Quando eu era criança, tive um cãozinho… que não morava comigo. Morava na casa da minha vó.
Eu morava em casa pequena, vivia mudando de cidade por causa do trabalho do meu pai. Não dava pra ter um cachorro, cuidar dele como devia. Por isso adotei o Cuíca, o cachorrinho de pelo espetado e quase branco… da minha vó.
Isso me dava trabalho e prazer. Trabalho porque sempre queria estar na casa da minha avó pra brincar e sair por aí com o Cuíca. Prazer pelo mesmo motivo. E nas férias escolares, eu curtia longos períodos com o “meu” cachorro.
A casa da vó era o meu destino nesses períodos. E como todo cachorro, Cuíca era de uma devoção só. Se eu parava, ficava quieto ao meu lado. Se eu ia para o almoço, ele me acompanhava.
A vó preparava a comida dele. Ainda não se falava em rações para cachorros. E a comida que minha avó preparava era tão saborosa que, antes de servir ao Cuíca, ela experimentava boas colheradas. E eu também. Depois era a hora das grandes aventuras pelos campos, pelos morros mais próximos da casa da minha vó. Eu saia com o Cuíca armado com um bastão de madeira muito dura, resistente, que meu avô preparara para mim. Dizia que era para eu me defender de cobras, escorpiões e outros bichos nas minhas andanças.
O tempo passou. Cresci, fui ficando cada vez mais distante da infância. Mas quando dava, eu voltava pra ver meus avós… e o Cuíca. Cada vez mais velhinho. Até que um dia cheguei e já não o encontrei mais. Entendi que seu tempo tinha se cumprido. E dediquei a ele algumas lágrimas de tristeza e saudade.
Quando criei meu primeiro personagem, o Bidu, revivi o Cuíca. Com um nome mais adequado para quadrinhos: e muitas das situações que criei nas historinhas dos primeiros tempos eram homenagem e lembrança dos meus tempos com aquele vira-lata inesquecível.
E como todos os cães são fiéis, resolvi devolver fidelidade marcando sua presença para sempre… como símbolo e logotipo da minha empresa, a Mauricio de Sousa Produções. A carinha do Cuíca/Bidu me acompanha em TODAS as revistas que lançamos. Milhões delas. Ele continua vivo.
