Será que no dia a dia o uso de "porém", "contudo", "todavia" é tão comum quanto o de "mas"?
Posso começar indo diretamente ao ponto? Então lá vai: “Estudei todos os pontos da matéria, _____ não consegui responder satisfatoriamente às questões da prova”. Como você preencheria a lacuna? Imagino que a maioria dos leitores escolheria a palavrinha “mas” (“Estudei todos os pontos da matéria, mas não consegui responder satisfatoriamente às questões da prova”). Até aí, nenhum problema. Não é difícil perceber que essa palavrinha (“mas”) estabelece oposição entre a intenção de quem estudou (responder satisfatoriamente às questões da prova) e o resultado de sua ação (não responder bem às questões). A palavra “mas” estabelece relação de contraste, de oposição, certo? Até aí, nenhuma grande novidade. O que se pode usar no lugar de “mas”? A lista não é pequena: “porém”, “contudo”, “entretanto”, “todavia”... Vamos ver: “Estudei todos os pontos da matéria, porém não consegui responder satisfatoriamente às questões da prova”; “Estudei todos os pontos da matéria, contudo não consegui responder...”; “Estudei todos os pontos da matéria, entretanto não consegui responder...”; “Estudei todos os pontos da matéria, todavia não consegui...”. Tudo bem, não? Será que no dia a dia o uso de “porém”, “contudo”, “todavia” ou “entretanto” é tão comum quanto o de “mas”? É bem provável que não. Essas palavras não são muito frequentes na língua falada, mas são relativamente comuns nos textos escritos, por isso é preciso conhecê-las e saber usá-las. Antes que alguém conclua que todas essas palavras (“mas”, “porém”, "contudo", “todavia”, “entretanto”) são rigorosamente equivalentes, é bom parar para pensar. Vejamos isto: “Corri muito; não consegui, contudo, alcançar o ônibus”; “Corri muito; não consegui alcançar o ônibus, entretanto”. Como você acaba de ver, as palavras “contudo” e “entretanto” podem “passear” pela frase. Será possível fazer isso com as outras? Sim e não. Por que “sim e não”? Porque é possível fazer isso com quase todas; a única que não aceita esse “passeio” é “mas”. Não se diz algo como “Corri muito; não consegui alcançar o ônibus, mas” ou como “Corri muito; não consegui, mas, alcançar o ônibus”. O caro leitor notou que o passeio das conjunções gerou alteração na pontuação? Tomemos estes casos: “Corri muito, entretanto não consegui alcançar o ônibus”; “Corri muito; não consegui, entretanto, alcançar o ônibus”; “Corri muito; não consegui alcançar o ônibus, entretanto”. No primeiro caso, em que o período todo está na ordem direta, bastou uma vírgula para separar a primeira oração da segunda. Nos outros dois casos, os termos da segunda oração foram dispostos em outra ordem, já que a conjunção “entretanto” foi levada para um “passeio”. Note que agora o que separa uma oração da outra é, preferencialmente, o ponto e vírgula. Note também que a conjunção “entretanto” foi isolada (por duas virgulas no primeiro caso e por uma no segundo). Note, por favor, como a correta pontuação facilita a ordenação da sequência dos termos e, conseqüentemente, o “arranjo mental” todo durante a leitura. Bem, por hoje fica esta lição: é preciso conhecer o maior número possível de palavras e estruturas para expressar determinadas ideias. Voltaremos ao assunto na semana que vem.