JOSÉ ROBERTO MARTINS

Mais que um café

02/10/2020 às 08:41.
Atualizado em 27/03/2022 às 23:29

Normalmente quando termino de escrever uma crônica, dou o caso por encerrado e o assunto por terminado. Curiosamente, a crônica da semana passada não se conformou em ser encerrada! Queria mais, achando injusto que uns sonhos fossem citados e outros completamente esquecidos. Opa! Espera lá! Esquecidos nunca! Chego, entretanto, a dar razão ao espernear de minha crônica anterior, pois quando se fala em amigos e em locais onde se reúnem ou se reuniam amigos, alguns não podem jamais ser deixados de lado! É preciso primeiro que se diga que cada local tem os amigos próprios, específicos daquela região, da situação e das características do estabelecimento. E são tantos... Quando terminei a crônica anterior, continuei sonhando. Foi um desfile imenso de locais , de rostos, de petiscos, de chopes e cervejas! Meu sonho invadiu subitamente, o" Bar do Otávio", sagrado recinto, localizado no vértice do triangulo formado pelas ruas Álvaro Muller, Prefeito passos e Dona Libânia. Passei lá grandes momentos de minha juventude e do início da vida adulta. Lá conheci meus cunhados José, Joaquim e Jorge e, mais do que tudo, conheci Violeta e, ao vê-la, pasmo com tanta beleza, disse a Jorge:_ vou-me casar com sua irmã! E eis-me aqui, rumo aos 47 anos juntos e 43 de casados. Lá, tomei um chope com meu sogro, doutor Hilario, a convite dele, fato absolutamente inédito e surpreendente! Não o convite, mas, o fato dele tomar um chope! Os amigos feitos naquele lugar ficaram para sempre, na memória e na alma. Muitos já se foram, mas, permanecem vivos, indeléveis. Ali perto, um pouco mais acima, no início da Avenida Brasil, ficava o Bar do Lagoa. Lagoa era uma figura impar. Brincalhão até onde se pode brincar, reunia em torno de si uma legião e o mais interessante é que o pessoal do Lagoa, raramente ia ao Otávio e vice-versa, embora fossem todos amigos! Questão de gosto. Na Barão de Atibaia, pertinho da Brasil, ficava o Pátria FC, aliás, fica até hoje. O imóvel minúsculo abrigava um dos mais poderosos times do futebol amador de Campinas. Os embates com o Gazeta Esportiva e o Santa Odila, de Dicá, eram de fazer o chão tremer! O Pátria era um ponto de confluência do pessoal do Lagoa e do Otavio. Presidido por muitos anos pelo fantástico Bolinha, o clube era uma instituição. Sobrevive ainda... Numa guinada de 180 graus, levo meus sonhos lá pros lados do Jardim São Gabriel, onde trabalhei por mais de 30 anos na EPTV, Rádio Cidade e Rádio Laser. No Bar do Mazzola, conheci uma das melhores pessoas que vi na vida: Noel Martins. A ele dediquei certa vez uma crônica a que dei o nome de "Um Sábio". Foi um dos grandes amigos que tive. Um pouco mais distante dali, o Bar do Zé Português, com um número impressionante de gente da melhor qualidade. Você, meu leitor, pode estar pensando:_mas, esse sujeito só fala em bar! Pois, saiba que nesses lugares ocorriam acaloradas discussões filosóficas, rodas de samba de fazer inveja a João Nogueira e as maiores demonstrações de fraternidade e solidariedade! Todas essas pequenas comunidades foram de suma importância para formação deste cronista. Nem só dos bancos escolares é feita a estrutura mental de um homem! É preciso também um sopro de leveza, da poesia inconsequente que nasce livre nas mesas de um bar... A vida tem várias facetas. Feliz daquele que sabe viver todas elas, com a intensidade que cada uma merece! José Roberto Martins é professor, jornalista e membro da Academia Campinense de Letras

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por