Instalada no interior de Pernambuco, 1ª fábrica da Jeep fora dos EUA é uma das mais modernas
A presidente Dilma Rousseff (à esquerda) participou da inauguração da fábrica da Jeep ( Divulgação )
Uma área de 11 milhões de metros quadrados em Goiana, município da Zona da Mata Norte de Pernambuco, onde há pouco mais de três anos vicejava um mar de cana, abriga agora um dos mais modernos complexos industriais do mundo, o Polo Automotivo Jeep, do Grupo FCA (Fiat-Chrysler). A fábrica acaba de ser inaugurada, porém a linha de produção está ativa desde fevereiro, quando começaram a ser produzidos os primeiros Jeep Renegade. Lançado no início de abril, o novo utilitário esportivo chega com a missão brigar por uma posição de destaque no segmento que há anos é liderado pelo Ford Ecosport e que este ano ganhou outros competidores. Embora tenha sido oficialmente batizada como fábrica Jeep – a primeira da marca fora dos Estados Unidos –, o certo é que na nova unidade poderão ser produzidos carros de qualquer uma das marcas do grupo FCA. O próximo veículo que deve ser fabricado em Goiana, inclusive, será uma inédita picape média da Fiat. Produção A grandiosidade do projeto, cuja previsão é atingir, já em 2016, o volume de 250 mil carros produzidos por ano, pode ser medida pelo tamanho do investimento, de R$ 7 bilhões para desenvolvimento de produtos, construção da fábrica de automóveis e do parque de fornecedores no mesmo terreno. É o maior aporte inicial já feito no Brasil em uma única unidade de produção por um fabricante de veículos. Com 12 edifícios em forma de U, interligados por um núcleo denominado Centro de Comunicações, o Polo Automotivo de Goiana estreia com 16 fornecedores já instalados e empregará até o final do ano mais de 9 mil trabalhadores, sendo 3,3 mil na planta Jeep, 4,9 mil no parque de fornecedores e 850 em serviços gerais. Grande parcela do contingente de trabalhadores da fábrica vem de comunidades próximas, sendo muitos deles ex-lavradores oriundos de canaviais da região. O programa atração, treinamento e qualificação de mão de obra para a fábrica também adotou estratégias inéditas no setor automotivo. Alta tecnologia Na linha de produção do complexo FCA, se respira alta tecnologia e processos inovadores. Ali, um time de homens e mulheres altamente motivados compartilham as tarefas com 570 robôs de última geração. Na funilaria, por exemplo, 18 robôs levam 60 segundos para aplicar 100 pontos de solda na carroceria, tornando quase perfeita a fusão das partes do chassi. Normalmente, esse trabalho é executado em várias estações, o que abre a possibilidade de surgirem pequenas imperfeições na movimentação da linha. Com o novo processo, o chassi é fixado por inteiro de uma só vez, garantindo a união perfeita das chapas. Outra inovação da fábrica está na unidade de pintura, cujo processo à base de água não usa solventes e dispensa a aplicação de primer — tinta de fundo que ajuda a fixar a pintura no aço. Segundo engenheiros da Jeep, essa inovação implica em menores consumo de energia e emissão de poluentes, com a garantia de durabilidade e de qualidade da pintura dos veículos. Princípios O complexo da FCA em Goiana é também o primeiro a implementar integralmente todos os princípios do World Class Manufacturing (WCM), sistema de produção que se baseia em bons exemplos de procedimentos para aumentar a qualidade e eficiência dos processos produtivos e passam a ser multiplicados globalmente. Com isso, foram adotadas na nova fábrica as 15 mil melhores práticas já testadas e aprovadas por diversas unidades do grupo no mundo. “Este foi também o projeto mais complexo já feito na história da companhia, considerando o objetivo de construir não somente uma fábrica de automóveis, mas de incluir em seu perímetro um parque de fornecedores de classe mundial, a fim de produzir veículos igualmente de classe mundial”, afirma Stefan Ketter, vice-presidente mundial de Manufatura da FCA, que coordenou a implantação do polo automotivo Jeep. Desafio Paralelamente à construção do polo automotivo Jeep, outro grande desafio foi vencido: atrair, organizar, contratar e treinar a mão-de-obra necessária em uma região sem tradição industrial, estruturando equipes para construir o polo industrial e, posteriormente, para operá-lo. Os resultados colhidos concretizam a expectativa inicial de que a implantação do agora Polo Automotivo Jeep representaria um legado para a FCA, para o Estado e para a sociedade Para atrair e recrutar talentos, do nível básico ao altamente especializado, a área de Recursos Humanos lançou mão de vários métodos. Utilizou desde websites para receber currículos até carros de som nas ruas dos bairros humildes de Goiana e da região para dar acesso às pessoas ao processo seletivo. Outra decisão importante foi a opção por aproveitar trabalhadores locais em vez de trazê-la de outro lugar. Também optou-se por não erguer grandes alojamentos no canteiro da obra, porque a experiência em outras grandes obras mostrou que a alta concentração de gente em alojamento aumenta os índices de violência, prostituição, tráfico e consumo de drogas. Ações Na vertente da educação, o polo automotivo Jeep, criou uma série de ações para estimular e desenvolver o aprendizado de crianças, jovens e adultos. Para isso, estabeleceu compromisso com a Prefeitura de Igarassu, o Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE) e Instituto Qualidade no Ensino (IQE), a fim de melhorar o ensino público do município. O termo de cooperação prevê a qualificação dos docentes, reforço escolar em Matemática, Português e Ciências, e implantação de escolas em tempo integral. Também estabeleceu parcerias com as principais universidades e centros de ensino de Pernambuco e da Paraíba, para a criação do Polo de Educação Automotiva, inspirado na experiência de sucesso do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Outras duas iniciativas foram a distribuição de kits escolares para os filhos dos funcionários e o Compromisso Criança na Escola, através do qual todos os colaboradores com filhos em idade escolar devem comprovar sua matrícula em instituições de ensino.