Massa, finalmente, não foi bonzinho

Durante o GP da Malásia, Felipe Massa ouviu pelo menos em quatro oportunidades orientações para dar passagem a seu companheiro na Williams, Valtteri Bottas. Pelas conversas de rádio divulgadas até agora, Massa ouviu as seguintes ordens:1) Engenheiro de Massa: “Ok, Felipe, Valtteri está mais rápido que você, não o segure. Valtteri é mais rápido que você, não o segure.”2) Engenheiro de Massa: “Ok, Felipe, Valtteri é mais rápido que você, ele está com pneus novos, não o segure.”3) Engenheiro de Massa: “Ok, Felipe, Valtteri tem pneus melhores, nós precisamos que o deixe passar.”4) Engenheiro-chefe da Williams: “Felipe, você está mais lento que Valtteri, deixe-o passar. Você está mais lento que Valtteri, não o segure.”Nas quatro oportunidades, inclusive na qual recebeu uma ordem do engenheiro-chefe do time, Rod Nelson, Felipe Massa fez de conta que não ouviu. Não tirou o pé e não se sujeitou à ordem, convenhamos, absolutamente desnecessária.A Williams achava que Bottas, por ter pneus mais novos do que o de Massa, teria chance de ultrapassar a McLaren de Jenson Button, sexto colocado na prova.Analisando os tempos dos três pilotos, não há indícios de que isso seria possível. Alguém poderia argumentar que, se não tivesse Massa a sua frente, Bottas poderia ser um pouco mais rápido. Mas, da mesma forma, Button faria o mesmo se, em algum momento, se sentisse ameaçado por qualquer um dos carros da Williams.No fim, a equipe inglesa apenas criou um problema de relacionamento entre seus pilotos, em um momento da prova (e do campeonato) em que não havia a menor necessidade de uma troca de posições planejada.O finlandês certamente está irritado porque o brasileiro desobedeceu uma ordem do time. Massa, porém, fez o que deveria. Está claro que a Williams o via como um piloto submisso, que se sujeita a abrir mão de sua posição na pista sempre que alguém achar necessário.Por motivos óbvios, Massa não pode reclamar da postura inicial do time. Mas sua reação correta pode lhe fazer muito bem no restante da temporada.Da mesma forma que a ordem da Ferrari em 2010 lhe destruiu psicologicamente, a de domingo pode lhe fortalecer. Não existe piloto vencedor e bonzinho. Senna e Vettel, por exemplo, parecem bonzinhos. Só parecem. Para pilotos como eles, nada é mais importante que a vitória.Tomara que Massa tenha recuperado o apetite pela vitória. E que, a partir de domingo, passe ao menos a andar bem à frente de Bottas.