O maior empreiteiro do País utilizava em seu aparelho e siglas como GA (referência a Geraldo Alckmin) e fala diretamente sobre Lu
Marcelo Odebrecht está preso preventivamente desde 19 de junho de 2015 ( Cedoc/RAC)
Relatório da Polícia Federal sobre o celular de Marcelo Bahia Odebrecht apreendido na 14ª fase da Lava Jato revelam o amplo leque de políticos, da base do governo e da oposição, com os quais Marcelo Odebrecht tinha algum contato, sua preocupação com a operação da Polícia Federal e, sobretudo, seu esforço para utilizar siglas e mensagens codificadas para se referir a políticos e registrar algumas transações.O maior empreiteiro do País utilizava em seu aparelho e siglas como GA (referência ao governador Geraldo Alckmin), MT (Michel Temer), GM (Guido Mantega), JS (neste caso a Polícia Federal utilizou uma tarja preta para não identificar o contato), FP (a PF usou também uma tarja preta para não identificar o contato) e algumas mais óbvias como ECunha, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Lula Há também referência direta ao ex-presidente Lula e a outros apelidos como "Dida", para se referir a Aldemir Bendine, presidente da Petrobras, e "Beto", em referência ao secretário nacional de Justiça Beto Ferreira Martins. Na análise de 31 páginas, a Polícia Federal limita-se a transcrever as anotações da agenda do empreiteiro.Em duas ocasiões, como revela a análise do material apreendido na residência de Marcelo Odebrecht, há registros na agenda do celular de encontros com políticos. Ele teria se reunido com Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo, em outubro de 2014, e com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), em 21 de novembro do ano passado, já depois da Juízo Final, etapa da Lava Jato que levou à prisão outros executivos de grandes empreiteiras do País. O detalhamento do encontro com o vice-presidente, contudo, aparece coberto por uma tarja preta no relatório.Mais abaixo, há ainda o tópico "notas antigas", no qual há referência "adiantar 15 p/JS" e em seguida a anotação "IPI até dez e pis/Cofins até jan". Ainda relacionado a este tópico há o título "Contribuição", a partir do qual surgem várias referências de valores seguidas de siglas que a Polícia Federal ainda não conseguiu identificar claramente.Odebrecht"Embora sem fundamento sólido, o indiciamento do executivo e ex-executivos da Odebrecht já era esperado. As defesas aguardarão a oportunidade de exercer plenamente o contraditório e o direito de defesa. Em relação à Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia Federal traz novamente interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas dentre outras." Posição de Alckmin O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse não ter ideia do que seria uma possível citação do seu nome em anotações do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso no curso das investigações da operação Lava Jato. Segundo o governador, o relatório da Polícia Federal sobre o que foi encontrado no celular do empresário aponta para um conteúdo "quase ininteligível". "Não tenho a menor ideia do que possa ser. Primeiro não sei se é (referência ao meu nome), segundo não sei em qual circunstância, então é preciso verificar. Aliás, é quase ininteligível aquilo que foi apresentado", disse.Alckmin confirmou que teve uma reunião com a Odebrecht em outubro do ano passado e disse que tratou com o empresário do projeto Aquapolo, reúso de água, da qual a empresa é sócia, e de outros investimentos. "Recebo aqui todo mundo que quer falar com o governador. Conversamos sobre a água de reúso, sobre investimentos na área de saneamento, metrô, enfim, investimentos normais do Estado."Eduardo CunhaO governador confirmou que teria uma audiência nesta terça com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mas disse que foi cancelada pelo peemedebista por uma questão de agenda. Alckmin disse que seriam tratados temas de interesse do Estado com o Legislativo, como a questão do pacto federativo, reforma do ICMS e a pauta da maioridade penal. Explicou ainda que seria um encontro rotineiro inicialmente previsto para a semana passada e novamente adiado.Alckmin não quis comentar a ruptura de Cunha com o governo federal. "Esse é um tema dele, do seu partido, não me cabe comentar", desconversou.