Um livro de 360 páginas, com lançamento marcado para o próximo dia 26, no Tênis Clube, resgata capítulos nebulosos da primeira epidemia de febre amarela que, no final do século 19, quase fez a cidade desaparecer do mapa. O "Ovo da Serpente – Campinas/1889" foi escrito por Jorge Alves de Lima, de 76 anos, advogado e ex-procurador da Prefeitura que hoje ocupa a presidência do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas (IHGGC).Ao longo de dois anos, Jorge anotou pacientemente, a mão, episódios curiosos que encontrava em livros, artigos, cartas, atas e reportagens. A Campinas da época era uma cidade poderosa, com agricultura forte e fábricas brotando. A chegada da ferrovia, o impulso do milionário ciclo cafeeiro e a migração intensa já faziam dela a cidade mais importante do Interior. Mas a epidemia, que provocou a morte de quase 2 mil cidadãos, mudou a história. Um número absurdo, para uma época em que a cidade tinha pouco mais de 10 mil moradores.Resgatar a históriaO autor, caprichosamente, procura trazer capítulos obscuros da história de Campinas que as novas gerações desconhecem. Existe, claro, o culto a cidadãos altruístas, como médicos e religiosos que permaneceram na cidade, enquanto muita gente poderosa simplesmente fugia. Heróis que perderam a vida em benefício dos semelhantes. Mas o autor lembra, também, das brigas políticas, das manobras interesseiras e das atitudes covardes que marcaram o comportamento de cidadãos ilustres.Quando Lima se propôs a abraçar a missão, ele descobriu que a saga exigia muito mais que um volume. E decidiu focar, neste livro, apenas nos acontecimentos marcantes do primeiro (e mais aterrorizante) surto da doença. Ele pretende, ainda, escrever sobre os surtos seguintes e mostrar como a cidade, aos poucos, se reorganizou e se reconstruiu.O livro, que será lançado pela Editora Arte Escrita (360 páginas, R$ 50,00), tem um texto emocionado, daqueles que conseguem remeter o leitor àquele tempo, como se a cidadezinha doente e arrasada se esparramasse hoje diante dos seus olhos. Depoimentos extraídos de livros históricos contam que as famílias rodeavam as vítimas em seus leitos de morte, em cenários sepulcrais. Os hospitais estavam lotados. E quem não tinha dinheiro para fugir, passava fome.SocorroPara se livrar da doença, Campinas contou com o socorro estratégico de verbas do governo paulista. O autor, durante as pesquisas, encontrou no Museu Republicano de Itu documentos raríssimos, nos quais o então presidente da província, o Barão de Jaguara, reivindicava da Assembleia Legislativa a aprovação de um repasse emergencial de verbas à cidade, para que pudessem ser implementadas obras estratégicas de saneamento básico. Na ocasião, a Câmara de Campinas, presidida por José Paulino, reivindicava 2 mil contos de réis para obras.É que os terrenos baixos da cidade (como a gleba da atual Praça Carlos Gomes) eram imensos brejos com água acumulada e esgoto despejado. A inauguração do Desinfectório Central, a instalação de canais para córregos e as obras de saneamento fizeram a cidade renascer.