Nas últimas colunas, vimos alguns detalhes sobre o emprego da segunda pessoa do plural (“vós”) “clássica”. É sempre bom repetir que, na língua viva de hoje, essa forma está sepultada, mas isso não equivale a dizer que o seu estudo deve ser sumariamente extinto etc. O leitor pleno é aquele capaz de trafegar pelo maior número possível de variedades da mesma língua, o que vai do gibi à constituição (e vice-versa), do rap às pregações de Vieira (e vice-versa) etc. Tive de pôr o “e vice-versa” porque, se não o fizesse, algum chato de plantão (desses falsos defensores dos fracos e oprimidos) certamente diria que o meu arco vai do... Bem, deixemos para lá essas pobres almas.Vamos lá, então. Não custa repetir a formação do imperativo afirmativo “clássico”: as duas segundas pessoas (“tu” e “vós”) vêm do presente do indicativo, sem o “s” final; as demais (“você” ou “senhor/a”, “nós” e “vocês” ou “senhores/as”) vêm do presente do subjuntivo, sem nenhuma alteração. Em “Vinde a mim”, por exemplo, temos “vinde”, que é a segunda pessoa do plural do imperativo afirmativo do verbo “vir”. Essa forma resulta da eliminação do “s” final de “vindes” (“vós vindes”, do presente do indicativo do verbo “vir”). Outro exemplo conhecido é “Tende piedade de nós!”, em que ocorre a forma “tende”, da segunda do plural do imperativo afirmativo de “ter”. “Tende” resulta da eliminação do “s” de “tendes” (“vós tendes”, do presente do indicativo do verbo “ter”).Convém lembrar que apenas um verbo não segue completamente o sistema de formação do imperativo afirmativo culto. Sabe qual é? É o verbo “ser”. Na segunda do singular, temos “sê”, que se encontra, por exemplo, neste trecho de Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro (...) sê todo em cada coisa”. Na segunda do plural, temos “sede” (“Sede vós o tesouro da minha avareza febril, / Sede vós os frutos da árvore da minha imaginação”, escreveu Álvaro de Campos, outro heterônimo de Fernando Pessoa).Pois bem, vamos ao lado oposto, ou seja, ao imperativo negativo, que, obviamente, é empregado quando se quer dar ordem negativa, quando se quer mandar não fazer. Em sua forma “clássica”, o imperativo negativo é cópia fiel do presente do subjuntivo. Tomemos como exemplo o verbo “ser”, em cujo presente do subjuntivo encontramos estas formas: “que eu seja, que tu sejas, que ele seja, que nós sejamos, que vós sejais, que eles sejam”. Para construir o imperativo negativo, basta “esquecer” a primeira do singular (“eu”), que obviamente não se usa no imperativo. Temos, portanto, estas formas: “não sejas (tu), não seja (você ou senhor/a), não sejamos (nós), não sejais (vós), não sejam (vocês ou senhores/as)”. No imperativo negativo, todos os verbos da língua portuguesa seguem esse procedimento. Não há exceção.