iG - Fabiana Bonilha (Cedoc/RAC)
Hoje em dia, a inclusão é discutida, em grande parte, sob a perspectiva dos autores e dos especialistas que a estudam. Em função da visibilidade deste tema, felizmente se tem gerado bastante conhecimento na área, sobretudo em relação à inclusão escolar. Graças ao esforço e à dedicação de vários profissionais, , já se sabe que a educação inclusiva não é um tema relativo apenas às pessoas com deficiências. Ela, em uma visão mais abrangente, se refere à garantia do direito de todos os alunos a frequentarem uma escola regular de qualidade. No entanto, penso que, neste caminho que se tem trilhado sobre a inclusão, ainda se ouve muito raramente as vozes das pessoas com deficiências, enquanto alunos que estão na escola comum. Dentro de uma escola, quais os reais anseios dos alunos com deficiências? Como eles pensam o próprio processo de inclusão? Que desafios eles realmente enfrentam no dia-a-dia? Pela minha experiência, como aluna cega que frequentou escolas regulares, desde a educação básica até o ensino superior, posso dizer que o maior anseio de um estudante com deficiência é o de que ele seja considerado tão somente como um aluno, com os mesmos direitos e deveres compartilhados por todos os seus colegas. É importante notar que a inclusão dentro de uma sala-de-aula acontece a partir daquilo que é realmente sentido, vivido e experimentado, e não a partir de uma teoria ou de um ideal abstrato. Assim, o aluno com deficiência é incluído de fato quando ele sente a inclusão acontecer, isto é, quando ele se sente pertencente àquela turma, , sem nenhuma restrição ou condição. A inclusão é percebida pelos alunos desde o tempo em que eles são bem pequenos, ou seja, alunos com três ou quatro anos já sabem muito bem se são ou não são incluídos. Lembro-me de uma ocasião, quando eu tinha por volta de sete ou oito anos, em que uma professora, ao me instruir sobre uma certa tarefa, me disse: “Agora as crianças vão fazer uma atividade de desenho, enquanto você vai escrever uma história.” Ora, as crianças, a que minha professora se referia, eram meus próprios colegas de classe, que, mencionados em terceira pessoa, representavam um grupo do qual, segundo a professora, eu não fazia parte. Minha conclusão foi muito clara e imediata: “Embora se diga o contrário, aqui eu não estou incluída.” Há um outro ponto crucial. Os alunos com deficiências não desejam que ninguém se prepare para lidar com eles, nem que tenham para com eles uma atenção diferenciada. Eles não desejam possuir nenhuma marca especial que os separe, segregue ou discrimine. Muitas vezes, eu obtive alguma atenção específica de um professor, após ele ter desenhado algum gráfico ou diagrama que precisasse ser descrito para mim. Mas, em outros momentos, o mesmo professor também poderia ter dado atenção específica a outros alunos, que não tinham deficiências e tinham dificuldades diferentes das minhas. E isto é a inclusão que desejamos: a percepção de que, a cada momento, um aluno recebe atenção, sem que o peso de um atendimento especial recaia sobre um deles. Enfim, o aluno com deficiência, dentro da escola, não deseja ser visto como um problema, como um caso, como um desafio, como um prêmio; ele, conforme já dito, quer ser visto tão somente como um estudante, tão normal e tão diferente quanto os outros alunos. * Fabiana Bonilha, Doutora em Música pela UNICAMP, psicóloga, é cega congênita, e escreve semanalmente no E-Braille. E-mail: [email protected]