Mais seriedade, por favor

A Seleção Brasileira parece ter tomado gosto pelos atrasos da Copa do Mundo. Assim como a organização do evento, que ficou sabendo da escolha em 2007 e deixou para finalizar os estádios em cima da hora, a equipe de Luiz Felipe Scolari, uma das primeiras a anunciar o grupo dos 23 convocados, foi uma das últimas a se reunir para o Mundial. De fato, o primeiro treino de verdade aconteceu apenas na quinta-feira, a 13 dias da estreia. E não há uma explicação lógica para tanta demora.A Liga dos Campeões acabou com a temporada europeia no último sábado, mas apenas Marcelo estava envolvido com a decisão. Todo o resto já poderia ter se apresentado na semana passada. Em vez disso, a comissão técnica preferiu dar uma folga aos atletas, talvez acreditando que uma esticada com as famílias pudesse dar um gás a mais para todos. O problema é que outras seleções consideradas favoritas já estavam reunidas desde a semana passada, salvo as exceções da final de Lisboa. Tem até seleções que já disputam amistosos preparatórios.Quem joga uma Copa do Mundo em casa tem uma motivação extra naturalmente. Para os brasileiros, mais ainda. Além disso, há um peso enorme sobre as costas dos jogadores, o que torna quase uma obrigação faturar o hexa no Maracanã. Será que não valeria a pena iniciar a concentração antes e dar a folga pra família no fim de semana? Pelo menos ganhava o tempo dos testes físicos para ter bola no gramado logo.Por falar em treino, está difícil saber o que aconteceu lá, além do já de praxe time titular, aquele mesmo da Copa das Confederações. Tudo bem que os 11 já estão de cor e salteado na língua do povo, mas o batalhão de jornalistas na Granja Comary está tão desesperado pelo furo de reportagem que esquece do básico. Em todo lugar que se olha, só se vê notícias de como Marcelo é engraçado, de como Hernanes é cabra macho, do que Julio Cesar acha da bola da Copa, da cor da chuteira do Fred, da bicicleta do Neymar, do que os gringos falam, mas treino que é bom, nada.E se o destaque do dia foi que a presença do Luciano Huck interrompeu o trabalho dos jogadores em campo para um quadro do programa dele na TV, algo impensável na era Dunga, então só nos resta torcer para que o oba-oba inicial não caia na arapuca como a de Weggis, em 2006. Aquela Copa também estava ganha antes do tempo, só com a presença do quarteto mágico em campo, não é mesmo? Por jogarem em casa, os jogadores de hoje têm um dever a mais. E se não houver dedicação e seriedade nos treinos, inclusive da imprensa, poderemos rever o fantasma da Copa de 1950.