Os campeonatos estavam quentes. A não ser pelo domínio da Brawn de 2009 e da Red Bull em 2011, cinco dos últimos sete títulos haviam sido decididos na última etapa — e com altas doses de emoção. Afinal, quem não se lembra da antológica final em Interlagos de 2008, com Lewis Hamilton fazendo a ultrapassagem que lhe deixaria um ponto à frente de Felipe Massa na última volta da última curva?
Mas a Fórmula 1 precisava de tempero: as corridas eram mornas demais e os vencedores sempre saíam das três primeiras filas do grid. Na verdade, de 2007 a 2010, a única vez que isso não aconteceu foi no Grande Prêmio de Cingapura de 2008, um vitória comprovadamente manipulada de Fernando Alonso.
A grande reclamação era em relação à falta de ultrapassagens. Afinal, os carros tinham se desenvolvido a tal ponto que não funcionavam direito quando seguiam um ao outro. Em 2009, um grande pacote de mudanças foi adotado, mas logo os engenheiros encontraram saídas de neutralizar as modificações.
Até que o GP do Canadá de 2010, em que problemas no asfalto e compostos demasiadamente macios geraram disputas do começo ao fim, deu uma luz: e se os pneus durassem menos? Com uma nova fornecedora de pneus para o ano seguinte, a Pirelli, a categoria tinha o desafio de mexer nas corridas sem perder a mão e gerar resultados de loteria.
Para melhorar ainda mais o 'show', entrou em cena o DRS, sistema que diminui a pressão aerodinâmica — aquela que dificulta um carro seguir o outro de perto — nas retas.
Pouco mais de dois anos depois, os números de ultrapassagem triplicaram e as corridas ficaram tão movimentadas que chegam a incomodar alguns. Os pilotos — geralmente os que não têm um bom resultado — saem dos carros reclamando que não podem acelerar tudo o que queriam e narram ultrapassagens fáceis demais. E muitos fãs reclamam que, agora, não vencem os mais rápidos, mas sim quem poupar mais os pneus.
Isso não é real. Assim como o melhor jogador no futebol é aquele que muda sua forma de atuar para escapar de uma marcação mais forte, o grande piloto é o que melhor se adapta. E na tabela do campeonato, o que vemos são os quatro melhores pilotos da atualidade, Vettel, Raikkonen, Hamilton e Alonso, três deles campeões com outros regulamentos.
Às vezes, as zonas de uso da DRS foram longas demais, facilitando em demasia as ultrapassagens. Em outros casos, os pneus se degradavam muito rápido, é verdade. Mas o que parecia impossível há três anos virou realidade: as corridas são malucas, porém, não virou loteria.