Não é por acaso o evidente descrédito da sociedade em suas instituições. A crescente violência, a leniência do Judiciário que alimenta a impunidade, a corrupção que grassa em todos os níveis do Legislativo, governos que não conseguem prover os direitos elementares da população, desperdício de recursos em casos de improbidade administrativa, tudo leva a uma análise pessimista que alimenta o desânimo e a descrença em mudanças.A violência crescente e a incapacidade de governos proverem um aparato de segurança eficaz têm levado as pessoas a buscarem formas alternativas de proteção. Aí florescem os equipamentos de vigilância e segurança patrimonial, as empresas de vigilantes, os expedientes extras de policiais militares, e, em desesperada versão, as milícias contratadas para atuar em polos de violência mais grave, como nas favelas do Rio ou zonas reconhecidas como de alto risco em qualquer cidade.Agora, começam a surgir com preocupante frequência casos de linchamentos de bandidos em locais públicos. Em algumas situações, sabe-se que são exposições de vítimas dos próprios criminosos, que pretendem fazer cruéis demonstrações de poder e mandar recados de intimidação. Mas percebe-se um ímpeto de justiça feita pelas próprias mãos por comunidades esgotadas com os abusos e ataques de criminosos, geralmente ladrões ordinários que são reincidentes e até conhecidos pelas vítimas.Fica evidenciado um claro esgotamento da sociedade em relação ao crime. Descrente da proteção policial, certa de que os bandidos não cumprirão pena que os afaste da comunidade, desejosa de vingança, a população traz para si a responsabilidade de justiçamento cruel e sumário, dando a demonstração de descontrole e desequilíbrio institucional. O anonimato protegido pela ação de massas ou mesmo pela omissão das testemunhas tem criado o revés da moeda da violência, com pessoas comuns se transformando em criminosos, ainda que tolerantemente avalizadas pelo vago senso de autodefesa.É a declaração explícita de rompimento com as instituições, a implantação da lei de talião, todos se confundindo como criminosos, embora em escalas diferentes. Se a punição exemplar de bandidos em praça pública representa alguma forma de reação inconformada da sociedade, ainda assim não pode ser tolerada. Cabe às autoridades oferecerem prontamente as respostas esperadas, sob a pena do descrédito total marcado pela desesperança.