Generalista ajudou a criar o Programa de Saúde da Família na cidade durante esse período
O generalista e epidemiologista cubano Eduardo Francisco Mestre Rodriguez ( Leandro Ferreira/AAN)
Pedreira deverá “hospedar” pela segunda vez médicos cubanos. Em 1995, o generalista e epidemiologista Eduardo Francisco Mestre Rodriguez, mais quatro colegas e um dentista chegaram à cidade por meio de um convênio firmado entre o município e o governo de Cuba para a implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), que ainda engatinhava no Brasil, mas já era referência na ilha. Passados 18 anos, Rodriguez continua na cidade e Pedreira está agora na lista de 701 cidades do País, e entre as três do Estado de São Paulo, aptas a receber cubanos para atuar por meio do Mais Médicos, do governo federal. A Prefeitura aguarda confirmação do Ministério da Saúde de enviar os profissionais.Dr. Eduardo, como é chamado, foi o único que ficou em Pedreira enquanto os companheiros retornaram a Havana. O generalista simpatizou com Pedreira, envolveu-se com o trabalho, “afinou-se” ao governo do então prefeito Hamilton Bernardes (PSB) — hoje secretário de Finanças de Campinas — e resolveu ficar, trabalhando como assessor da Prefeitura na continuidade do PSF. Casou-se e se diz totalmente acostumado com o Brasil, inclusive com o idioma — sua maior dificuldade no processo de adaptação. Voltou a Cuba três vezes e recebe visitas dos filhos com frequência.Rodriguez, atualmente com 56 anos, defende a vinda dos profissionais estrangeiros para o Brasil, mas também acha que é preciso exigir infraestrutura. No entanto, acredita que, com a ida dos profissionais aos lugares mais afastados e menos acessíveis, estimula-se os investimentos e o desenvolvimento dessas regiões. Conta que, quando chegou em Pedreira, passou a pressionar e a exigir dos gestores melhorias para que fosse possível a implantação do PSF.“Quando eu cheguei aqui, havia muitos problemas, muitas deficiências. Primeiro tem de ter vontade política, acreditar no político. Se esses médicos (do Mais Médicos) têm respeito próprio, se é uma pessoa que sabe o que quer, vai influenciar o gestor da cidade onde está, como aconteceu aqui”, disse.Relembra que, naquela época, buscava melhorias em outras secretarias para resolver problemas que iam desde a falta de saneamento básico nos bairros mais pobres até cesta básica para famílias que passavam fome. “Eu me meti muito em Pedreira. Não podia aceitar falta de água na comunidade. Como posso tratar uma pessoa que não tem o que comer? Quando isso acontecia, a primeira coisa era pedir uma cesta básica à (secretaria) Promoção Social. E era atendido porque sabiam que era sério.”O médico permaneceu na Prefeitura de Pedreira — atuou também na saúde mental — até o ano passado, quando houve troca do prefeito. Segundo ele, nunca atendeu pacientes por uma opção própria e, por isso, não buscou a licença do Conselho Regional de Medicina (CRM) para clinicar, como farão os profissionais que chegaram ao Brasil. Há alguns anos trabalha no Instituto de Pesquisas Especiais para a Sociedade, entidade ligada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que busca traçar diagnósticos relacionados à saúde nas comunidades.O ex-prefeito de Pedreira por três mandatos (1993-1996 e 2005-2012) Hamilton Bernardes orgulha-se da estratégia pensada naquela época pelos bons resultados que a implantação do programa acarretou. Cerca de 80% da população é atendida pelo PSF em Pedreira. Bernardes se lembra que, na época em que os cubanos chegaram na cidade, houve certa rejeição, mas rapidamente compreendida pela população. “A vinda dos médicos estrangeiros se transformou em uma questão ideológica. Nenhum médico vai perder emprego para os estrangeiros.”Diante das críticas da classe médica, Rodriguez concorda que o profissional é mal remunerado e pouco valorizado no Brasil — menos que em Cuba, afirma, mas defende que a “medicina é universal” e, por isso, poderá ser exercida com tranquilidade pelos estrangeiros.