Ando em busca de um vinho da safra de 2015 que eu possa guardar até 2033 sem que a qualidade seja comprometida
Vinho de guarda tem um grande potencial de envelhecimento (Istock)
Ando em busca de um vinho da safra de 2015 que eu possa guardar até 2033 sem que a qualidade seja comprometida. A ideia é preservar a garrafa com cuidado para que meu filho João Lucas, nascido em agosto último, aproveite o conteúdo comigo quando fizer 18 anos. Ao que parece, esse tipo de homenagem tem ganhado adeptos. Soube, em minhas andanças, de um pai que já reservou duas garrafas: uma para quando a filha, hoje bebê, fizer 15 anos; e outra para quando ela atingir a maioridade. Além de um que já possui um clássico para o casamento do filho, que ele nem sabe quando será. A busca, embora fascinante, tem sido mais complexa do que eu imaginava. O grande desafio é encontrar um bom vinho que consiga suportar 18 anos de guarda e que, ao mesmo tempo, caiba no meu orçamento – o que deixa fora de alcance alguns rótulos que já encontrei dentro das características que estou buscando, mas que tiveram que ser deixados de lado. Fiz algo parecido quando nasceu Moisés, meu outro filho, no ano 2000. Naquela época, guardei duas cervejas comemorativas da virada do século. Ainda mantenho as garrafas, embora tenha quase certeza de que elas não estão adequadas para consumo. Quando ele fizer 18 anos, vamos saber. Esse tipo de busca não é simples. São poucos os que possuem características de guarda tão longa. Mais de 90% dos vinhos são feitos para consumo em até cinco anos após o engarrafamento. Se forem guardados por muito tempo, certamente, vão estragar. Os vinhos de guarda têm um grande potencial de envelhecimento, e só eles podem ficar ainda melhores com o tempo. Por isso, devem expressar (no futuro, não no presente) o que têm de melhor. O tempo aguça a complexidade. Aromas e sabores se multiplicam. Cores são alteradas e os taninos e a acidez diminuem. Em geral, a maturação adequada de um bom vinho de guarda é fruto de três variáveis: Terroir – É a relação entre o solo e o clima do local. Interfere na formação da fruta (espessura da casca, quantidade de açúcar). Se chover pouco, por exemplo, pode haver aumento de açúcares e compostos fenólicos, o que amplia as condições de guarda. Carvalho – A maioria dos vinhos de guarda passa pela maturação em barris de carvalho, que acrescenta aromas e sabores. O carvalho também ajuda a suavizar os taninos pela micro-oxigenação pelos poros da madeira. Vinificação – De acordo com a safra, cabe ao enólogo decidir sobre o processo de vinificação. Algumas etapas importantes envolvem a realização (ou não) da fermentação malolática, o tempo em carvalho e em caves. Depois de prontos, os vinhos passam por três fases de amadurecimento natural: envelhecimento (ainda está em fase de evolução), apogeu (chega ao ápice) e declínio, quando já apresenta sinais de degradação. Se me perguntarem quais os melhores vinhos para guardar por mais tempo eu sugeriria, com base em relatos “acadêmicos”, os Grand Crus de Bordeaux, na França, os vinhos do Porto, fortificados e com forte presença de doçura, e italianos tradicionais como Barolo e Brunello de Montalcino. Mas ainda continuo minha busca. Salute! Curtas PREMIAÇÃO - Dois rótulos da Vinícola Guaspari, de Espírito Santo do Pinhal (SP), ganharam na última semana um dos principais prêmios do mundo no setor vinícola, o Decanter World Award 2016. O Syrah Vista do Chá 2012 recebeu medalha de ouro e o Syrah Vista da Serra 2012 ficou com o bronze. Ambos já foram citados nesta coluna como referência de qualidade entre produtos nacionais. É a primeira vez que brasileiros são premiados nesse concurso, que teve 16 mil vinhos de todo o mundo avaliados por 244 especialistas. Marina Guaspari Gonçalves, diretora da vinícola, celebrou a conquista. “É a concretização de um sonho, o de fazer um vinho marcante, que colocasse a região de Espírito Santo do Pinhal no mapa mundial dos vinhos de alta qualidade”. FESTIVAL - Coloque na sua agenda. Acontece entre 14 e 16 de junho, em São Paulo, a ExpoVinis Brasil, maior evento do setor na América Latina. A proposta do encontro é reunir produtores do mundo todo, incluindo brasileiros, em um mesmo espaço para discutir tendências e apresentar novidades. Junto da feira é realizado o Top Ten ExpoVinis Brasil, concurso que elege desde 2006 os mais expressivos vinhos do evento em dez categorias: Espumante Nacional, Espumante Importado, Branco Nacional, Branco Importado, Rosado, Tinto Nacional, Tinto Novo Mundo, Tinto Velho Mundo (dividida nas subcategorias Península Ibérica e Itália, França, entre outros), Fortificados e Doces. Informações e novidades: www.expovinis.com.br