Coluna publicada na edição de 28/2/18 do Correio Popular
A Conmebol anunciou na semana passada que a partir de 2019 a Libertadores passará a ter sua final disputada em jogo único, nos mesmos moldes da Liga dos Campeões. O palco da final será anunciado com antecedência e a organização ficará por conta da Conmebol, sem despesas para os clubes. A previsão é de que cada finalista receba um prêmio de R$ 6,5 milhões e mais 25% da renda. A Conmebol vai copiar outros detalhes da final da Champions: a partida também será realizada em um sábado, em horário nobre. Eu não tenho a menor dúvida de que o futebol sul-americano tem muito a aprender com o europeu.Muitas coisas que funcionam bem por lá podem e devem ser copiadas. Mas, na minha opinião, final em jogo único não é uma delas. A primeira questão é logística. Na Europa, é muito mais fácil se deslocar de um país a outro. As viagens para as principais capitais europeias são bem mais fáceis, rápidas e baratas do que qualquer deslocamento entre países sul-americanos. Assim, as finais da Champions sempre contam com um grande número de torcedores dos dois finalistas, além dos fãs da cidade-sede e de tantos outros lugares do planeta. A final da Champions atrai torcedores de qualquer lugar, de qualquer time. Isso vai acontecer na Libertadores? Mas o fato de ser mais caro e difícil para o torcedor sul-americano chegar a qualquer capital do continente não é o maior problema de uma final em jogo único. Na Champions, a chance de que os clubes finalistas sejam atrações mundiais é bem superior a 90%. Todo mundo deseja ver uma decisão com times como Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Bayern, Juventus e outros gigantes. Também é preciso levar em consideração que esses clubes se enfrentam nos melhores estádios e arenas do mundo. E na América do Sul? Quantas pessoas estariam dispostas a viajar a outro país para ver uma decisão com Lanús, Independiente del Valle, Tigres ou Chivas? O apelo é bem menor, sem dúvida. E, apesar da tradição, o Defensores del Chaco seria, por si só, uma atração ao público? A Libertadores certamente terá grandes finais disputadas em partida única. Em muitas edições, o torneio terá finalistas tradicionais, bons jogadores, duelos emocionantes e atmosfera eletrizante. Mas a Conmebol correrá sempre o risco de promover um “grande evento” com times de pouco apelo, em um estádio com poucos atrativos e muitos lugares vazios.