Ex-atleta entrou para o "Hall da Fama" da Federação Internacional de Basquete (Fiba)
Maria Paula Gonçalves da Silva, a Magic Paula, dispensa comentários. Os amantes do esporte sabem muito bem o que ela significou para o basquete brasileiro e mundial. Em Piracicaba, a ex-atleta é sinônimo de excelência esportiva. Em nossas quadras, Paula chegou em 1980 quando, aos 18 anos, começou a atuar na equipe da Unimep (mais tarde BCN/Unimep). Após uma temporada na Espanha, retornou à cidade em 1990 para defender a BCN novamente.
Em junho, Magic Paula entrou para o "Hall da Fama" da Federação Internacional de Basquete (Fiba). É um reconhecimento internacional cedido a ícones do esporte. Paula passou a fazer parte de um quadro que ainda tem, dentre outros, Hortência, Amaury Passos, Oscar Schmidt e Togo Renan Soares, o técnico Kanela.
Nessa entrevista, Magic Paula fala sobre a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada 2016. Com perfil bastante crítico e às vezes áspero, Paula afirma que o "basquete feminino foi sucateado" no País e que "olimpíadas são um privilegio de poucos, mas o esporte pode transformar a vida de muitos."
Paula é natural de Osvaldo Cruz, interior de São Paulo. É irmã de outro nome forte da modalidade, Maria Angélica Gonçalves da Silva, a Branca, ex-jogadora e técnica. Ilda Borges, a mãe, falecida em 2012, foi dirigente esportiva.
Aos 14 anos, Magic Paula já defendia a Seleção Brasileira adulta de basquete e ao longo de 28 anos acumulou conquistas. As jogadas geniais renderam à armadora o apelido de "Magic".
Hoje Paula dirige o Instituto Passe de Mágica, onde gerencia e dá apoio logístico a carreira de atletas olímpicos e também desenvolve ações sociais. Também atua como comentarista e avisa: não está em seus planos atuar como treinadora.
Cuba
O ano de 1991 foi especial para o basquete brasileiro. A seleção feminina conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Cuba, vencendo, na final, as anfitriãs por 97 x 76. A história da atleta, porém, não foi apenas de grandes momentos. Em 1989, aos 27 anos, Magic Paula formou-se em Educação Física e aceitou um convite internacional e transferiu-se para o Tintoretto de Madrid (ES). Foi lá que sofreu uma contusão no joelho. Ficou seis meses afastada, mas conseguiu voltar a tempo de conquistar o vice-campeonato espanhol.
Em 1996, Paula e a Seleção Brasileira conquistaram a medalha de prata nas Olimpíadas em Atlanta. Em 1997, defendeu a seleção no Mundial. Em 98, defendeu o Osasco/BCN e em 2000 despediu-se das quadras após 28 anos de carreira. (JRF)
Abaixo, os principais trechos de sua entrevista:
IG Paulista: O que significou para sua carreira a sua inclusão no Hall da Fama?
Maria Paula Gonçalves da Silva (Magic Paula): Significou o reconhecimento de um trabalho de toda uma geração do basquete feminino. Minha indicação foi apenas uma parte de todas as pessoas que fizeram parte desta história linda do basquete feminino. Alem das jogadoras, entidades esportivas, imprensa, equipes técnicas, patrocinadores... Os meus pais foram os que mais contribuíram para meu crescimento, dando-me a oportunidade e o incentivo para que eu pudesse fazer o que gostava.
IG Paulista: O Brasil fará bonito na Olimpíada de 2016? Ou é pouco tempo para se formar uma geração vencedora de ouros em mais modalidades?
Magic Paula: Esta é uma pergunta difícil de ser respondida. Na minha opinião, uma potência olímpica não surge em três anos de trabalho. Ela é construída ao longo de no mínimo oito anos, que são dois ciclos olímpicos.
IG Paulista: O que é preciso fazer, então?
