteranos de Campinas e MMDC (iniciais dos nomes dos manifestantes paulistas Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, mortos pelas tropas federais num confronto ocorrido em 23 de maio de 1932, que antecedeu e originou a revolução).Ventura também exerceu, por muitos anos, a função de orador oficial do Clube Semanal de Cultura Artística. O seu soneto Os Semeadores foi considerado obra-prima e um dos melhores da língua portuguesa pelo escritor Agripino Grieco. Gostava muito de crianças e morreu, justamente, no dia dedicado a elas: 12 de outubro de 1975.  Bendita sejas(Para Brasília Martorano Amaral, mulher e amiga) Bendita sejas tu entre as mulheres,sombra erradia da saudade em flor.Abençoo os espinhos que me deresporque há perfume até na própria dor. Dá-me tua alma e um canto embaladorde horas tranquilas, mansas, rosicleres.Bendita seja tu entre as mulheres,sombra erradia da saudade em flor. Nas minhas mãos cansadas, se quiseres,Vem aninhar tua alma sem temor,Pois a distância atroz com que me feresnão cessa em minha boca este louvor:bendita seja tu entre as mulheres... Casa portuguesa, com certeza“Onde estão os portugueses? Não é indiscreta a pergunta. Quando perguntamos onde estão os portugueses, sabemos, efetivamente que, no Brasil, estão eles em toda a parte, particularmente no coração dos brasileiros. Mas a pergunta tem outro sentido: por que não estão os portugueses de Campinas arregimentados sob uma mesma bandeira que seria, por exemplo, a de uma Casa de Portugal? (...) Portugal é uma palavra que se fala com a boca em forma de beijo, é ternura, é alma, é oração (...). Torna-se imperativo que os lusos se reúnam, em Campinas, numa sociedade que nos dê, permanentemente, um retrato daquele Portugal que não adormece na nossa saudade, pois nela palpita, e vibra, e sonha, e até nela se eterniza pelos milagres do mais entranhado afeto.”Trechos do artigo que escreveu para que fosse criada a Casa de Portugal de Campinas

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