CÉLIA FARJALATT

Luz e sombra

21/11/2013 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 23:11

” Pior do que a cegueira está o preconceito“”. ( Helen Keller) Já passamos do tempo em que os cegos eram tidos como incapazes, e limitavam-se a cantar pelas ruas e praças, entoando canções e vivendo da caridade do povo. Hoje eles são educados do mesmo modo que os videntes, tendo apenas a mais o apoio do professor especializado na educação. Este é um dos grandes progressos na educação dos que nasceram privados da visão, ou a perderam, devido a acidentes ou a doenças. Compartilhando da vida comum de uma escola, a criança e o jovem cego ou amblíope enfrentam os mesmos problemas, conquistam amigos, sentem que são iguais aos outros, apenas com um detalhe diferente : a ausência de um dos sentidos, o que faz ampliar os demais. Dentro desta proposta de integração cego-vidente, tive a sorte de conviver com alunos cegos, na antiga Escola Normal de Campinas, hoje EEPSG Carlos Gomes. Foi deste convívio diário que nasceu meu conhecimento do problema. Fui conhecendo de perto o mundo luminoso dos cegos, e aí surgiu minha admiração por eles. Recordo-me das palavras da experiente professora Terezinha Von Zuben : “”Nada de regalias. Trate-os da mesma forma que aos outros. Com firmeza e justiça.“” Assim procurei agir. Assim agiram meus colegas também. Isso não me impediu de admirar profundamente o Tomé Nastrini, o Nilton Iamarino,, o Sílvio, a Maria Luisa Meireles e tantos outros. Olhava-os com disfarçado carinho. E tentava imaginar, fechando os olhos, como seria o mundo deles, um universo que deveria ser nebuloso e confuso. Vencer, todos eles venceram. Quase todos procuraram depois a universidade. E hoje trabalham como bons profissionais. O Tomé, por exemplo, já está aposentado de suas funções de Assistente Social. O Nilton ainda presta serviços na Associação dos Cegos Trabalhadores. Maria Luíza leciona e do Sílvio nunca mais soube. A Terezinha Geraldo, linda e loira, é advogada. A vida nos separou e dispersou-nos. Mas, de vez em quando, me telefonam, ou os vejo caminhando sós pelas ruas. Eles me reconhecem e sei que parecem felizes. Na realidade temos muito a conversar. Com certeza. Sabem qual é a maior lição do convívio com os deficientes visuais ? A lição de otimismo e de trabalho. Eles poderiam se o quisessem tirar proveito da cegueira, reclamar direitos e viver de esmolas. Mas procuraram o caminho mais digno e difícil. Aceitaram sua deficiência e lutaram por diminuí-las, estudando, trabalhando e vivendo uma vida normal. Que Deus os guarde.

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