Magic Paula: Precisamos urgentemente de uma política esportiva para o País. Dar oportunidade da prática esportiva para todos e na formação dos profissionais ligados ao esporte em todas as esferas. Que as medalhas sejam frutos deste investimento na base da pirâmide. Olimpíadas são um privilégio de poucos, mas o esporte pode transformar a vida de muitos.
IG Paulista: Como está o basquete feminino brasileiro?
Magic Paula: O basquete feminino foi sucateado, maltratado e esta geração paga pela falta de cuidados e carinho com essa modalidade. Não podemos esperar e viver dos talentos. É preciso investir neste material humano. O basquete feminino espera sempre acabar uma geração para começar a pensar nos novos talentos. Este mecanismo tem que acontecer junto. O espelho (jogadoras já formadas) motivando a base. Se quisermos pensar em resultados temos que esquecer em vitórias nos próximos 10 anos e preparar uma nova geração vencedora.
IG Paulista: Falando agora em futebol. A Copa do Mundo será bem-vinda ao país?
Magic Paula: Os grandes eventos exigem investimentos altos, principalmente na infraestrutura. Da minha parte não tenho nada contra Copa ou Olimpíada em meu País, desde que tragam benefícios para quem vive o esporte. A expectativa é que esses eventos deixem um legado e uma cultura esportiva de base, ou seja, nas escolas. Além de incentivar a prática da atividade física para crianças, jovens e idosos. Em um País que tem tantas demandas de melhoria na área da educação, saúde, transporte e outros, deveria ter mais carinho com o dinheiro público.
IG Paulista: O que você acha da ação do poder público para a Copa?
Magic Paula: O poder público não é responsável pela realização dos grandes eventos, mas uma parte dele. Na minha opinião, porém, ele está carregando toda esta estrutura nas costas para ser feliz 30 dias. Nós queremos ser felizes por muito mais tempo.
IG Paulista: Como está sua vida esportiva. O que tem feito? E o Instituto Passe de Mágica?
Magic Paula: Tenho feito o que faço desde que deixei as quadras. Já são 13 anos me dedicando à gestão esportiva. O Instituto irá completar 10 anos em 2014, desenvolvendo um trabalho na área social importante (www.passedemagica.org.br), com atendimento a 780 crianças em sete núcleos (Piracicaba, Diadema, São Bernardo e São Paulo).
IG Paulista: Como o Instituto trabalha?
Magic Paula: Trabalhamos voltados para educação desta criançada, meninos e meninas entre sete e 15 anos. A partir de 2011, o Instituto foi convidado pela Petrobras para tocar um projeto de apoio a atletas com chances de participar nos Jogos Olímpicos do Brasil em 2016. Então atuamos nas modalidades de boxe, remo, esgrima, levantamento de peso e taekwondo. O Instituto faz a gestão administrativa e financeira deste projeto, via Lei de Incentivo ao Esporte, pelo Ministério do Esporte e apoiando 64 atletas esse ano. Para saber mais o leitor pode acessar o site www.passedemagica.org.br
IG Paulista: Você pretende ser técnica?
Magic Paula: Não tenho perfil de treinadora. Gosto do que faço atualmente, me encontrei após tantos anos me dedicando como atleta ao basquete.
IG Paulista: Do tempo que jogou em Piracicaba, quais as lembranças?
Magic Paula: Muitas lembranças boas da minha passagem pela cidade. O envolvimento de todos os setores como a universidade, a Prefeitura e os empresários. Além de grandes times formados. Conquistei muitos amigos dentro e fora das quadras. Tenho um carinho especial por Piracicaba, apesar de morar em São Paulo desde 2001. Além da minha família, que vive toda em Piracicaba. Criei raízes no município.
IG Paulista: Que mensagem você passa aos esportistas brasileiros.
Magic Paula: Fazer esporte neste País é para pessoas persistentes, apaixonadas e dedicadas. Em todas as profissões é preciso ter paixão, envolvimento e dedicação. O resultado é fruto da disciplina de cada um.