Projeto de ciências foca a prevenção da Aids ao mesmo tempo em que desperta solidariedade
O sociólogo Roberto Geraldo da Silva, fundador e presidente da Associação Esperança e Vida, faz palestra a pais e alunos no Colégio Axis Mundi (Divulgação)
O Colégio Axis Mundi aproveita um dos temas transversais previstos para a educação básica para criar um projeto interdisciplinar que, além de conteúdo, ajuda a desenvolver a consciência do voluntariado e da solidariedade entre os alunos. Por iniciativa do professor Lucas Bortolotto Brandão, os estudantes do 8ano estão envolvidos num projeto que tem como tema a prevenção da Aids. Com isso, organizaram uma campanha para ajudar uma entidade que atende portadores da doença, a Esperança e Vida, além de integrar a família nas atividades.
Brandão é professor de ciências. Entre os conteúdos previstos para o 8 ano estão as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Embora a temática ocupe apenas cerca de um bimestre das aulas, o projeto desenvolvido por ele, de forma paralela aos conteúdos previstos para o resto do ano, terá atividades até meados do segundo semestre. “Os alunos dessa turma têm, em geral, 13 e 14 anos. Estão numa fase muito importante, com muitas dúvidas sobre sexualidade e DSTs. É o momento certo de estudar o tema e também de ajudá-los a derrubar preconceitos”, explica o professor.
Num primeiro momento, Brandão solicitou aos estudantes que escrevessem um texto sobre o que sabiam sobre Aids. “Percebi que havia muitos equívocos e opiniões antigas que ainda permanecem no imaginário dos alunos. Muitos, por exemplo, ainda acreditavam que era possível infectar-se com a Aids por meio do compartilhamento de objetos como copos ou talheres”, lembra o professor. Por causa disso, o projeto foi intitulado “Resgatar o passado e descobrir o presente”. Depois da correção dos textos, a turma estudou como surgiram os primeiros casos da doença, como a imprensa abordou o assunto e como evoluíram os estudos em busca de melhoria da condição de vida dos portadores e também da cura.
Nessa contextualização, Brandão explicou a razão dos estigmas existentes com os portadores da doença, principalmente, em razão da quantidade de mortes ocorridas até o início da década de 90 e também a ligação existente, no início, como a homossexualidade. Nessa etapa do projeto, entrou a participação da professora de português, Maria Regina Alves. A proposta foi montar com os alunos um jornal com notícias e artigos sobre Aids e prevenção. O objetivo é que esse material possa servir de divulgação para alunos das outras turmas. “Trabalhamos com os gêneros jornalísticos e estamos desenvolvendo o nosso jornal. Como o assunto é de interesse, é mais fácil aplicar os conteúdos”, diz Maria Regina. A escola também recebeu a visita de um jornalista para falar sobre as etapas da produção de um periódico.
Família
Na semana passada, o projeto deu mais um passo importante. A direção do colégio convidou pais e alunos para uma palestra, no período noturno, com o sociólogo Roberto Geraldo da Silva, o Robertinho, fundador e presidente da Associação Esperança e Vida, organização não governamental (ONG) que presta atendimento a cerca de 400 portadores da doença. Robertinho falou às famílias, que lotaram a quadra da escola, sobre a importância de manterem conversas periódicas sobre sexualidade com os filhos.
Depois de conhecerem o fundador da ONG, os alunos iniciaram uma campanha de arrecadação de produtos de higiene e alimentos. “Com isso, estamos trabalhando também o espírito de solidariedade”, explica Brandão. A arrecadação segue até meados do próximo semestre, quando os alunos farão uma visita à ONG e entregarão parte das arrecadações. Pela escola, os 25 estudantes envolvidos no projeto também espalharam cartazes convidando os colegas a fazerem suas doações e a se conscientizarem sobre a importância da prevenção e da diminuição do preconceito.
“O projeto ainda está em desenvolvimento, mas já começamos a perceber uma mudança muito grande na opinião dos alunos. Como eles não vivenciaram o que foi a Aids há 20 ou 30 anos, tinham posicionamentos muito equivocados e preconceituosos. Ao mesmo tempo em que alguns acreditavam que se pegava Aids em qualquer contato pessoal com uma pessoa que tinha a doença, outros não tinham a noção da gravidade porque nunca viram um doente ou não conheciam a história”, explica o professor, lembrando aos alunos que, no Brasil, a Aids ainda faz cerca de 15 mil vítimas fatais por ano.
Além disso, Brandão mostra que, se hoje já existem tratamentos que prolongam a vida dos portadores, no começo da epidemia, receber o diagnóstico era uma sentença de morte muito próxima. Desde 1980, a Aids já matou cerca de 220 mil pessoas no Brasil, que ainda registra aproximadamente 30 mil casos novos por ano, a maioria entre adolescentes e pessoas com mais de 50 anos.
Atualmente, no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, 530 mil pessoas convivem com o vírus. No entanto, na palestra de Robertinho, os alunos puderam perceber que esse número nunca poderá ser totalmente confiável, por causa do grande número de pessoas que podem estar infectadas sem saber. Há estimativas de que esse total chegue a 130 mil brasileiros, o que equivale a dizer que, de cada quatro infectados, um deles desconhece a situação.
“Isso ajudou os alunos a perceber a necessidade da prevenção e de uma vida sexual segura, uma vez que pessoas podem ter o vírus sem ter sintomas ou sem ter nenhuma manifestação. Eles puderam perceber que estar contaminado não significa ter cara de doente”, afirma o professor.