ENTREVISTA

Lucas Lima admite: 'Preciso fazer mais gols'

Considerado o melhor camisa 10 do Brasil por Muricy, atleta já despertou interesse do Palmeiras e Cruzeiro

Agência Estado
01/06/2015 às 09:33.
Atualizado em 23/04/2022 às 11:57

Lucas Lima é uma unanimidade no futebol brasileiro. Criativo, mas se esforça para marcar. Habilidoso, mas joga para o time. Considerado o melhor camisa 10 do Brasil por Muricy Ramalho, o atleta de 24 anos já despertou interesse do Palmeiras e Cruzeiro mas diz que só sai do Santos para atuar na Europa. Mas essa admiração é coisa recente. Aos 16 anos, saiu de Marília rodou 800 quilômetros para iniciar a carreira na Chapecoense. Depois, rodou pelo interior paulista. Em vários clubes, recebeu salários com atraso e recorreu ao pai para pagar as contas. Foi parar no Racing, da Espanha, mas não se adaptou e voltou a Limeira. Poderia ter sido do Palmeiras. Em 2011, recusou um convite para jogar pela equipe B do clube. Dois anos depois, recebeu uma proposta inferior à do Santos, seu clube atual. Teve uma oportunidade no Inter de Porto Alegre, de Dorival Júnior, mas foi emprestado ao Sport em 2013. Foi aí que ele começou a ser notado. Foi um dos destaques do acesso do time à Série A, com sete gols e nove assistências em 47 partidas. Esses números e a capacidade de organização chamaram a atenção do Santos, que o contratou no início de 2014 por R$ 5 milhões. Precisou de uma temporada e meia para o ocupar o status de principal jogador do Santos, rótulo que disputa, ombro a ombro, com o atacante Robinho. Nesta entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta segunda-feira, esse jogador com poucos defeitos mostra uma insatisfação. “Meu objetivo é fazer mais gols”, diz. Estadão - Na semana passada, você fez uma tatuagem do pênalti que cobrou e deu o título paulista o Santos. Por que?Lucas Lima - Foi um momento que marcou a minha vida e fiz questão de registrar. Será sempre uma lembrança muito boa, tão boa que vai ficar marcada na minha pele. Estadão -Depois de receber tantos convites, por que continuou no Santos?Lucas Lima -Eu fiquei para alcançar o objetivo de chegar à seleção brasileira e conquistar títulos. Conseguimos o título paulista neste ano. Sei que tenho muito a percorrer, mas acho que estou no caminho certo. Eu me sinto muito bem no Santos. Estadão -Só sai se for para a Europa?Lucas Lima -Tenho vontade de jogar na Europa e deixei bem claro que quero sair uma hora. O primeiro pensamento é só sair do Santos para fora do Brasil. Estadão -Nem sempre você foi admirado como hoje. Como foi o seu início?Lucas Lima -As grandes dificuldades que vivi foram antes de chegar ao Internacional. Rodei pela Chapecoense, José Bonifácio, América, Inter de Limeira. É difícil se manter em um clube grande.Estadão -Quais eram essas dificuldades?Lucas Lima -Eu joguei muito tempo sem receber. Às vezes, não tínhamos a mínima estrutura de trabalho. Essa realidade foi superada, mas me ajuda muito a valorizar um pouco as coisas que estou conquistando. Estadão -Pode dar algum exemplo dessas dificuldades, no cotidiano?Lucas Lima -Um dos meus amigos desistiu da carreira porque o jantar era arroz com mortadela frita. Estadão -Sem receber, como pagava as contas?Lucas Lima -Minha família me ajudava. Foram meus pais (Roberto Carlos, metalúrgico, e Sueli, enfermeira) que me deram apoio. Sou muito grato por isso. Estadão -Isso significa que sua família nunca teve grandes dificuldades financeiras?Lucas Lima -Meus pais sempre trabalharam e não tínhamos uma vida com exageros, mas nunca deixaram falta nada. Estadão -Quais as lembranças que você tem da infância?Lucas Lima -Eu até falo sobre isso com minha mãe. Lembro de um parquinho perto de casa e que gostava muito de chuteiras. Jogava bola na rua todos os dias. Estadão -Era bom aluno na escola?Lucas Lima -Não gostava muito de estudar. Faltava muito. Ainda bem que a bola deu certo, porque não gostava de estudar.Estadão -Nos momentos de lazer e nas entrevistas, você mostra que se preocupa com a imagem. Você é vaidoso?Lucas Lima -Gosto de me vestir bem e me cuidar. Gosto de roupas de estilo.Estadão -Você se incomoda com as comparações com o David Beckham?Lucas Lima -Não. Ele é meu ídolo. Fiz uma tatuagem na nuca inspirada numa que ele tem. A imagem é importante para o jogador sempre estamos na televisão. Estadão -Beckham é uma inspiração para dentro de campo também?Lucas Lima -Sim, é um grande jogador. Como cobrador de faltas, era excelente. Estadão -Qual é o seu ponto forte hoje?Lucas Lima -Procuro ser um jogador dinâmico. Ao mesmo em que estou atacando, procuro estar pronto para defender também. Além disso, tenho um bom passe, bom lançamento. Estadão -Como você pode melhorar?Lucas Lima -Acho que tenho de aparecer mais na cara do gol. Posso fazer mais gols. Quero dar um pouco mais de profundidade ao meu jogo. Estadão -Por que o Brasil tem poucos meias de qualidade?Lucas Lima -O problema principal é o treinamento da base. Falta uma orientação desde as escolinhas. Sempre busquei e gostei de armar o jogo, dar a assistência. Em muitas vezes, deixei o gol em segundo plano. Existem muitas formas de ajudar o time, além do gol. Estadão -Você fala tem facilidade para se expressar. Gosta de ler?Lucas Lima -Eu leio pouco. Leio mais a Bíblia (é evangélico). Até tento ler os outros livros, mas acabo esquecendo e trocando o livro pelo videogame. Acompanho as notícias também pela internet. Claro que é bom sempre ler alguma coisa para melhorar, mas não tenho o hábito de ler todos os dias. Estadão -Gosta de política?Lucas Lima -Até um certo ponto. Não sou aquele cara que vai atrás e procura saber de tudo o que acontece. Mas temos de nos interessar pelo Brasil e fazer nosso papel como cidadão. Estadão -Como cidadão, o que acha da situação do País hoje?Lucas Lima -É difícil viver no Brasil. Hoje, nós, jogadores de futebol, temos uma condição muito boa, mas sabemos que não é assim com todo mundo. Tem muita pobreza no Brasil, isso é fácil de ver. Estadão -Qual seria a solução?Lucas Lima -Diminuir as diferenças que existem entre pobres e ricos. Acho que uma saída seria aumentar o número de emprego. O governo precisa dar oportunidades para todo mundo, não só para alguns.

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